Densidade Populacional de Dalbulus maidis e Sintomas Semelhantes ao Complexo Enfezamento em Cultivares de Milho na Safrinha.

   R. GONÇALVES,  J.C.C. GALVÃO, G.V. MIRANDA, E.C. SILVA, L.A. CORRÊA e M.C. PICANÇO

  Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia, CEP 36571-000. jgalvao@mail.ufv.br - APOIO: FAPEMIG

  Palavras-chave: milho, Dalbulus maidis, complexo enfezamento, safrinha

  RESUMO

O plantio de milho safrinha expõe a cultura do milho a condições distintas daquelas que predominam na safra normal. As doenças cujos patógenos são transmitidos por insetos, dentre elas o complexo enfezamento, assumem hoje especial importância, devido, à suscetibilidade dos híbridos de milho e aos prejuízos que podem causar à produção. Assim, é necessário conhecer o comportamento dos cultivares de milho e o manejo cultural a ser utilizado quando da ocorrência de tais doenças. Avaliou-se a densidade populacional da cigarrinha Dalbulus maidis e a incidência de sintomas semelhantes ao complexo enfezamento em cultivares de milho, nos Ensaios Nacionais de Milho Safrinha 1 e 2 com 42 cultivares cada. O delineamento experimental foi em látice 6x7 com três repetições. A parcela, aproveitada integramente, foi constituída de duas fileiras de cinco metros espaçadas de 0,9 m. A população de plantas foi de 50.000/ha. Foi avaliada, a população de cigarrinhas D.maidis aos 25 dias após a emergência do milho (DAE) e aos 40 DAE. A incidência dos sintomas do complexo enfezamento foi realizada no estádio de enchimento de grãos. Verificou-se a existência de um pico populacional de D. maidis aos 25 DAE. Não houve correlação entre a densidade populacional de D. maidis e a incidência dos sintomas semelhantes ao complexo enfezamento.

  INTRODUÇÃO

Os plantios de safrinha expõem a cultura do milho a condições climáticas distintas daquelas que predominam na safra normal. Essas diferentes condições climáticas podem ser favoráveis à ocorrência de determinadas doenças e podem, em alguns casos, interferir no desenvolvimento das plantas, aumentando a sua susceptibilidade às doenças (OLIVEIRA et al., 1998).

De acordo com WAQUIL et al.(1995), a incidência de doenças causadas na cultura do milho por patógenos transmitidos por insetos tem aumentado. Diante disso, as pesquisas têm sido direcionadas a este assunto, estudando o impacto de doenças na produção do milho.

As doenças cujos patógenos são transmitidos pela cigarrinha Dalbulus maidis (Homoptera: cicadellidae) formam o complexo enfezamento do milho que é causado pela presença, no floema das plantas, de organismos procariotos móveis denominados espiroplasmas e fitoplasmas, que podem infectar as plantas ao mesmo tempo. Com isto os sintomas são confusos dificultando a diagnose precisa (NAULT, 1980).

A cigarrinha do milho, ocorre em maiores populações no final do verão e no outono no milho safrinha (WAQUIL E FERNANDES, 1992).

Assim, é necessário conhecer o comportamento dos diferentes cultivares de milho e o manejo cultural a ser utilizado principalmente no que se refere à ocorrência de pragas e doenças.

Este trabalho teve como objetivo avaliar a densidade populacional da cigarrinha D. maidis e a incidência de sintomas semelhantes ao do complexo enfezamento em cultivares de milho na safrinha.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 Foram instalados dois ensaios de milho comum, compostos, cada um, de 42 cultivares oriundos do Ensaio Nacional de Milho “Safrinha 1 e 2”, coordenado pela EMBRAPA-CNPMS. Esses cultivares são procedentes de empresas públicas e privadas que participam da rede de ensaios de milho safrinha.

O delineamento experimental foi em látice 6 x 7 com três repetições. A parcela, aproveitada integralmente, foi constituída de duas fileiras de cinco metros espaçadas de 0,9 metros. A população de plantas foi de 50.000 por hectare.

Inicialmente, foi avaliada a população da cigarrinha (Dalbulus maidis) por meio da contagem de indivíduos adultos no interior do cartucho da planta, em dez plantas por parcela (BASTOS, 1999). Foram realizadas duas avaliações, a primeira aos 25 dias após a emergência do milho(DAE) e a segunda aos 40 DAE.

