Comportamento de Cultivares de Milho-Pipoca na microrregião de Viçosa, MG.

Nunes, h.v., Miranda, g.v., Coimbra, r.r., Barros, d.i., GALVÃO, j.c.c.  e almeida, m.p.

Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia, CEP 36571-000, glauco@mail.ufv.br

Palavra-chave: Comportamento, cultivares, milho pipoca, rendimento.

RESUMO

        O milho-pipoca pode ser alternativa para a diversificação agrícola na agricultura familiar pela facilidade de agregação de valores ao produto. Os cultivares de milho-pipoca em relação ao milho comum caracterizam-se por apresentar  plantas mais delicadas e menores,  menor número de folhas e prolíficas. Os principais problemas nas populações de milho-pipoca são a alta susceptibilidade às doenças, principalmente helminthosporiose, as baixas produtividade e qualidade de colmo. Para melhorar estas características é necessário a avaliação de cultivares para identificar alguns que apresentem baixa severidade de doenças e alta qualidade de colmo. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar cultivares de milho-pipoca para ser utilizado em programas de melhoramento. Assim, nove cultivares de milho-pipoca foram avaliadas ano Agrícola de 1999. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso. O ensaio foi instalado no dia 15 de setembro e constituído por parcelas com quatro linhas de 4 m de comprimento espaçadas de 0,9m, constituindo uma população de 45 mil plantas/ha. Os cultivares utilizados foram Beija-Flor, Branca, CMS-42, CMS-43, IAC-112, RS-20, Rosa Clara, Viçosa e Zélia. Foram avaliadas  a altura de plantas e espigas, a prolificidade, a capacidade de expansão (CE) e o rendimento de grãos. A CE variou de 12 a 24. Os cultivares que se destacaram com os maiores valores de CE foram IAC-112, RS-20 e Zélia, todos híbridos comerciais. Somente o híbrido IAC 112 apresentou-se com a capacidade de expansão e o rendimento no grupo com maior média. Os cultivares que apresentaram potencial o melhoramento foram CMS 43 e IAC 112. Os cultivares não comerciais apresentam baixas médias para as características de interesse econômico.

 INTRODUÇÃO

O milho pipoca pertence à espécie botânica  Zea mays L. A principal característica que separa o milho pipoca dos outros milhos é o tipo de grão duro e pequeno que, quando aquecido a cerca de 180oC, estoura transformando-se em pipoca (ZINSLY e MACHADO, 1987). As variedades de milho pipoca geralmente caracterizam-se por apresentarem plantas mais delicadas em relação ao milho comum. São plantas menores, de colmo mais fino e apresentam menor número de folhas, prolíficas, maior susceptibilidade a pragas e doenças. Isto se deve ao fato de caracteres agronômicos no milho pipoca sofrerem menor pressão de seleção do que os caracteres de qualidade  da pipoca (ZIEGLER e ASHMAN, 1994).

                O milho pipoca apresenta como características principais a capacidade de expansão e rendimento de grãos que estão correlacionados negativamente (ALEXANDRE e CREECH, 1977). A capacidade de expansão é afetada por fatores genéticos e vários outros como: equipamento (pipocador), teor de umidade do grão, tipo de secagem, danos no pericarpo ou endosperma e grãos imaturos (MACHADO, 1997). De modo geral, a capacidade de expansão é dada pela relação  entre o volume de pipoca/volume de grãos.

Para obtenção de rendimento máximo, a diferenciação da gema floral e o florescimento devem ocorrer em condições ideais, para isto as condições edafo-climáticas devem satisfazer as exigências da cultura (VIEGAS e PEETEN, 1987).

Ensaios de avaliação da produtividade de cultivares de milho pipoca na região da Zona da Mata de Minas Gerais são escassos, CRUZ et al. (1994) conduziu ensaio em Sete Lagoas-MG para avaliar o efeito de cinco cultivares, dois espaçamento e três densidade de plantio sobre a produção e a qualidade do milho pipoca. Nos dois anos agrícolas em avaliação foram obtidos  produções médias de 2.496 e 2.713 Kg/ha e capacidade de expansão média de 17,5 e 19,8. O cultivar que mais produziu em 1991/92, foi o SAM, com 3.542 Kg/ha, em 1992/93 foi o CMS-43 com 3.842 Kg/ha. O cultivar com maior capacidade de expansão, na média dos dois anos, foi Rogo1 com 19,26, que no entanto foi próximo do CMS-43 que apresentou a menor média 18,87.

