Arqueobactérias metanogênicas:

sem elas, estaríamos aqui hoje?

 

 

 

Lembram-se das arqueobactérias (Domínio Archaea), que compõem um dos três domínios dos seres vivos? Então, prepare-se para o que você vai ler: pesquisadores de Harvard realizaram um estudo que mostra que, sem elas, provavelmente não estaríamos aqui neste momento.

          

Os três domínios (Fonte: www4.d25.k12.id.us/ phs/biology/archaeamain.html)

 

Cerca de metade dos organismos deste grupo são metanogênicos, isto é, possuem habilidade de produzir grandes quantidades de gás metano. Acredita-se que estes organismos anaeróbicos reinaram supremos durante os primeiros 2 bilhões de anos da história da Terra, e o efeito estufa que produziram teve conseqüências profundas sobre o clima do planeta.

Simulações em computador revelaram que o gás metano pode ter

      

durado  até  10  mil  anos   num   mundo   sem

oxigênio.

O papel principal do metano na atmosfera terrestre pode ter começado praticamente junto com o aparecimento da vida, há 3,5 bilhões de anos. Esse gás, juntamente com outro gás-estufa abundante, o dióxido de carbono dos vulcões, teria aquecido a superfície do planeta, aprisionando o calor da Terra e permitindo, ao mesmo tempo, a passagem da luz solar. Uma estufa úmida é o ambiente preferido de muitos organismos metanogênicos. Isto que significa que, quanto mais quente o mundo, mais metano eles teriam produzido, suposição esta que teria como conseqüência o aumento da temperatura global do planeta. Em seu auge, estes microrganismos teriam gerado metano suficiente para deter um congelamento mundial. Naquela época, o sol era consideravelmente menos brilhante do que hoje, de modo que o efeito estufa provocado pelo metano poderia ter sido exatamente o que o planeta necessitava para se manter aquecido.

Entretanto, um leitor atento como você deve ter percebido um problema em tal suposição: a produção de gás metano não poderia aumentar indefinidamente, pois do contrário não estaríamos aqui redigindo este informativo e você, lendo-o, certo? Certo. Os cientistas de Harvard, então, trataram de propor uma solução. Um clima mais quente poderia ter intensificado o ciclo da água e aumentado a erosão de rochas nos continentes, o que teria levado a uma retirada progressiva de dióxido de carbono da atmosfera. Caindo as concentrações de CO2 e aumentando as do metano, chegaria um ponto

 

 

em que os dois gases se equivaleriam, em

aproximação. Nestas condições, acredita-se que o metano teria mudado seu comportamento dramaticamente, evitando assim, que a Terra pudesse tornar-se um planeta inabitável para a maioria dos seres vivos. Esta mudança envolveria a união do metano com hidrocarbonetos complexos, que se condensavam para formar névoas de poeira. Uma destas névoas em altitudes elevadas teria reduzido o efeito estufa ao absorver a faixa visível da luz solar e irradiá-la de volta para o espaço; com uma temperatura mais baixa, boa parte das bactérias metanogênicas não conseguiria sobreviver.

E como explicar as grandes eras glaciais de mais de 1 bilhão de anos atrás? É provável que as arqueobactérias metanogênicas tenham reinado soberanas por longos anos, mas à medida que a concentração de oxigênio foi tornando-se progressivamente maior, com o surgimento de organismos autotróficos, esses microrganismos passaram a ter problemas para sobreviver. Com isso, a concentração do metano teria caído drasticamente e o planeta teria sido inteiramente congelado. Entretanto, a taxa pela qual o metano escapava dos mares para a atmosfera, naquela época, poderia ter sido até dez vezes superior à atual, e a concentração do metano na atmosfera poderia ter sido de até 100 ppm. Isto explicaria, enfim, o fato da Terra não ter entrado em uma era glacial permanente.

 

Pedro Eisenlohr           

          Fontes: Scientific American Brasil, setembro/2004, p. 38-45 e Pelczar, M. Microbiologia: Conceitos e Aplicações, v. 1, 1997.