Fatores envolvidos no comportamento suicida:

um estudo junto à população de Campinas, SP

 

Foi realizado um estudo na cidade de Campinas, SP, com o objetivo de se estimar níveis de ideação suicida (conjunto de pensamentos com o fim claro de por fim à vida) e identificar as razões e variáveis associadas a esta importante questão. O procedimento, que seguiu o padrão recomendado pela Organização Mundial de Saúde, consistiu de um inquérito domiciliar com quinhentos e quinze indivíduos com quatorze anos de idade ou mais, divididos em três estratos, selecionados aleatoriamente. O comportamento suicida foi avaliado utilizando as seguintes questões-chave: “Você já pensou seriamente em colocar um fim a sua vida?”, “Você já traçou um plano para realizar isto?”, “Você já tentou suicídio?”. Informações adicionadas foram coletadas sempre que necessário. Vinte entrevistadores (cinco estudantes de Medicina, duas enfermeiras, três psicólogos e dois nutricionistas) foram treinados. Ao final, 17,1% dos entrevistados mostraram tendência ao comportamento suicida; 4,8% traçaram planos para suicídio e 2,8% chegaram a tentar suicídio. O mais preocupante é que somente um terço daqueles que tentaram suicídio foram posteriormente tratados clinicamente.

As taxas de ideação suicida foram maiores entre mulheres, jovens e aqueles que vivem sozinhos. Pessoas que apresentam indicadores de  distúrbios  mentais  também   apresentaram

      Fonte: http://depressao.planetaclix.pt/

 

hipótese  de  que  a  natureza integrativa e coerciva de um grupo, e não necessariamente a condenação teológica, proporcione proteção a essa tendência. Os autores ressaltam que estes dados levantados merecem maior investigação.

Não foi encontrada correlação entre desemprego e ideação suicida, e o fato de que a ideação é mais comum entre indivíduos trabalhando meio-período é difícil ser interpretado. Tal relação está provavelmente ligada a um outro fator, não investigado.

Os estudos confirmaram a noção de que a ideação suicida está consistentemente correlacionada com indicadores de desordem mental ou distúrbios psicológicos.

Os autores ressaltam que nem sempre uma tendência preocupante está ligada a tentativas efetivas de suicídio. Tem sido verificado que pensamentos suicidas são seis vezes mais freqüente que as tentativas.

Os dados do presente trabalho estão de acordo com estudos realizados em países da Europa. Deve-se enfatizar, segundo os autores, que, devido à alta correlação verificada entre ideação suicida e indicadores de desordem mental, é recomendado um tratamento clínico de indivíduos com saúde mental comprometida incluindo investigação dos pensamentos e planos de suicídio.

 

taxas  maiores.  Não  foi   encontrada  nenhuma correlação entre status maritário e ideação suicida. No entanto, viver com amigos, sozinho ou parentes distantes obteve correlação significativa com a freqüência desse tipo de comportamento. O fato de viver com parentes próximos, principalmente com filhos, está relacionado a um maior senso de responsabilidade, e tal circunstância deve agir como um fator protetor.

Existe a percepção de que possuir uma religião possa ser um fator favorável contra esse tipo de comportamento. É notável que, em comparação com outras religiões, uma grande proporção de espíritas apresentaram ideação suicida. O espiritismo kardecista é uma das doutrinas que mais fortemente condenam o suicídio. O artigo  sugere   a

 

Pedro Eisenlohr

                                                                                 

FONTE: Botega et al. (2005) Suicidal behavior in the community: prevalence and factors associated with suicidal ideation. Revista Bras Psiquiatria, vol. 27, no 1, São Paulo, março de 2005