Produção de Milho Verde em Sistemas de Cultivo Orgânico e Convencional na Região de Viçosa-MG.

 E.C. Silva ; J.C.C. Galvão e Miranda, G.V

Universidade Federal de Viçosa- MG, Dept. de Fitotecnia, CEP: 36571-000 jgalvao@mail.ufv.br 

 

Palavras-chave: milho verde, produção orgânica

 

INTRODUÇÃO

 

O cultivo de milho verde no município de Viçosa-MG é realizado por pequenos produtores rurais que comercializam as espigas na feira livre da cidade. O plantio de milho  e sua comercialização no estágio verde na região possibilita agregar valor  ao produto, pois o milho verde tem preço superior ao milho destinado para grãos. Outro fator importante é que a colheita de milho verde envolve elevada mão-de-obra, o que contribui para geração de empregos em pequenas e médias propriedades. As pesquisas relacionadas à capacidade produtiva dos cultivares recomendados para a produção de milho verde são escassas e normalmente são realizadas pelas empresas produtoras de sementes. Também, questionamentos ligados ao manejo da lavoura, principalmente, a adubação, são pouco estudados em razão de se utilizar, constantemente, as mesmas recomendações para o milho grão.Uma das alternativas de agregação de valor da produção de milho verde está na utilização da adubação orgânica. Assim, o produto obtido, denominado milho verde orgânico certificado, poderá proporcionar ao agricultor maior rentabilidade. Os produtos orgânicos possuem mercado diferenciado e em expansão, fascinando os consumidores por meio de relações sociais entre os diversos elos da cadeia de produção e comercialização de alimentos, sob a ótica de oferecer um alimento saudável a preço justo, aproximando o agricultor do consumidor, tendo como conseqüência o crescimento da sociedade (DAROLT, 2000). De acordo com GALVÃO (1998) a produção orgânica do milho pode ser recomendada a qualquer produtor e as pesquisas realizadas na UFV têm demonstrado que o cultivo orgânico do milho, utilizando composto orgânico na adubação, é viável com produtividade de grãos elevada e sustentável (GALVÃO, 1995; GALVÃO, 1998; BASTOS, 1998; SILVA,1998; MAIA,1999; GALVÃO et al., 1999 e GONÇALVES et al., 2000). Entretanto, para a produção de milho verde orgânico as pesquisas são escassas.

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

O experimento foi conduzido em área de ensaio permanente, em que se estudam os efeitos da adubação mineral e orgânica sobre a produção de milho há 18 anos. As avaliações foram realizadas no ano agrícola 2001/02. Os tratamentos estudados foram:  Três sistemas convencionais de adubação com as doses de zero (testemunha), Convencional 1 (300 kg de 4-14-8 + 150 kg de sulfato de amônio (SA)/ha) e Convencional 2 (600 kg de 4-14-8 + 300 kg de SA/ha) e  no sistema orgânico foram utilizadas as doses de zero (testemunha) e 40 m3   de composto orgânico/ha, totalizando 6 tratamentos. O experimento foi disposto no delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada parcela experimental apresentava área total de 64 m2, com 12 m2 centrais de área útil.

Utilizou-se no plantio o híbrido AG 1051, recomendado para produção de milho verde. A população, em ambos sistemas de adubação, foi de 50.000 plantas /ha. As adubações de cobertura com sulfato de amônio foram realizadas, na 4ª e 8ª folha completamente desenvolvida, apenas nas parcelas em que se utilizou a adubação mineral. Foram avaliadas as seguintes características: comprimento médio das espigas (cm), diâmetro médio das espigas (cm), peso médio das espigas (g) e produtividade (kg/ha). As colheitas foram realizadas manualmente dentro de cada área útil da parcela, quando os grãos atingiram o ponto de milho verde, ou seja, quando pelo menos 50% dos grãos da espiga apresentavam de 70 a 80% de umidade e entre os estádios leitoso e pastoso.Objetivo deste trabalho foi avaliar a produção de milho verde nos sistemas de cultivo orgânico e convencional.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Os resultados do desdobramento da interação sistema orgânico x convencional, apresentados na Figura 1, revelaram que no sistema convencional, independentemente das doses de adubo utilizadas, houve incremento do comprimento das espigas em relação ao tratamento testemunha. Verificou-se que no sistema convencional, o uso de doses elevadas de nutrientes (convencional 2) não foi capaz de aumentar o comprimento das espigas. Ressalta-se, porém, que o comprimento médio das espigas (maiores que 15 cm) obtidas nos sistemas de cultivo convencional 1 e 2 encontram-se dentro dos padrões técnicos recomendados para a comercialização de milho verde e os consumidores têm preferência por espigas de maiores comprimentos quando o consumo é “in natura” (PAIVA JÚNIOR, 2001). No sistema orgânico, o comprimento médio das espigas foi de 18 cm (Figura 1). A associação de doses de adubo mineral (convencional 1 e 2) + composto orgânico não incrementaram o comprimento das espigas em relação ao uso de composto orgânico  isolado. Isto revela a capacidade de produção do sistema orgânico, garantindo sustentabilidade e agregação de valor ao produto. O sistema orgânico ora estudado equipara-se ao sistema convencional de produção de milho verde.

