Reação de Cultivares de Milho Pipoca à Helminthosporiose

G.V. MIRANDA, C. L. GODOY,   R.R. COIMBRA, J.C.C. GALVÃO, L.V. SOUZA e F.F. CANIATO

Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia, CEP 36571-000. Glauco@mail.ufv.br

Palavras-chave: milho pipoca, queima-das-folhas, Exserohilum turcicum, doença foliar, época de semeadura.

RESUMO

A queima-das-folhas ou helminthosporiose causada por Exserohilum turcicum (Pass.) Leonard & Suggs é o principal problema fitopatológico dos cultivares de milho-pipoca cultivados no País. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar as reações de nove populações de milho-pipoca a E. turcicum por meio de inoculação natural em quatro épocas de semeadura. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro ou três repetições. As parcelas foram constituídas de quatro ou duas linhas espaçadas de 0,9 m. Foram realizadas de três a cinco avaliações em 8 plantas por parcela a partir do florescimento com intervalo de 7 dias. Foi utilizada escala de notas de 1 a 5, correspondendo às porcentagens de área foliar afetada de 0 e 100%, respectivamente. Foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) e realizada a análise de variância. Os cultivares que em todas as semeaduras apresentaram-se nos grupos estatísticos com as menores reações à helminsthoporiose foram IAC 112, CMS 43, CMS 42, Branca, Beija-Flor e Rosa-clara diferindo do cultivar susceptível RS 20. No entanto, somente IAC 112 diferiu-se estatisticamente do cultivar mais suceptível em todas as épocas de semeadura. O CMS 42 e 43 apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível somente nas semeaduras realizadas em novembro e dezembro. Os cultivares Beija-flor e Branca apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível somente na semeadura de dezembro. Os cultivares Viçosa, Zélia e RS 20 mostraram-se suceptíveis. Concluiu-se que os cultivares apresentaram diferentes reações à helminthosporiose de acordo com a época de semeadura e nas semeaduras tardias são dispensáveis as últimas avaliações da severidade da doença.

 INTRODUÇÃO

A queima-das-folhas ou helminthosporiose causada por Exserohilum turcicum (Pass.) Leonard e Suggs é doença de ocorrência generalizada em todas as regiões produtoras de milho (Zea mays) do Brasil e se constitui no principal problema fitopatológico dos cultivares de milho-pipoca cultivadas no país (FROSI, 1991).

            Os primeiros sintomas podem ser facilmente identificados como pequenas lesões de forma quase oval e aquosas que aparecem nas folhas do milho. Estas desenvolvem-se em extensas lesões necróticas e fusiformes. De início aparecem nas folhas inferiores e continuam aumentando de tamanho e de número à medida que a planta se desenvolve, até que se apresente completamente queimada, numa forma muito característica (DE LEÓN, 1994).

A doença pode reduzir a produção e a qualidade de uma lavoura em áreas onde ocorrem alta umidade e moderada temperatura durante o ciclo do cultivo, principalmente quando a infecção coincide com a época de floração (ULLSTRUP, 1952 e SHURTLEEF, 1980). Além disso, a helminthosporiose influi na maior suscetibilidade dos tecidos às podridões do colmo causadas pelos fungos Diplodia sp. e Fusarium sp. (BALMER e PEREIRA, 1987). Estes fungos causam podridões somente em tecidos senescentes característicos de plantas de milho em final de ciclo ou estressadas, nos quais os teores dos carboidratos e das substâncias fungistáticas são baixos (FERNANDES e OLIVEIRA, 1997).

Devido às características peculiares da cultura, como porte da planta, extensão da área de plantio e a própria rentabilidade econômica, tem-se como medida mais viável para controle da doença o uso de resistência genética, pois o controle químico pode se mostrar viável apenas em campos de produção de sementes (GIANASI, 1996).

O objetivo deste trabalho foi avaliar as reações de nove populações de milho-pipoca a E. turcicum por meio de inoculação natural em quatro épocas de semeadura.

MATERIAL E MÉTODOS

Os ensaios foram instalados na Estação Experimental de Coimbra, pertencente à Universidade Federal de Viçosa em 15 de setembro, 15 de outubro e 15 de novembro de 1998.

