PET Ciências Biológicas – UFV

Biologia em Foco

Viçosa, dezembro de 2005 * Nº43

    Vila Gianetti, 30*(31) 3899-2295*www.ufv.br/petbio*petbio@ufv.br

Prof. Lucio Campos; Amanda Miranda; Carla Oliveira; Étori Aguiar; Evelyze Pinheiro; Karine Freitas; Mário Moura; Odair Campos;

Paula São Thiago; Pedro Eisenlohr; Ricardo Solar; Rômulo Areal; Swiany Lima; Tatiana Rigamonte; Vitor Fernandes.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Artigos

 

Bombeiros em Chantilly, sul de Paris

 

 

cannabis

 

 

 

 

 

 

 

Sugestões

 

 

Liberté, Egalité, Fraternité

 

  Crônica

 

 

 

 

 

 

    

 

  Eventos

 

  Notícia

 

 

 Outras edições

 

 

 

 

 Seção do leitor

 Todos os artigos

 

Os fatos dos últimos complicados meses vividos pela França têm gerado mal-estar não apenas na Europa, mas por todo o mundo. Mais uma vez, na história do país, o povo levanta-se contra o governo e exige soluções. É extremamente interessante analisar-se a situação atual relacionando-a com um evento passado de implicações globais: a Revolução Francesa.

A Revolução, cujos acontecimentos abrangem de maio a novembro de 1789, resultou na alteração do quadro político e social da França. Entre as causas apontadas, estavam o Antigo Regime e os privilégios invejáveis  do  clero  e  da  nobreza.  Sustentou-se   nos

 

Bombeiros em Chantilly, sul de Paris

                                    Fonte:www.bbc.co.uk/portuguese

ideais iluministas e na Independência Americana de 1776 (vejam que nós, brasileiros, não somos os únicos influenciados pelos amigos do norte – consolo?).

A situação social era tão grave e o nível de insatisfação popular tão grande que o povo foi às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do governo a monarquia comandada pelo rei Luís XVI. O primeiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda da Bastilha em 14/07/1789 representou o início do processo revolucionário.

A Revolução serviu como marco do início da Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e proclamou ao mundo os princípios de Liberdade, Igualdade e Fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité).

Temendo a fúria das manifestações populares, em 26 de agosto de 1789 é divulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com o fim de aliviar as pressões do povo. Na Declaração, defendia-se o direito de todos à liberdade, à propriedade, à igualdade. Claro, direito à igualdade jurídica, não social ou econômica.

Após a queda, a Bastilha não foi reconstruída, como se sabe. Porém, se tivesse sido, provavelmente já teríamos assistido a seu segundo desmoronamento.

É que os anos se passaram, vieram guerras e independências, o mundo cada vez mais urbano e industrial. Primeira e segunda guerras mundiais. Fim da década de 40, a França solicita trabalhadores estrangeiros e instala-os... bom... digamos que na periferia, provisoriamente. Eles se habituam e seus descendentes – franceses – herdam as condições desiguais de trabalho.

O tempo passa (por tradição?). Eis-nos aqui. E os tais descendentes lá, provisoriamente, claro. Mas, hoje em dia, parece que eles se sentem mais estrangeiros que seus pais, embora franceses por nascimento.

Na periferia da capital, Paris, os enormes conjuntos habitacionais abrigam minorias étnicas marcadas pela discriminação, exclusão e falta de oportunidades. O isolamento social criou uma verdadeira “bomba-relógio”, cuja explosão tem espalhado seus efeitos pela Europa.

Em agosto a revolta popular se intensificou, gerando uma onda crescente de violência com a morte acidental de dois adolescentes de origem africana na região de Clichy-sous-Bois, periferia de Paris. Bouna Traore, de 15 anos, era filho de imigrantes vindos do Mali. A família do outro jovem, Zyed Benna, de 17 anos, tem origem na Tunísia. Ambos morreram eletrocutados em uma sub-estação de energia ao tentarem se esconder de uma suposta perseguição policial, negada pelas autoridades.