Figura 1. Médias do comprimento de espigas de milho verde (cm) nos sistemas de cultivo orgânico e convencional. As médias seguidas pela mesma letra maiúscula, dentro de cada grupo de histogramas, não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, UFV, Coimbra-MG.

Na Figura 2 verifica-se que os resultados obtidos para diâmetro médio de espigas depende, além das características genéticas do cultivar, do sistema de cultivo. O diâmetro médio das espigas obtido no sistema orgânico foi equivalente àqueles obtidos no sistema convencional. Este fato indica que pode-se produzir espigas de milho verde orgânico com diâmetro no padrão comercial. Também não houve, para esta característica, diferença significativa entre os sistemas convencionais de adubação. O diâmetro médio das espigas não se alterou quando se duplicou a adubação química.

 

Figura 2. Valores médios do diâmetro da espigas (cm) de milho verde em sistemas de cultivo orgânico e convencional. As médias seguidas por pelo menos uma letra maiúscula, dentro de cada grupo de histogramas, não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

 

 

            A produção de espigas de milho verde no sistema orgânico foi muito superior àquela obtida no sistema convencional (Figura 3). Observa-se que no sistema orgânico a produção de espiga foi 2000 kg/ha a mais que no sistema convencional. Estes resultados corroboram com aqueles obtidos por GALVÃO, 1995; GALVÃO, 1998; BASTOS, 1998; SILVA,1998 e MAIA,1999, confirmando a capacidade de produção do composto orgânico seja para grãos e milho verde.

Na Figura 4 observa-se que o sistema convencional de cultivo elevou a produção de espiga (kg/ha). Entretanto, a maior dose de adubação química utilizada no sistema convencional 2 não foi capaz de elevar a produção de espigas. Observando a Figura 2 e 3 verifica-se que o sistema orgânico proporcionou produção equivalente aos sistemas convencionais.

 

Figura 3. Valores médios da produção de espigas (kg/ha) de milho verde no sistema de cultivo orgânico e convencional. As médias seguidas por pelo menos uma letra maiúscula não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

 

Figura 4. Valores médios da produção de espigas (kg/ha) de milho verde em sistemas de cultivo convencional. As médias seguidas por pelo menos uma letra maiúscula não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

 

 

 

 

  CONCLUSÃO

 

                A produção orgânica de milho verde foi equivalente ao sistema de produção convencional.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BASTOS, C.S. Sistemas da adubação em cultivo de milho exclusivo e consorciado com feijão, afetando a produção, estado nutricional e incidência de insetos fitófagos e inimigos naturais. Viçosa, UFV, 1999.117p. (Tese de Mestrado).

 

DAROLT, M.R. As dimensões da sustentabilidade: Um estudo da agricultura orgânica na região metropolitana de Curitiba-PR. Curitiba, UFPR, 2000. 320p. (Tese de Doutorado).

 

GALVÃO, J.C.C. Características Físicas e Químicas do Solo e Produção de Milho Exclusivo e Consorciado com Feijão, em Função de Adubações Orgânica e Mineral Contínuas. Viçosa, UFV, 1995. 194 p. (Tese de Doutorado).

 

GALVÃO, J.C.C. Adubação orgânica na cultura do milho. In: Encontro Mineiro Sobre Produção Orgânica de Hortaliças, 1, Viçosa,1998. Anais..., Viçosa, UFV, 1998. p 36-37.

 

GALVÃO, J.C.C., MIRANDA, G.V; SANTOS, I.C. Adubação orgânica, chance para os pequenos. Cultivar, 9: 38-41,1999.

 

 PAIVA JUNIOR, M.C.; VON PINHO, R.G.; VON PINHO, E.V.R.; RESENDE, S.G. Desempenho de cultivares para de milho verde em diferentes épocas e densidades de semeadura em Lavras-MG. Ciência e Agrotecnologia., Lavras, v.25, n.5, p.1235-1247, set./out., 2001.

 

GONÇALVES, R.; MIRANDA, G.V.; GALVAO,J.C.C.; SILVA, E.C. Populações de plantas e diferentes sistemas produtivos afetando a produção de grãos de milho. In: Congresso Nacional de Milho e Sorgo, XXIII, Uberlândia, 2000. Resumos..., Uberlândia, EMBRAPA/CNPMS-UFU, 2000. p 116

 

SILVA, E.C.; GALVÃO, J.C.C; MIRANDA, G.V.; ARAÚJO, G.A. A. Produtividade do milho após 13 anos de aplicações contínuas de adubações orgânica e mineral. In: Simpósio de Iniciação Científica, VIII, Viçosa, 1998. Resumos..., Viçosa, UFV, 1998, 321p.