A incidência dos sintomas semelhantes ao complexo enfezamento foi realizada nos estádios de enchimento e maturação dos grãos. Foi contado o número de plantas que apresentavam os sintomas típicos do enfezamento pálido (presença de faixas esbranquiçadas na base das folhas próximo à inserção do colmo; encurtamento dos internódios; crescimento reduzido e aspecto raquítico) e do enfezamento vermelho (descoloração e o posterior avermelhamento da margem e do ápice das folhas, proliferação de espigas na planta e perfilhamento na base e nas axilas foliares), (HARRISON et al., 1996; OLIVEIRA et al., 1998).

O número de cigarrinhas adultas, nas duas épocas, nos dois ensaios, utilizou-se o GLIM 4, da Royal Statistical Society, London (CRAWLEY, 1993). Todas as variáveis foram consideradas sobre distribuição de Poisson. Com os erros de Poisson, a alteração da variância atribuída ao dado fator de distribuída assintoticamente como c2 (CRAWLEY, 1993). O número de plantas com sintomas semelhantes ao complexo enfezamento foram submetidos à análise de variância. No safrinha 1, aplicou-se o teste do c2 nas duas épocas de avaliação (25 e 40 DAE) e utilizou-se o híbrido P 3041 como padrão de acordo com DUDIENAS et al. (1997).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

             No Quadro 1, nota-se a existência de três híbridos (Dina 169, SHS 4050 e AG 9010) aos 25 DAE que diferem estatisticamente do P 3041, considerado padrão de resistência. As médias desses híbridos foram de 16, 20 e 15 cigarrinhas/planta, respectivamente. Aos 40 DAE não houve diferença significativa entre os híbridos, pelo teste do c2. Ao aplicar o teste de F na ANOVA encontrou-se a diferença entre as médias do número de cigarrinhas/planta aos 25 e 40 DAE. Aos 25 DAE a média geral dos tratamentos foi de 9 cigarrinhas/planta e aos 40 DAE, esta foi de aproximadamente 3 cigarrinhas/planta, indicando a existência de pico populacional da cigarrinha. 

Quanto aos sintomas semelhantes ao do complexo enfezamento, verificou-se que não houve diferença estatística entre elas, mas nota-se que há híbridos como o Agromen 3060 e Agromen 3150 que possuíram aproximadamente 50% de suas plantas com sintomas semelhantes ao complexo enfezamento. Por outro lado, híbridos com CO 34 e XB 7070 possuíram apenas 10% de suas plantas com sintomas. Por fim, não se verificou a correlação entre a densidade de cigarrinha e a incidência dos sintomas semelhantes ao enfezamento.   

              No safrinha 2 (Quadro 2), aplicou-se o teste do c2 nas duas épocas de avaliação e foi utilizado a menor média do híbrido comercial como padrão. Aos 25 DAE utilizou-se o C127 e aos 40 DAE foi o Master. Não houve diferença significativa entre os híbridos nas duas avaliações. Ao se aplicar o teste de F na ANOVA, encontrou-se a diferença entre a média do número de cigarrinhas/planta nos 25 e 40 DAE. Aos 25 DAE a média foi de 7 cigarrinhas/planta e aos 40 DAE, esta foi de 6 cigarrinhas/planta, confirmando a existência do pico populacional. Os sintomas semelhantes ao complexo enfezamento, foram diferentes para os híbridos, sendo que os que apresentam menor média Embrapa HT 47 e C 141 com  1 planta com sintoma/parcela. Dentre os que apresentaram maiores médias destacam o Agrisan 972 V e AS 523 com média de 3 plantas com sintomas/parcela. Também, não se verificou correlação entre a densidade de cigarrinhas e a incidência dos sintomas semelhantes ao complexo enfezamento.

 

CONCLUSÃO

        Existe pico populacional da cigarrinha Dalbulus maidis aos 25 dias.

                   

LITERATURA CITADA

  BASTOS, C. S. Sistemas de adubação em cultivo de milho exclusivo e consorciado com feijão, afetando a produção, estado nutricional e incidência de insetos fitófagos e inimigos naturais. Viçosa, MG: UFV, 1999. 117 p. Tese de Mestrado Fitotecnia – UNIVERSIDADE Federal de Viçosa, 1999. 