Os cultivares de milho pipoca avaliados foram Beija-Flor, Branca, CMS-42, CMS-43, IAC-112 (comercial), Rosa Clara, RS-20 (comercial), Viçosa e Zélia (comercial).

Foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso. Cada parcela foi composta por 4 linhas de 4 metros de comprimento. O espaçamento entre fileiras foi de 0,90 metros. Nas parcelas,  a semeadura foi realizada em covas espaçadas de 0,25 metros, uma planta por cova, de forma que cada parcela ficasse com 64 plantas, constituindo uma população de 45.000 plantas/ha.

Foram realizadas, de três a cinco avaliações, em 8 plantas por parcela, a partir do florescimento com intervalo de 7 dias.

Foi utilizada a seguinte escala de notas (CIMMYT, 1985):

1 - ausência de sintomas;

2 – lesões esparsas nas folhas inferiores;

3 – até 50% das folhas com lesões, sendo severas em 25% das folhas inferiores;

4 - até 75% das folhas com lesões, sendo severas em 50% das folhas inferiores;

5 - até 100% das folhas com lesões, sendo severas em 75% das folhas inferiores;

 

Foi calculada a área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) e realizada a análise de variância com esta variável (CAMPBELL e MADDEN, 1990). As médias da AACPD foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

  

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se, no Quadro 1, as notas das quatro épocas de semeadura e as avaliações semanais para a reação à helminthosporiose.

 Na primeira época de semeadura (15 de setembro) e na primeira avaliação da doença os cultivares apresentaram notas próximas a 1. Na segunda avaliação  apresentaram nota média igual 1,8 e na última avaliação somente os cultivares CMS 43, IAC 112 e Rosa-clara apresentaram notas abaixo de 3.  As três avaliações mostraram baixas correlações entre si, variando de -0,21 a 0,58 mostrando a diferença de resposta dos cultivares na presença do inóculo.

Na segunda época de semeadura (15 de outubro), os cultivares apresentaram na primeira avaliação da doença notas próximas a 2, na segunda avaliação, média 3, sendo os cultivares com as menores reações à doença Beija-flor, Branca, CMS 43 e IAC 112. Na terceira e quarta avaliações, com médias de reação à doença dos cultivares semelhantes, persiste a tendência de menor reação à doença dos mesmos cultivares da segunda avaliação. Observa-se ainda que a segunda avaliação foi melhor para discriminar os cultivares, apresentando alta correlação com a primeira (0,87) e quarta (0,91) avaliações. Assim,  a quarta avaliação poderia ser dispensada pela semelhança dos resultados com a anterior.

Na terceira época de semeadura (15 de novembro), a primeira avaliação da doença apresentou média de 1,6 e o cultivar IAC 112 mostrou-se sem sintomas. Nas segunda e terceira avaliações, as médias de reações à doença foram próximas e com correlação de 0,88. Entre a quarta e quinta avaliações a correlação foi de 0,97, o que as torna dispensáveis. A terceira avaliação, apesar da média ser semelhante à da segunda, ainda discriminou os cultivares diferentemente da segunda avaliação como para o CMS 43.

Na quarta época de semeadura (15 de dezembro), as quatro primeiras avaliações discriminaram os cultivares e apresentaram correlações entre si acima de 0,90, com exceção entre a primeira e terceira avaliação (0,82). A quinta avaliação mostrou-se correlacionada a partir de 0,89 com todas as outras avaliações, sendo portanto dispensável. Novamente destacaram-se os cultivares IAC 112, CMS 43, CMS 42, Branca e Rosa-clara com as menores reações à helminthosporiose.

Em outros trabalhos, o cultivar RS 20 foi considerado suscetível, os cultivares CMS 42 e CMS 43 segregantes para a resistência e o híbrido SAM x Guarani, mesma origem de IAC 112, resistente (KAMIGOGA et al., 1991; SOARES et al, 1993).

