PET Ciências Biológicas – UFV

Biologia em Foco

Viçosa, outubro de 2008 * Nº56

    Vila Gianetti, 30*(31) 3899-2295*www.ufv.br/petbio*petbio@ufv.br

Prof. Lino Neto; Prof. Lucio Campos; Carla Oliveira; Étori Aguiar; Felipe Prado; Fernanda Martinelli; Francisco Castanon; Guilherme Carvalho; Jansen de Souza; Juliana Benevenuto; Lucas Dornelas; Lucas Lopes; Marcela Cristine; Marcelo Vaz; Tarcísio Duarte; Tatiana Rigamonte; Vitor Fernandes.

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  Georgino Júnior

Professor da UFMG

 

Sem que se possa perceber direito a Bossa-Nova completa cinqüenta anos de existência. Vida longa, pois, à Bossa-Nova.

Nas muitas autobiografias e nas biografias que consegui reunir nos últimos anos, (quase todos revelando a vida de ilustres artistas que foram nossos contemporâneos) , desde um Tom Jobim, um Vinícius, um Henfil, passando por Grande Otelo, Adoniran Barbosa, Nelson Rodrigues, por Cacilda Becker chegando até ao Tim Maia, (fora outras preciosidades historiográficas escritas por Sérgio Cabral e por Ruy Castro), a confissão é unânime:todos os grandes personagens que tiveram atuação destacada na cultura brasileira, nos últimos cinqüenta anos, se lembram do momento exato em que

Fonte:http://images.google.com.br/imgres?

ouviram, pela primeira vez, a música “Chega de Saudade” cantada por João Gilberto no início dos anos 60 do século passado.

Eu que sou apenas uma pessoa comum, do povo, também me lembro.

De repente, saído da infância e entrando na adolescência, com o supremo objetivo de devorar todos os milhares de livros da biblioteca paterna (além de almejar, secretamente, a sucessão de Djalma Santos na lateral-direita da seleção brasileira de futebol) fiquei paralisado com a batida daquele violão e com aquela voz diferente, intimista, pequena e moderna, quase sussurrante que saía da emissora que eu sintonizava. Acho que foi num dia de semana, à tarde. Naquele instante, o rádio me apresentou a música popular brasileira chegando à sua modernidade.

Mesmo beatlemaníaco, ligado às canções líricas e italianas de Peppino di Caprio, me rendi imediatamente à grande novidade.

Finalmente podia cantar músicas nacionais de uma forma diferente da que minha mãe cantava, ela que gostava tanto das vozes poderosas de Carlos Galhardo, de Orlando Silva e de Nelson Gonçalves. Músicas que não eram mais associadas ao baixo-astral, nem à noite com os seus dramas, com os seus abandonos e com as suas mulheres pecadoras que atraíam os desejos de vingança de Lupiscínio Rodrigues. A música que eu encontrava na voz de João Gilberto era jovem, diurna, aventureira, cheia de azuis e de barquinhos, com uma inconfundível claridade solar.

Só no final dos anos 60, (graças à Tropicália de Caetano Veloso e aos festivais universitários da canção) a gente descobriu que as músicas de dor-de-cotovelo dos nossos pais e que a gente passou a renegar eram tão importantes como a própria Bossa-Nova. Tudo numa geléia geral: dependia do jeito que se cantava, de quem é que cantava e da batida de um suave violão, dissonante e insuspeito.

Nesses cinqüenta anos, a Bossa-Nova superou a ditadura com seus milicos e com suas metralhadoras. Resistiu a todos os movimentos musicais modernosos e momentâneos que lhe sucederam a partir de então. Hoje, é a música brasileira mais ouvida no mundo, principalmente nos estêites e no Japão.

Agora em que o sexo frágil (frágil?, pois sim!) comemora até um certo Dia Internacional da Mulher é bom que as feministas fiquem atentas e ouçam direito as letras das músicas da Bossa-Nova.

Muitos de nós, homens, que crescemos embalados por aquelas músicas e por aquelas letras, não queremos confrontação. Nada contra o belo sexo, pelo contrário.

O que a gente quer, no fundo, é um cantinho e um violão, pra fazer feliz a quem se ama. A gente quer ver a onda que se ergueu no mar. Quer cantar um sambinha de uma nota só. Fotografar a mulher na nossa Rolleyflex. Afinal, minha senhora e meus amores, a tardinha cai, o barquinho vai e no peito dos desafinados também bate um coração.
 

 

 * texto publicado com autorização.