Desde então, os confrontos entre jovens dos subúrbios pobres e a polícia vêm ganhando terreno a cada noite, expondo um óbvio fracasso de sucessivos governos em lidar com os problemas sociais dos subúrbios pobres, habitados majoritariamente por imigrantes africanos vindos das ex-colônias da França na África, como afirmou o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy.

Além dos incêndios a garagens de ônibus, escolas e armazéns e dos conflitos com a polícia, o que tem assustado as autoridades francesas é o grande número de menores de idade entre os jovens detidos – cerca da metade. A idade média dos garotos presos é de 16 anos, segundo a polícia francesa, e a maioria é de descendência africana e árabe.

Qual seria o motivo de tão grande envolvimento de menores nos atos de vandalismo? Eles ainda não passaram por discriminações no mercado de trabalho, como ocorre com pessoas originárias de países do Magreb (Argélia, Marrocos, Tunísia) e do restante da África que vivem nos subúrbios da capital francesa, onde a taxa de desemprego é de 21%, o dobro da média nacional. Entre os jovens desses subúrbios, o desemprego chega até a 40%.

Nem mesmo as escolas dessas periferias funcionam como um elemento de integração social, disse Imed Midouni, responsável do centro educativo Trampolim para a Inserção, em Val de Marne, na periferia de Paris. "Nas escolas dessas zonas urbanas sensíveis não há nenhum mix social e cultural. As crianças e jovens só convivem com pessoas que também são de origem imigrante. Tudo é propício para a criação de guetos", diz ele.

A violência é gerada pelo sentimento de injustiça e pela falta de perspectiva para o futuro. De acordo com outra fonte oficial, o Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos, a taxa de desemprego de pessoas que cursaram a universidade é de apenas 5%. Mas no caso de diplomados de origem do norte da o índice atinge 26,5%.

"A violência que ocorre atualmente na periferia de Paris é a expressão de um certo desespero, de cólera, de raiva e de um sentimento de injustiça", diz o sociólogo Michel Wieviorka, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e um dos maiores especialistas franceses em violência urbana.

A onda de revolta tem durado e se alastrado para os outros subúrbios da região e do país, trazendo à tona o debate sobre a política de integração social na França. Embora o governo tenha afirmado estar cumprindo seu papel, vê-se claramente que as ações não têm sido satisfatórias.

Seine-Saint-Denis, onde predominam comunidades de imigrantes; Dijon, no leste da França; Seine-Maritime, no oeste; Bouches-du-Rhone, no sul do país; Essonne, ao sul da capital francesa; Toulouse, no sudoeste; Lille; Marselha; Nantes e Rennes já foram “contaminadas” pela raiva coletiva.

Países próximos também têm sofrido influência, com a ocorrência de incidentes similares na Bélgica, Grécia e Alemanha, embora os governantes afirmem que não se trata da mesma situação.

A cidade de Amiens, no norte da França, foi a primeira a colocar em prática os poderes emergenciais aprovados pelo gabinete francês, declarando um toque de recolher para menores de 16 anos desacompanhados e que estará em vigor das 22h às 6h.

Os poderes emergenciais foram concedidos de acordo com uma lei de 1955, originalmente aprovada para combater a violência na Argélia durante a guerra de independência (1954-1962). Esta é a primeira vez que tais poderes são aplicados para o próprio território principal da França.

"O problema é a política pública de moradia na França, em um contexto de alta dos preços dos imóveis a partir dos anos 90. O acesso à moradia privada se tornou muito difícil para as populações com rendas modestas e em condições precárias de trabalho", diz Jean-Baptiste Eyraud, presidente da associação Direito à Moradia (Droit au Logement, DAL, em francês).

O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, prometeu elaborar até o fim de novembro um plano de ação para os subúrbios considerados difíceis.

Três comentários pertinentes:

1) É melhor se apressar, Dominique.

2) Ainda bem que não há mais Bastilhas.

3) Mas ainda há a gripe do frango.

 

 

Tatiana Alves Rigamonte

 

Referências:

- http://pt.wikipedia.org/

- http://www.bbc.co.uk/portuguese

- http://noticias.terra.com.br/mundo/