Com base na área abaixo da curva do progresso da doença (AACPD), os cultivares apresentaram-se com diferentes reações à helminthosporiose nas semeaduras de setembro, novembro e dezembro e semelhantes em outubro. Os cultivares que em todas as semeaduras apresentaram-se nos grupos estatísticos com as menores reações à helminthosporiose foram IAC 112, CMS 43, CMS 42, Branca, Beija-Flor e Rosa-clara. No entanto, somente IAC 112 diferiu-se estatisticamente do cultivar mais suceptível em todas as semeaduras em que houve efeito das reações à helminthosporiose. O CMS 42 e 43 apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível somente nas semeaduras realizadas em novembro e dezembro. Os cultivares Beija-flor e Branca apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível (RS 20) somente na semeadura de dezembro. Os cultivares Viçosa e Zélia mostraram notas de reações semelhantes ao RS 20.

  

QUADRO 1 – Médias das notas de severidade da helminthosporiose por E. turcicum, avaliadas semanalmente em nove cultivares de milho pipoca e quatro épocas de semeadura  

 

 

 

 

Semanas

 

Avaliações

1

2

3

4

5

 

 

15 de setembro

 

Beija-flor

1,3

1,8

3,2

-

-

Branca

1,4

1,7

3,1 

-

-

CMS 42

1,2

2,0

3,3

-

-

CMS 43

1,1

1,7

2,7

-

-

IAC 112

1,6

1,4

2,4

-

-

Rosa Clara

1,1

2,0

2,9

-

-

RS 20

1,8

2,0

3,8

-

-

Viçosa

1,2

1,9

3,2

-

-

Zélia

1,3

1,7

3,7

-

-

Média

1,3

1,8

3,2

-

-

 

 

 

15 de outubro

 

 

Beija-flor

2,2

2,8

3,0

3,4

-

Branca

1,7

2,3

2,8

3,2

-

CMS 42

2,3

3,2

3,7

3,8

-

CMS 43

1,8

2,7

2,9

3,0

-

IAC 112

1,9

2,7

3,1

3,1

-

Rosa Clara

2,3

3,1

3,5

3,7

-

RS 20

2,5

3,8

4,6

4,6

-

Viçosa

2,4

3,0

3,3

3,6

-

Zélia

2,7

3,4

4,0

4,1

-

Média

2,2

3,0

3,4

3,6

-

 

 

 

15 de novembro

 

 

Beija-flor

1,5

2,1

2,3

2,4

2,8

Branca

1,5

2,1

2,3

2,6

2,9

CMS 42

1,4

2,2

2,5

2,6

2,8

CMS 43

1,4

1,9

2,4

2,5

2,6

IAC 112

1,0

2,0

2,0

2,2

2,3

Rosa Clara

1,7

2,4

2,3

2,3

2,7

RS 20

1,5

2,8

2,8

3,2

3,7

Viçosa

1,7

2,2

2,4

2,5

2,8

Zélia

2,1

3,0

3,2

3,5

3,8

Média

1,6

2,3

2,4

2,7

2,9

 

 

 

15 de dezembro

 

 

Beija-flor

2,0

2,1

2,2

3,0

3,2

Branca

1,7

2,1

2,5

2,9

3,0

CMS 42

1,8

2,0

2,3

2,9

2,9

CMS 43

1,5

1,9

2,0

2,6

2,6

IAC 112

1,3

1,8

1,9

2,1

2,3

Rosa Clara

1,8

2,2

2,5

3,2

3,2

RS 20

2.2

2,7

4,0

4,0

4,3

Viçosa

2,3

2,5

3,2

3,5

3,5

Zélia

2,2

2,6

3,9

4,1

4,1

Média

1,9

2,2

2,7

3,1

3,2

 

 QUADRO 2 – Médias da AACPD da severidade da helminthosporiose por E. turcicum em nove cultivares de milho pipoca e quatro épocas de semeadura

 

