Análise da ancestralidade: um passo para a utópica ‘democracia racial’

 

   O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda utiliza o termo ‘raça’ como sinônimo de cor, ao obter a distribuição das cores de pele (branca, preta, amarela, parda, indígena) no Brasil, embora seu uso seja mais uma construção social e cultural do que biológica. A divisão em ‘raças’ somente contribuiu para dar origem ao racismo que, por sua vez, gera discriminação e o preconceito segregacionista.
Com a definição e o mapeamento do genoma humano, cientificamente não existem diferenças entre os homens, visto que pessoas de regiões diferentes não se diversificaram suficientemente para caracterizar raças em um sentido biológico. O homem se distribuiu geograficamente adquirindo características físicas (cor da pele, formato dos olhos, altura, pêlos) de acordo com o ambiente, não existindo, portanto, diferenças biológicas entre eles. Somos todos pertencentes à raça humana.
A discriminação e preconceito contra cor não são cabíveis a uma população bastante heterogênea como a brasileira, formada por diferentes linhagens ancestrais. O avanço das técnicas moleculares permite determinar a ancestralidade materna (matrilinhagem) e paterna (patrilinhagem). Isso pode ser feito por meio da análise dos haplogrupos (grupos de genes que são passados, na forma de blocos, inalterados - exceto por raras mudanças ocasionais no DNA - de geração em geração) contidos no cromossomo Y (transmitido do pai para os filhos homens) e DNA mitocondrial (passado da mãe para todos os  filhos),  respectivamente,  já  que
 

 

     

      Fonte:http://www.ac-grenoble.fr/espagnol/plc/fotos/racismoJPG.jpg

  

causadas por mutações ocorridas durante a evolução humana, originam polimorfismos , ou seja, diferentes haplogrupos que são bastante informativos para reconstruir a história genética de uma população, já que há uma relação entre eles e regiões geográficas específicas da terra. O haplogrupo é provindo de uma região na qual ele é o mais freqüente (o “haplótipo fundador”) ou porque é onde ele emergiu pela primeira vez (por mutação genética) ou por ser o local para onde indivíduos emigraram. Isso permite obter informações geográficas e históricas sobre as migrações humanas.
Um estudo recente (Pena, 2000) para se traçar o retrato molecular da população brasileira se baseou no DNA da população branca, majoritária, e revelou que a maioria (provavelmente mais de 90%) das patrilinhagens dos brancos brasileiros do país é originária da Europa, principalmente Portugal, enquanto a maioria (aproximadamente 60%) das matrilinhagens é de origem ameríndea ou africana. O conhecimento dos dados obtidos nesse trabalho demonstra que a cor não revela totalmente os ancestrais e que não há justificativa para que continuemos a conviver com o preconceito e a discriminação contra cor. O ideal seria que muitos brasileiros brancos, que possuem o DNA ameríndeo ou o africano, se conscientizassem disso e contribuíssem para se ter um ambiente mais harmônico e justo, ajudando, dessa forma, a construir a utópica ‘democracia racial’.

 

 

são bons marcadores nos estudos de linhagem.

   A informação contida nesses marcadores passa para a geração seguinte na forma de haplogrupos. Diferentes     combinações    de      variações     gênicas,

 

 

Evelyze Pinheiro dos Reis

                                                                                 

* Agradecimentos a Prof. Tânia Maria  Fernandes Salomão pelas  sugestões de idéias adicionais ao artigo.

 

Fontes:

 http://www.ibge.gov.br/censo/questionarios.shtm