TRATAMENTOS HOMEOPATICOS E DENSIDADE POPULACIONAL DE SPODOPTERA FRUGIPERDA (J. E. SMITH, 1797) (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM MILHO.

 ALMEIDA, A. A., GALVÃO, J. C.C., CASALI, V.W.D., MIRANDA, G. V., LIMA, E.R.

 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia jgalvao@mail.ufv.br

Palavras chave: Zea mays, Homeopatia, Spodoptera frugiperda.

 

INTRODUÇÃO:

 O milho representa um dos principais cereais cultivados em todo o mundo, fornecendo produtos largamente utilizados para a alimentação humana, animal e matéria prima para a indústria, principalmente em função da quantidade e da natureza das reservas acumuladas nos grãos (FANCELLI & NETO, 2000).

A lagarta do cartucho, Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), é a principal praga da cultura do milho no Brasil, ocorrendo em todas as regiões produtoras, tanto nos cultivos de verão como nos de segunda safra (“safrinha”). Seus prejuízos são estimados em mais de US$ 400 milhões anualmente (CRUZ, 1999).

A má regulagem dos equipamentos e a escolha incorreta de produtos químicos têm aumentado o número médio de aplicações de inseticidas na cultura do milho, sem, no entanto, atingir os objetivos de controle desta praga, pois, a cada ano os danos provocados pela lagarta do cartucho têm sido mais severos (CRUZ, 1995). A preocupação é o desenvolvimento de populações resistentes a produtos químicos, já verificados em algumas regiões, e a diminuição sensível da diversidade de agentes de controle biológico, em conseqüência do uso incorreto dos inseticidas (CRUZ, 1999)..

A alimentação dos insetos é um processo dinâmico e ativo com numerosas interações e conseqüências, afetando sua sobrevivência crescimento, reprodução e movimentação (SLANSKY JR, 1982). .

Além dos nutrientes presentes na planta existem também outras substâncias produzidas pelo metabolismo secundário, quando elas estão sob alguma condição de estresse ou quando são atacadas por algum tipo de inseto. Estas substâncias, sem valor nutritivo, são comumente apontadas como responsáveis pela seleção hospedeira. Fatores não genéticos tais como o meio ambiente, temperatura, umidade, podem afetar o conteúdo dos compostos fornecidos pela planta hospedeira e modificar o comportamento do inseto (OLIVEIRA, 1985)..

As plantas podem desencadear mecanismos de defesa que determinam o comportamento dos insetos quanto à alimentação, oviposição e abrigo. Dois exemplos destes mecanismos são a antixenose (não preferência) e antibiose (PANDA & KHUSH, 1995).

A Homeopatia é uma ciência desenvolvida pelo médico alemão Christian Samuel Hahnemann na Alemanha, há cerca de 200 anos. Um dos princípios básicos é a utilização de medicamentos diluídos  e  dinamizados, preparados a partir de substâncias de origem animal, vegetal, mineral, ou tecidos doentes. Mediante a técnicas homeopáticas, estas substâncias tornam-se incrivelmente potentes e ativas o que lhes confere o poder da Homeostase. Hahnemann postulou os princípios fundamentais desta ciência: Semelhança, ou seja, substâncias curam sintomas que são capazes de produzir em organismos sadios. Na busca deste principio é necessário à experimentação no indivíduo sadio; utilizando um único remédio por vez; em doses mínimas e dinamizadas.responsáveis pela seleção hospedeira. Fatores não genéticos tais como o meio ambiente, temperatura, umidade, podem afetar o conteúdo dos compostos fornecidos pela planta hospedeira e modificar o comportamento do inseto (OLIVEIRA, 1985)...

Os preparados homeopáticos são feitos a  partir  de  substâncias  naturais  provenientes do reino  animal,  mineral ou vegetal.  A  dinamização  suscita  energia  das  substâncias através  das diluições seguidas de sucussões (ANDRADE, 2000).

A Homeopatia é uma ciência aplicável  a  todos  os  seres vivos, pois se fundamenta em processos holísticos, que se sustentam em concepções mais avançadas. É uma ciência de preparações não moleculares (ANDRADE, 2000).

Os preparados homeopáticos foram considerados insumos agrícolas pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento  através  da  instrução  normativa  NO 7 publicada no Diário Oficial em 17/05/1999.