A média de produção do Ensaio Nacional de milho pipoca realizado no ano agrícola 91/92 foi  de 2.075 kg/ha , e o cultivar que mais produziu atingiu 3.058 kg/ha. A capacidade  de expansão  nesse ensaio apresentou um valor de 17,5 e o maior valor observado foi 20,8 (ANDRADE, 1996).

O presente trabalho teve como objetivo identificar  cultivares de milho pipoca adaptados  as condições edafo-climáticas de Viçosa, MG.

 MATERIAL E MÉTODOS

                 O experimento foi instalado na Estação Experimental de Coimbra – MG, pertencente ao Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa durante o período de setembro de 1999 a Janeiro de 2000. Para isto, foram utilizadas nove variedades de milho pipoca: Branco, CMS-42, CMS-43, IAC-112, RS-20, Rosa Claro, Beija-Flor, Viçosa e Zélia.

                O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, Cada parcela foi constituída por 4 linhas de 4 metros de comprimento. O espaçamento entre fileiras foi de 0,90 metros. O plantio foi realizado em covas espaçadas de 0,25 metros, uma planta por cova, de forma que cada parcela fique com 64 plantas, constituindo uma população de 45.000 plantas/ha. A área útil da parcela  foi de 7,2m2. Foram utilizadas 2 linhas de bordadura em volta do experimento, composta pela mistura das nove variedades utilizadas. Os tratos culturais consistiram de uma aplicação de herbicida (Atrazina + metolaclor) logo após a semeadura e uma capina. Foi efetuada adubação com N-P-K formulação 4-14-8 na proporção de 700 kg/ha e uma adubação de cobertura com nitrogênio, em uma proporção de 60 kg/ha a qual foi parcelada em duas aplicações, sendo a primeira com 30 dias após o plantio juntamente com o desbaste e a segunda  aos 45 dias após o plantio.

                Foram avaliadas a capacidade de expansão e rendimento de grãos. O primeiro caracter foi obtido  pela razão entre o peso da pipoca expandida  e o volume dos grãos. Para cada parcela foi pesada uma amostra de 30ml de grãos, medida em proveta graduada de 100ml, que foi estourada em pipoqueira elétrica de ar quente com controle manual de temperatura. O volume da pipoca expandida foi medido  em uma proveta graduada de 100ml.

                As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se os programas GENES (Genética e Estatística) e o programa SAEG (Sistema para Analises Estatísticas e Genéticas), ambos desenvolvidos pela Universidade Federal de Viçosa.

 

 

Resultados e discussões

 

             A análise de variância mostrou efeito significativo, a 5% de probabilidade, pelo teste F, para cultivares em todos os parâmetros avaliados, indicando diferenças entre os cultivares em relação às características estudadas.

No quadro 1, encontram-se os resultados médios para capacidade de expansão, produtividade, altura da planta, altura de espiga e prolificidade. A capacidade de expansão variou de 12 a 24. Os cultivares que apresentaram os maiores valores de CE (acima de 19) foram: IAC-112, RS-20 e Zélia, todos cultivares comerciais. Valores estes acima dos encontrados no Ensaio Nacional de Milho Pipoca 1991/92, que apresentou média de 17,5 (SAWAZAKI, 1995). Em 1984/85, em Jaboticabal-SP, diversos híbridos importados e nacionais foram avaliados e apresentaram CE de 12,4 a 21,8 (cv. Gourmet) (SAWAZAKI, 1996).

A produtividade média de grãos dos cultivares variou de 665 kg/ha (RS-20) a 2.148 kg/ha (CMS-43), mostrando o potencial de alguns cultivares mesmo em uma época de semeadura fora do limite de recomendação. Vale ressaltar, que a época de semeadura recomendada para o milho em Minas Gerais está situada entre os meses de outubro e novembro (EMBRAPA, 1987). Plantios fora do período, terão como conseqüência menores produtividades, ISHIMURA et, al (1986) avaliando cultivares de milho verde semeados em diferentes épocas observaram que o peso de espigas comerciais no plantio realizado em junho correspondeu a 82% do peso das espigas comerciais semeadas em maio do mesmo ano. Os cultivares que apresentaram as maiores medias de rendimento de grãos  foram CMS-43 e IAC-112. O cultivar  RS-20 foi o menos produtivo. O cultivar IAC-112 mostrou um bom rendimento e capacidade de expansão.