Épocas de semeadura

               15/9

15/10

15/11

15/12

IAC 112

24,20  b

CMS 43

56,66 a

IAC 112

50,75  b

IAC 112

54,32   c

CMS 43 

25,59 ab

IAC 112

59,57 a

CMS 42

60,67  b

CMS 43

60,81   c

Branca

28,16 ab

Beija-Flor

60,88 a

CMS 43

63,00  b

CMS 42

67,74  bc

Rosa-clara

28,44 ab

Viçosa

66,43 a

Beija-Flor

64,46 ab

Branca

69,93  bc

Beija-Flor

29,34 ab

Branca

68,04 a

Rosa-clara

66,14 ab 

Beija-Flor

70,80  bc

Viçosa

29,86 ab

Rosa-clara

68,11 a

Viçosa

66,43 ab

Rosa-clara

74,45  bc

Zélia

30,35 ab

CMS 42   

70,51 a

Branca

66,50 ab

Viçosa

85,03 ab 

CMS 42

30,43 ab

RS 20  

83,42 a

RS 20

75,00 ab

Zélia

97,06 a 

RS 20

33,88 a

Zélia

84,36 a

Zélia

90,20 a

RS 20  

99,10 a

 

CONCLUSÕES

Os cultivares que em todas as semeaduras apresentaram-se nos grupos estatísticos com as menores reações à helminsthoporiose foram IAC 112, CMS 43, CMS 42, Branca, Beija-Flor e Rosa-clara diferindo do cultivar susceptível RS 20. No entanto, somente IAC 112 diferiu-se estatisticamente do cultivar mais suceptível em todos as semeaduras em que houve efeito das reações à helminthosporiose. O CMS 42 e 43 apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível somente nas semeaduras realizadas em novembro e dezembro. Os cultivares Beija-flor e Branca apresentaram-se superiores ao cultivar mais suceptível somente na semeadura de dezembro. Os cultivares Viçosa, Zélia e RS 20 mostraram-se suceptíveis. Os cultivares apresentaram diferentes reações à helminthosporiose de acordo com a época de semeadura. Nas semeaduras tardias são dispensáveis as últimas avaliações da severidade da doença.

 

LITERATURA CITADA

 

BALMER, E.; PEREIRA, O.A.P. Doenças do milho. In: Paterniani, E. Viegas, G.P. (eds.) Melhoramento e Produção do milho. Campinas: Fundação Cargill, 1987. V.2, p. 595-634.

CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. Monitoring epidemics; diseases. In: Introduction to plant disease epidemiology. New York: John Wiley & Sons, 1990. Cap. 6. P. 107-128.

CIMMYT Managing trials and reporting data for CIMMYT’s International Maize Testing Program. México: CIMMYT, 1985. 20 p.

DE LEÓN, C. Moléstias do Milho, Guia para sua identificação no campo. Fundação Cargill, Campinas, 119 p, 1994.

FERNANDES, F. T.; de OLIVEIRA, E. Principais Doenças Na Cultura do Milho. Circular Técnica, EMBRAPA, no 26, Sete Lagoas, 78 p, 1997.

FROSI, J.F. Níveis de resistência à Exserohilum turcicum (Pass.) Leonard & Sugs em milho. Piracicaba: ESALQ/USP, 1991 96 p. (Tese de Doutorado).

GIANASI, L.; de CASTRO, H. A.; da SILVA, H. P. Raças Fisiológicas de Exserohilum Turcicum Identificadas em Regiões Produtoras de Milho no Brasil, Safra 93/94. Summa Phytopathologica, v 22, p 214-217, 1996.

KAMIKOGA, A. T. M.; SALGADO, C.L.; BALMER, E. Reações de Diferentes Populações de Milho Pipoca (Zea mays) a Helminthosporium turcicum. Summa Phytopathologica, v. 17, p 100-104, 1991.

SHURTLEEF, M.C. Compedium of corn diseases. St. Paul: The american Phytopathological Society, 1980.

SOARES, A. M. Q.; LOPES, C. A.; REIFSCHNEIDER, F. J. B. Avaliação de populações de Milho Pipoca Para Resistência à Exserohilum Turcicum. Horticultura Brasileira, v. 11, p 22-24, 1993

ULLSTRUP, A.J. A comparison of monogenic and polygenic resistance to Helminthosporium turcicum in corn. In; Annual Corn and Sorghum Research Conference, 25, Washington, 1970. Proceedings ... Washington: American Seed Trade Association, 1970. p. 147-153.