ANÁLISE MULTIVARIADA GGE BIPLOT APLICADA À INTERAÇÃO GENÓTIPOS X AMBIENTES

Heraldo Namorato de Souza1,2, Glauco Vieira Miranda 1,3

Palavras-chave: Estabilidade, adaptabilidade, milho-pipoca, componentes principais, mega-ambientes.

1 Departamento de Fitotecnia, Campus Universitário, 36571-000, Viçosa-MG, BR. 2 Mestrando em Genética e Melhoramento (UFV), Bolsista do CNPq. heraldo@vicosa.ufv.br 3 Professor Titular, D.S. Apoio Financeiro: CNPq.

INTRODUÇÃO

A interação genótipos x ambientes (G x A) constitui a principal dificuldade para a seleção de genótipos nas gerações segregantes e a recomendação de cultivares para grandes regiões geográficas. Nas primeiras fases de seleção do programa de melhoramento, as avaliações dos genótipos são realizadas em um só local e conseqüentemente, as estimativas da variância genética são acrescidas do componente de variância da interação G x A. Diante disso, os ganhos genéticos previstos com a seleção não são realizados. Nas fases finais do melhoramento, os ensaios são conduzidos em vários ambientes que são as combinações de vários locais, anos e/ou épocas. Desta forma, é possível isolar o componente de variância da interação G x A, porém a intensidade de seleção é baixa, fazendo com que o ganho genético seja de pequena magnitude. Assim, os efeitos principais de genótipos e ambientes não podem ser interpretados de forma isolada e se deve considerar a interação genótipos x ambientes (Kang & Magari, 1996 e Mandel, 1971). Diversas análises estatísticas têm sido propostas para a interpretação da interação G x A devido aos novos procedimentos e aplicados para análises estatísticas e também pela pouco eficácia das análises usuais. Neste sentido, a análise GGE Biplot se apresenta como alternativa promissora, pois ser mais simples a análise de variância (Yan, 2000). O objetivo foi avaliar a análise GGE Biplot para interpretação da interação genótipos x ambientes, utilizando como exemplo o comportamento produtivo de nove cultivares de milho-pipoca em oito ambientes.

MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados os cultivares de milho-pipoca Beija-Flor, Branco, CMS 42, CMS 43, IAC 112, Rosa Claro, RS 20, Viçosa e Zélia em oito épocas de plantios nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro dos anos de 1998 e 1999. Os ensaios foram conduzidos na Estação Experimental de Coimbra, pertencente ao Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa. Estes dados foram obtidos por Nunes (2002). Yan et al. (2000) propuseram a análise GGE Biplot para a interpretação gráfica da interação genótipos x ambientes. Apesar das características agronômicas relacionadas à produção serem obtidas da combinação do efeito do genótipo (G), do ambiente (A) e da interação genótipos x ambientes (G x A), a análise GGE Biplot considera que somente os efeitos de G e G x A são relevantes e devem ser considerados simultaneamente na avaliação de cultivares. Os eixos dos gráficos da referida análise são os dois primeiros componentes principais (autovetores) da análise multivariada e representam a maior parte da variância dos dados tomando como fixo o ambiente, isto é, a variação da produtividade é devida exclusivamente aos efeitos G e G x A, chamado valor singular da decomposição (SVD - singular value decomposition). Assim, esta análise identifica quais cultivares são superiores nos vários ambientes. O método GGE Biplot se baseia no modelo (Yan et al., 2000): em que: é a média de produção do cultivar no ambiente ; é a média geral dos cultivares no ambiente ; é o primeiro componente principal (IPCA1); é o segundo componente principal (IPCA2); e são os autovalores (raízes características) associados ao IPCA1 e IPCA2, respectivamente; e são os escores do primeiro e segundo componentes principais, respectivamente, para o cultivar ; e são os escores do primeiro e segundo componentes principais, respectivamente, para o ambiente ; é o erro associado ao modelo. Para representar os componentes principais no gráfico Biplot, os valores de são absorvidos pelo escores dos cultivares e ambientes de forma que a equação anterior passa ser: em que: e , com n = 1, 2. Desta forma, a análise tem a vantagem de representar os dois componentes principais na mesma unidade de escala (raiz quadrada da unidade original da produção). O GGE Biplot é gerado plotando e versus e , respectivamente, de maneira que cada cultivar ou cada ambiente é representado por um ponto no biplot. Os componentes principais são obtidos da transformação do conjunto das v variáveis originais e são funções lineares das mesmas. Além disso, são independentes entre si. O Biplot GGE mostra que o genótipo ideal deve ter alto valor de IPCA1 (alta média de produtividade) e próximo de zero para o IPCA2 (mais estável). O local de teste ideal é aquele com alto valor de IPCA1 (maior poder de discriminação de cultivares) e próximo de zero para o IPCA2 (mais representativo da média ambiental geral). Assim, podemos afirmar que o primeiro componente principal representa produtividade e o segundo componente principal representa a estabilidade.Tais propriedades tendem a ocorrer quando o IPCA1 dos cultivares são altamente correlacionados com efeitos de cultivares, Burgueño, et al. (2000). O modelo propõe a conexão com segmentos de retas os escores dos cultivares mais distantes da origem no Biplot, formando vértices dos lados externos de um polígono. Este polígono é subdividido em setores através de retas a partir da origem e perpendiculares aos lados externos do polígono. Os locais/épocas dentro de cada setor formam um subconjunto específico. O genótipo localizado no vértice do setor é o de melhor performance nos locais/épocas incluídos no setor. Locais/épocas localizados mais distantes da origem, discriminam melhor os cultivares do que aqueles localizados próximos à origem. Os polígonos formados indicam a presença ou ausência de interação genótipo ambiente cruzada envolvendo os genótipos mais responsivos, e está sugerindo a existência ou ausência de mega-ambientes entre os locais/épocas analisados. Mega-ambiente é definido como um grupo de locais/épocas que possuem o mesmo melhor cultivar em comum e que exista repetibilidade durante os anos. Conseqüentemente, para uma dado mega-ambiente, existe um cultivar de melhor performance para todos os locais/épocas quando avaliados por vários anos. Mega-ambiente pode ser simples ou complexo. Simples, quando a ausência de interação genótipo ambiente cruzada para todos os locais/épocas, e complexa quando envolve interação genótipo ambiente cruzada que não se repetem durante os anos. Para o simples, um ou poucos locais/épocas seriam suficientes para uma efetiva avaliação de cultivares. Para o complexo, distintos locais/épocas testes são requeridos para selecionar cultivares superiores dentro de toda a região, durante os anos (Yan e Rajcan, 2002). Todas as análises foram realizadas utilizando o SAS (Sas Institute, 1998).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dois primeiros componentes principais absorveram 85,24% da variância total das variáveis originais, estando dentro do limite preconizado por Cruz & Regazzi (1997) de no mínimo 80%. O cultivar Zélia foi o que menos contribuiu para a interação genótipo x ambiente. Assim, é considerado o mais estável (Figura 1) por apresentar o valor próximo de zero do segundo componente principal. O cultivar RS 20 foi o de menor produtividade, pois apresentou menor valor para o primeiro componente principal e com estabilidade elevada, semelhante ao Zélia. Os cultivares CMS 43 e CMS 42 foram os mais produtivos e por estarem localizados nos vértices dos setores, definem dois mega-ambientes. O CMS 42 teve melhor comportamento para Novembro/1998 e Outubro/1999; e CMS 43 para os demais ambientes. O ambiente outubro/1999 foi de maior discriminação de genótipos, devido ao seu maior valor no primeiro componente principal. As diferenças entre genótipos, em Outubro/1998, são mais consistentes em termos de valor genotípico, considerando que os valores ambiental e da interação foram isolados. O valor do segundo componente principal foi quase nulo, indicando que o CMS 42 foi classificado de acordo com o seu valor no primeiro componente principal, caracterizando ser altamente produtivo.

CONCLUSÕES

Concluiu-se que a análise gráfica do método GGE BIPLOT é simples e completa, permitindo concluir sobre a estabilidade fenotípica, o comportamento genotípico do cultivar per se, a estratificação ambiental definindo mega-ambientes e os ambientes que otimizam o desempenho dos cultivares.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, C.D.; REGAZZI, A. J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético. Viçosa, MG: UFV, 1997. 390 p.

KANG, M. S. e MAGARI, R. New developments in selecting for phenotypic stability in crop breeding. In: KANG, M. S. e GAUCH, H. C., ed. Genotype by environment interaction. Boca Raton: CRC Press Cap. 1. 1996. p. 1-14.

MANDEL, J. A New analysis of variance model for non-additive data. Technometrics, v. 13, p. 1-18. 1971.

NUNES, H.V. Comportamento, adaptabilidade e estabilidade de cultivares de milho-pipoca em diferentes épocas de semeadura. Viçosa, MG: UFV, 2002. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia). Universidade Federal de Viçosa, 47 p.

SAS Institute, 1999. SAS OnlineDoc®. Version 8. SAS Institute Inc., Cary, NC.

YAN, W., L.A. HUNT, Q. SHENG e Z. SZLAVNICS. Cultivar evaluation and mega-environment investigation based on the GGE biplot. Crop Science, v. 40, p.597-605. 2000.