CRAWLEY, M. J. GLIM for ecologists Oxford: Black Well. Scientific publications, 1993 319p.    

DUDIENAS, C.; DUARTE, A.P.; PATERNIANI, M.E.A.G.Z.; RIBEIRO, J.L.; BIANCHINI, M.T.; KANTHACK, R.A.D.; de CASTRO, J.L; SILVEIRA, L.C.P.; DENUCCI, S.; SABINO JUNIOR, J.; BOLONHESI, D. e DE SORDI, G. Severidade de doenças no milho “safrinha” no Estado de São Paulo em 1996. In: SEMINÁRIO SOBRE O CULTIVO DE MILHO ‘SAFRINHA’, 4, Assis, 1997. Anais. Campinas, IAC/CDV, p.107-116, 1997.

HARRISON, N.A.; RICHARDSON, P.A. & TSAI, J.H. PCR assay for detection of the phytoplasma associated with maize bushy stunt disease. Plant Disease, v. 80, p. 263-269, 1996. 

NAULT, L.R. Maize bushy stunt and corn stunt: a compariason of disease symptoms, phatogen host ranges and vectors. Phytopathology, v. 70, p. 657-662, 1980.  

OLIVEIRA, E.; WAQUIL, J.M.; FERNANDES, F.T.; PAIVA, E.; RESENDE, R.O. e KITAJIMA, E.W. “Enfezamento Pálido” e “Enfezamento Vermelho” na cultura do milho no Brasil Central. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.23, p. 45-47, 1998.  

WAQUIL, J.M. e FERNANDES, F.T. Flutuação populacional da cigarrinha do milho Dalbulus maidis, no CNPMS. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, Porto Alegre, RS, p.68, 1992. 

WAQUIL, J.M.; OLIVEIRA, E.; PINTO, N.F.J.A.; FERNANDES, F.T. e  CORREIA, L.A. Viroses em milho – Incidência e efeito na produção. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 20, p. 292-293, 1995.

 

Tabela 1. Número médio de cigarrinhas D. maidis adultas/planta avaliados em duas épocas (25 e 40 DAE), média do número de cigarrinhas nas duas avaliações, número de plantas com sintomas/parcela  dos cultivares participantes do Ensaio Nacional de Milho “Safrinha 1”. 