 Este experimento teve a particularidade de livre escolha dos insetos para ovipositar e consumir as plantas. Foi considerada como planta atacada aquela em que a lagarta estava dentro do cartucho apresentando sintoma característico. Em nenhuma das fases descritas a seguir foi observada a presença do predador Doru luteipes, este fato talvez possa ser explicado pelas condições locais. No quadro 01 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, quando submetidos à avaliação no estádio de quarta folha completamente desenvolvida. A média do tratamento homeopático da própria lagarta-do-cartucho apresentou menos ataque de plantas em relação à testemunha. Vale ressaltar que no tratamento testemunha o número de plantas atacadas foram no mínimo três vezes a mais que no tratamento com a homeopatia da lagarta do cartucho. No quadro 02 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, homeopáticos quando as plantas se encontravam no estádio de sexta folha completamente desenvolvida. Nesta fase houve um aumento substancial da população de Spodoptera frugiperda em todas as parcelas.sendo que as médias dos tratamentos homeopáticos 3 e 4 diferiram significativamente da média da testemunha. No quadro 03 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, homeopáticos quando as plantas se encontravam no estádio de oitava folha completamente desenvolvida. Nesta fase houve uma diminuição substancial da população de Spodoptera frugiperda possivelmente devido ao efeito acumulativo das aplicações dos tratamentos homeopáticos.

O  objetivo deste trabalho foi avaliar comportamento da lagarta do cartucho Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera Noctuidae) com relação ao ataque de plantas de milho tratadas ou não tratadas com preparados homeopáticos..

  MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Estação Experimental professor Diogo Alves de Mello na Universidade Federal de Viçosa-MG, nos  meses de março e abril  de 2002.

Antes da implantação do experimento foi feita adubação verde com Crotalária juncea em sucessão com aveia preta. Posteriormente a incorporação do adubo verde, foram abertos sulcos espaçados de 1m entre fileiras. A adubação de plantio foi  realizada com 40m3 /ha de composto orgânico em seguida foi feito o plantio das sementes de milho da cultivar Nitroflint. A densidade de plantas utilizada foi de 50.000 plantas /ha.

O delineamento utilizado foi blocos ao acaso com 04 tratamentos e 09 repetições totalizando 36 parcelas. Cada parcela teve 5m2, com 5 linhas lineares de plantio, sendo que foram consideradas para fins de avaliações as 3 linhas centrais com um total de 75 plantas. A área total utilizada foi de 1200 m2

Os tratamentos homeopáticos utilizados foram os seguintes:

Tratamento 01: homeopatia da tesourinha (Doru luteipes).

Tratamento 02: Testemunha (água). 

Tratamento 03: homeopatia do teosinto (ancestral selvagem do milho).

Tratamento 04:: homeopatia da lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda).

            Os   preparados homeopáticos correspondentes aos tratamentos, foram   preparadas  no laboratório  de  Homeopatia do Departamento de Fitotecnia na Universidade Federal de Viçosa-MG, Seguindo as normas previstas pela Farmacopéia Homeopática Brasileira do ano de 1977.

            A diluição utilizada foi de 10 gotas de homeopatia para 500 mL de água. A aplicação foi feita via pulverização, utilizando-se pulverizadores de costais 5 litros. A freqüência de aplicação foi de quatro em quatro dias.

            As avaliações foram feitas a partir do aparecimento da quarta folha completamente desenvolvida e se estenderam até o aparecimento da oitava folha. Foram avaliados: preferência, número de plantas atacadas pela lagarta-do-cartucho, ou seja, lagarta dentro do cartucho. Os dados relativos ao n0 de plantas atacadas foram transformados para arcseno Öx/100 e  submetidos a analise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de tukey ao nível de 5% de probabilidade.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 Este experimento teve a particularidade de livre escolha dos insetos para ovipositar e consumir as plantas. Foi considerada como planta atacada aquela em que a lagarta estava dentro do cartucho apresentando sintoma característico. Em nenhuma das fases descritas a seguir foi observada a presença do predador Doru luteipes, este fato talvez possa ser explicado pelas condições locais. No quadro 01 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, quando submetidos à avaliação no estádio de quarta folha completamente desenvolvida. A média do tratamento homeopático da própria lagarta-do-cartucho apresentou menos ataque de plantas em relação à testemunha. Vale ressaltar que no tratamento testemunha o número de plantas atacadas foram no mínimo três vezes a mais que no tratamento com a homeopatia da lagarta do cartucho. No quadro 02 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, homeopáticos quando as plantas se encontravam no estádio de sexta folha completamente desenvolvida. Nesta fase houve um aumento substancial da população de Spodoptera frugiperda em todas as parcelas.sendo que as médias dos tratamentos homeopáticos 3 e 4 diferiram significativamente da média da testemunha. No quadro 03 estão representadas as médias transformadas e suas correspondentes (médias absolutas) dos tratamentos, homeopáticos quando as plantas se encontravam no estádio de oitava folha completamente desenvolvida. Nesta fase houve uma diminuição substancial da população de Spodoptera frugiperda possivelmente devido ao efeito acumulativo das aplicações dos tratamentos homeopáticos.

            Por outro lado, CRUZ (1999) relata que a partir de certo desenvolvimento da planta, fatores como declínio da temperatura, chuvas e características da população do inseto reduzem a mesma.

 

 Quadro (01) Avaliação das plantas na quarta folha completamente desenvolvida

Tratamentos

Repetições

Médias transformadas

Médias absolutas

2

9

0,9719 A

7,89

1

9

0,9404 A

7,22

3

9

0,8835 A

5,77

4

9

0,7158 B

2,33

 As médias seguidas pela mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade

   .Quadro (02) Avaliação das plantas na sexta folha completamente desenvolvida

Tratamentos

Repetições

Médias  transformadas

Médias absolutas

2

9

0,4393 A

14,22

1

9

0,3682 A B

10

4

9

0,2902 B C

6,66

3

9

0,2561 C

5,44

As médias seguidas pela mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

   

Quadro (03) avaliação das plantas na oitava folha completamente desenvolvida

Tratamentos

Repetições

Médias transformadas.

Médias absolutas

2

9

0,3387 A

8,88

1

9

0,2876 A B

6,44

4

9

0,2748 A B

5,88

3

9

0,2522 B

5,33

As médias seguidas pela mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

             Pode-se observar que os preparados homeopáticos do teosinto e lagarta do cartucho não diferiram entre si na sexta e oitava folha e ambos diminuíram sensivelmente a população de Spodoptera frugiperda nestas condições. Tal fato permite inferir na possibilidade de serem utilizados na agricultura orgânica como alternativa de controle da lagarta-do-cartucho em plantas de milho, mantendo a população abaixo do nível de dano econômico.

 

CONCLUSÕES

 

            Os preparados homeopáticos, insumos de baixo custo, podem ser usados na agricultura orgânica no controle de pragas.

            Os preparados homeopáticos da lagarta-do-cartucho e do teosinto foram eficazes na redução da população de Spodoptera frugiperda na fase vegetativa do milho.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, F. M. C. CASALI, V.W.D., Homeopatia no crescimento e na produção de cumarina em chambá justicia pectoralis jacq. 2000. 214p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Faculdade de Agronomia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG.

 CASTRO, D. M., CASALI,. W. V.D., A Homeopatia na Agropecuária Orgânica. In: II SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE HOMEOPATIA NA AGROPECÚARIA ORGÂNICA. 2001. Espírito santo do Pinhal. ANAIS... E. S. Pinhal-SP 2001 p 27-35

 CRUZ, I., A Lagarta do cartucho na cultura do milho. Sete Lagoas EMBRAPA/CNPMS,1995. 45p. (Circular Técnica nO 21).

 CRUZ, I., A Lagarta do cartucho: enfrente o principal inimigo do milho. In: Revista Cultivar. nO 21, 68p 1999.

 FANCELLI, L.A., NETO, D. D., Produção de Milho –Guaíba: Agropecuária, 2000 360p.

Farmacopéia homeopática brasileira. 1. ed. São Paulo, SP: Andrei, 1977. 115p.

 OLIVEIRA, L. J. Biologia, nutrição quantitativa e danos causados por Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) em milho corrigido para três níveis de alumínio 1985. 125 f. Tese (mestrado em ciências biológicas. Área de concentração: entomologia)- Escola superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo. Piracicaba –SP.

 PANDA, N., KHUSH, G. S. Host Plant Resistânce to Insects. Ed, Bristish Library. Manila: Philippines, 1995. 431p.

 SLANSKY JR., SCRIBER, J.M. Food consumption e utilization. In: KERKUT, G. A., GILBERT, L. I. Eds. Comprehencive Insect Physiology Biochemistre And Pharmacology. New York, Pergamon Press, 1985. p. 87-163