Os cultivares que apresentaram as maiores alturas de planta foram Beija-Flor, CMS-43 e Rosa Clara. Em relação a altura de espiga os cultivares que apresentaram maiores média foram Beija-flor, CMS-42, CMS-43 e Rosa-Clara. Todos os cultivares apresentaram boa prolificidade.

Conclusões

 Os cultivares que apresentaram potencial o melhoramento foram CMS 43 e IAC 112.

Os cultivares não comerciais apresentam baixas médias para as características de interesse econômico.

 Quadro 1-

Valores médios para nove cultivares de milho pipoca avaliados em uma única época  de semeadura (15-09-1999) para capacidade de expansão (CE), produtividade (PROD), altura de planta (AP), altura de espiga (AE) e prolificidade (PRL)

 

 Cultivares

CE

PROD

AP

AE

PRL

(p/v)

 (kg/ha )

(m)

(m)

(und)

Beija-Flor

12 C

1.501 BC

1,842 A

1,042 A

1,485 AB

Branca

12 C

1.485 BC

1,621 BC

0,819 C

1,420 AB

CMS-42

  14 BC

1.429 C

1,737 AB

0,968 AB

1,433 AB

CMS-43

  14 BC

2.148 A

1,856 A

1,087 A

1,474 AB

IAC-112

24 A

2.073 AB

1,646 BC

0,906 BC

1,506 A 

Rosa-Clara 

  13 BC

1.590 ABC

1,873 A

0,970 AB

1,445 AB

RS-20

   21 AB

   665 D 

1,321 D

0,630 D

1,381 B

Viçosa

13 C

1.396 C

1,653 BC

0,911 BC

1,422 AB

Zélia

24 A

1.137 CD 

1,535 C

0.801 C

1,381 B

§        Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.

LITERATURA CITADA

ANDRADE, R. A. Cruzamentos dialélicos entre seis variedades de milho pipoca. Viçosa: UFV, 1996,79p.: il.

 ALEXANDER, D. E. e CREECH, R. G. Popcorn In: SPREGUE, G. F. Corn and Corn Improvement, 2a ed., Madison, American Society of Agronomy, 1977, p. 385-390.

 CRUZ, J.C., PACHECO, A P., PEREIRA FILHO, A, OLIVEIRA, A C,. Efeito da cultivar, espaçamento e densidade de plantio sobre a produção e a qualidade do milho pipoca Relatório Técnico Anual do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo 1992-1993. p. 251-252, 1994.

 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo, Recomendações técnicas para o cultivo de milho, 3a ed, Sete Lagoas, 1987, 100p.

 ISHIMURA, I., YANAI, K., SAWAZAKI, E. e NODA, M. Avaliação de cultivares de milho verde em Pariquera-açú – Bragantia, v. 45, p. 95-105, 1986. 

MACHADO, P. F. Efeito  das condições  de colheita  e secagem sobre a capacidade de expansão de milho pipoca. Viçosa: UFV, 1997, 41 p (Tese MS).

 SAWAZAKI, E. Melhoramento  do milho pipoca. Campinas: Instituto  Agrônomo de Campinas, 1995, 21p.

 SAWAZAKI,  E. Parâmetros genéticos em milho pipoca (Zea mays L) Piracicaba: ESALQ, USP, 1996, 157p (Tese de Doutorado).

 VIÉGAS, G. P. e PEETEM, H. Sistema de produção. In: PATERNIANI, E., VIÉGAS, G. P. Melhoramento e Produção do Milho. Campinas: Fundação Cargill (2): 453-538, 1987.

 ZINSLY, J. R., MACHADO, J. A. Milho pipoca In: PATERNIANI, E.;VIÉGAS, G. P. (eds.). Melhoramento e produção  do milho, 2aa ed. Campinas, Fundação Cargill, 1987, p. 411-422.

 ZIEGLER, K. E; ASWMAN, B. Popcorn. In: (ed.) HALLAUER, A.R Speciality Corns, Iowa, CRS Press, 1994, p. 189-223.