CULTIVAR

25 DAE

40 DAE 

MÉDIA

SINT

DINA 769

16,00*

3,00

9,50

6,33

Agromen 3100

12,00 

2,33

7,17

6,66

CO 9560

8,67

1,33

5,00

13,33

AGX 3770

10,67

4,00

7,33

13,33

P 30 F 45

7,67

3,67

5,67

14,66

C 929

12,00

2,67

7,33

13,00

XB 8013

6,33

1,67

4,00

9,33

CO 34

11,33

1,67

6,50

4,66

Agromen 3060

10,67

0,67

5,67

21,33

CO 9804

10,00 

1,67

5,83

9,00

AGX 9790 

11,33

0,67

6,00

12,00

SHS 4050

20,00*

1,00

10,50

19,00

Agromen 2012

5,33

1,67

3,50

11,66

Agromen 3050

9,00 

1,33

5,17

12,33

C 811

9,00 

1,00

5,00

15,33

DINA 1000

6,00 

4,33

5,17

19,00

Hatã 3012

18,00

3,00

10,50

13,33

Hatã 3052

6,67

1,33

4,00

13,00

P 3041

1,33

2,67

2,00

12,00

AGX 6790

6,67

5,33

6,00

16,66

SHS 5050

7,33

4,33

5,83

13,33

CO 32

4,33 

3,67

4,00

13,66

Agromen 3150

6,00

2,00

4,00

23,00

Zeneca 8392

9,00

2,67

5,83

17,66

XB 7070

2,67

3,67

3,17

5,66

AG 9010

14,67*

4,67

9,67

9,66

C 806

9,00

8,00

8,50

12,00

P 3027

9,00

0,67

4,83

15,66

DINA 766

11,67

1,33

6,50

14,00

XB 4011

6,33

2,33

4,33

14,00

CO 2190

6,33

1,33

3,83

6,66

DINA 657

9,67

4,00

6,83

13,00

Hatã 3013

8,33

0

4,17

11,66

C 901

11,67

2,33

7,00

13,66

CX 3 A 18

8,67

3,33

6,00

18,33

XL 251

3,67

2,00

2,83

16,33

EXP 9654

4,33

2,00

3,17

9,33

EXP 9658

12,33

2,67

7,50

16,33

AGX 6742

13,00

8,33

10,67

11,00

Zeneca 8202

11,67

3,67

7,67

15,66

C 909

3,33

1,67

2,50

16,00

AGX 9552

4,33

3,67

4,00

14,66

Média

8,95 

2,67 

5,82

13,27

As médias seguidas, na linha por letras diferentes indicam a diferença estatística pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade e as médias seguidas por um * diferem estatisticamente das demais pelo teste de Qui-quadrado a 1% de probabilidade.

 

Tabela 2. Número médio de cigarrinhas D. maidis adultas/planta avaliados em duas épocas (25 e 40 DAE), média do número de cigarrinhas nas duas avaliações, número de plantas com sintomas/parcela  dos cultivares participantes do Ensaio Nacional de Milho “Safrinha 2”.    

CULTIVAR

25 DAE 

40 DAE

MÉDIA

SINT

AGX 2610

3,67

4,67

4,17

2,78 A

G 186 C

10,00

6,33

8,16

2,72 A

SHS 4040

5,67

7,67

6,67

2,09 B

AL 25/XIV

5,33

6,00

5,67

2,27 B

AGX 2790

5,00

8,67

6,83

3,01 A

Embrapa HT 47

7,00

7,00

7,00

1,38 C

OC 3121

7,00

2,67

4,83

2,85 A

OC 705

8,33

7,67

8,00

2,79 A

Zeneca 8501

10,00

7,33

8,67

2,37 B

P 3021

5,00

8,33

6,67

2,03 B

AL CG/4

4,67

2,00

3,33

2,34 B

AL 34/XV

5,67

5,67

5,67

2,28 B

R & G 03 E

7,00

12,00

9,50

2,87 A

Agrisan 972 V

6,00

5,67

5,83

3,38 A

Zeneca 84 E 86

9,00

5,67

7,33

2,02 B

AGX 5672

8,67

13,33

11,00

2,38 B

P 30 F 80

11,67

3,67

7,67

2,41 B

C 141

8,33

6,67

7,50

1,38 C

AS 523

4,33

7,33

5,83

3,03 A

Agrisan 952

7,33

6,33

6,83

2,92 A

OC 720

9,67

5,33

7,50

2,47 B

OC 3351

6,00

2,67

4,33

2,31 B

Exceler

7,00

3,00

5,00

2,15 B

Avant

7,67

2,67

5,17

2,61 A

Zeneca 84 E 36

9,00

5,00

7,00

2,88 A

AGX 5790

8,67

3,33

6,00

2,94 A

Embrapa HT 16 C

6,33

12,00

9,17

3,12 A

C 333 B

10,33

4,67

7,50

2,10 B

C 435

5,67

8,33

7,00

2,54 A

Embrapa HD 97544

7,33

6,67

7,00

2,28 B

AL 30/VII

6,67

6,67

6,67

2,57 A

G 176 C

6,00

10,33

8,17

2,58 A

AGX 1043

8,67

5,67

7,17

2,30 B

Master

8,00

1,33

4,67

2,44 B

AS 3466

4,33

6,00

5,17

2,80 A

Agrisan 974 V

10,33

3,67

7,00

2,77 A

Embrapa HD 97547

7,67

6,00

6,83

3,43 A

SHS 5060

7,00

7,00

7,00

3,34 A

AS 3477

8,33

4,67

6,50

2,87 A

C 127

4,00

6,00

5,00

2,67 A

C 447

7,33

6,33

6,83

3,02 A

C 333

11,67

7,33

9,50

2,18 B

Média

7,32 

6,17 

6,75

2,56

As médias seguidas, na coluna, por pelo menos uma letra não diferem entre si e as médias seguidas, na linha, por letras diferentes indicam diferença estatística, pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade.