Linha de Pesquisa

A agricultura familiar compreende grande diversidade cultural, social e econômica  podendo variar desde o campesinato tradicional até à pequena produção modernizada. Os agricultores familiares foram chamados de pequenos produtores, pequenos agricultores, colonos, camponeses, entre tantas outras definições.  A maioria das definições da agricultura familiar está vinculada ao número de empregados e ao tamanho da propriedade. O Ministério da Agricultura brasileiro, para efeito do Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), considerou como familiares todos os agricultores que contratavam até dois empregados permanentes e detinham área inferior a quatro módulos rurais.

            As principais características dos agricultores familiares são a independência de insumos externos à propriedade e a produção agrícola estar condicionada às necessidades do grupo familiar.  No entanto, diversas outras características estão associadas a este tipo de agricultor como o uso de energia solar, animal e humana, a pequena propriedade, a alta auto-suficiência e pouco uso de insumos externos, a força de trabalho familiar ou comunitária, a alta diversidade ecogeográfica, biológica, genética e produtiva, baixa produção de dejetos, a predominância dos valores de uso, se baseia no intercâmbio ecológico com a natureza, o conhecimento holístico, ágrafo e flexível.

       Na condição agricultor familiar, o nível de auto-suficiência da unidade produtiva é alto. Desta forma, as necessidades do agricultor são atendidas com os produtos obtidos dos ecossistemas. Fica, assim, implícita a necessidade de grande variabilidade de sistemas produtivos que, por sua vez, se reflete na ampla diversidade de ecossistemas presentes, onde cultivos agrícolas, bosques primários e secundários, hortas familiares, pastos e corpos d'água são segmentos do sistema integrado de produção. Pode-se, então, considerar a natureza na qual o produtor interage, em dois níveis: o ambiente natural, o qual inclui um conjunto de ecossistemas naturais e seus diferentes estágios sucessionais, permitindo atividades como caça e coleta, pesca e extração de produtos florestais, e o ambiente transformado, representado pelo conjunto de ecossistemas artificiais ou agroecossistemas, como lavouras, pastos e aquacultura. A principal diferença entre ambos é que os ecossistemas naturais têm a capacidade de automanutenção, auto-reparo e auto-reprodução. Já os ecossistemas transformados são intrinsecamente instáveis e, por isso, necessariamente requerem energia externa para manterem-se, seja energia humana, animal ou fóssil.

          Como conseqüência direta da elevada auto-suficiência e produção predominantemente de bens de uso sobre bens de troca,    a produção do agricultor familiar está mais baseada no intercâmbio ecológico que no econômico e assim, utilizam mecanismos que garantam o fluxo ininterrupto de bens e energia a partir dos ambientes naturais e transformados. Vêem-se, desta forma, forçados a realizar a produção não especializada, baseada no princípio da diversidade de uso de recursos e práticas produtivas. Daí a utilização de mais de uma unidade ecogeográfica, a integração e combinação de diferentes práticas, a reciclagem dos materiais e energia e a diversificação de produtos obtidos dos ecossistemas. Tal estratégia de uso múltiplo, basicamente, mantém e favorece duas características ambientais: heterogeneidade ambiental e diversidade biológica. Estas operam tanto ao nível da unidade familiar, quanto ao nível da comunidade. Tais características são conseqüência direta do processo de apropriação da natureza na economia predominantemente direcionada à produção para uso.

O agricultor familiar é regularmente citado como sendo de baixa tecnologia. Este fato, no entanto, devido à ampla variabilidade cultural, social e econômica não ocorre para todos os agricultores. Deve-se considerar que baixo insumo não é baixa tecnologia. Por exemplo, na agricultura empresarial, o plantio de milho safrinha utiliza alta tecnologia, mas, com baixas adubações, cultivares mais precoces, tolerantes ao enfezamentos e à seca, bom enraizamento, menor população de plantas, entre outras características. Desta forma, lavouras de agricultores familiares que utilizam baixa adubação não devem ser consideradas de baixa tecnologia, pois utilizam baixos insumos externos. Muitos destes agricultores utilizam todos os recursos fitotécnicos disponíveis como o controle de plantas daninhas, a população de plantas adequada para a consorciação, cultivares com baixo valor de semente, mas que possuem alta estabilidade fenotípica, etc... Portanto, deve-se dissociar baixa tecnologia de baixo insumo.

A quase totalidade dos produtores de milho (94%) caracteriza-se como agricultores familiares com baixa utilização de insumos e em condições desfavoráveis seja do ponto de vista técnico econômico, político e social. 

Atualmente, a comercialização do milho como grão seco limita cada vez mais a participação da grande maioria dos agricultores familiares no mercado devido ao baixo valor do grão e a infraestrutura necessária. Diante disso, a existência de novos mercados como os das especialidades e dos produtos frescos podem abrir novos espaços de inserção para o agricultor familiar, porém, traz novas e rigorosas exigências tecnológicas e gerenciais que a maioria dos agricultores não conseguiram atingir.

            Desta forma para a viabilização econômica do agricultor familiar é necessário que sua agricultura de subsistência em condições desfavoráveis de ambiente alcancem níveis comercializáveis e condições favoráveis de ambiente.  No entanto, estes novos níveis alcançados são temporários e instáveis. Diante disso, o programa de melhoramento de plantas do Programa Milho UFV tenda capitalizar o equilíbrio dinâmico do ambiente, por meio do melhoramento participativo. Assim, em regiões em que o produtor começa a fazer conservação de solo, repor nutrientes extraídos pela cultura, rotação de culturas, etc..., os ciclos de seleção do germoplasma desenvolvido pelo Programa Milho consideram estes fatores.