Avaliação da Qualidade das Sementes de Populações Locais de Milho

F. F. CANIATO, G.V. MIRANDA, E. F. ARAÚJO, M. T. CALDAS, L. R. OLIVEIRA, J. C. C. GALVÃO.

glauco@mail.ufv.br Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia. CEP 36571-000. Viçosa, MG.

Palavras – chave: qualidade fisiológica, vigor, sementes, germoplasma, agricultura familiar.

RESUMO

O objetivo foi avaliar a qualidade fisiológica e fitossanitária das sementes de populações locais de milho coletadas em propriedades agrícolas na região de Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 2001. O trabalho foi conduzido no Laboratório de Pesquisa de Sementes da Universidade Federal de Viçosa. Foram avaliadas populações locais de polinização aberta de milho que não possuíam denominações e foram chamadas B 9, B 10, B 16, B 11, B 17, B 18, B 19, B 20, B 21, B 22, B 23, B 25. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os testes padrão de germinação (TPG), primeira contagem e envelhecimento acelerado foram conduzidos com quatro repetições de 50 sementes. Foram realizados dois testes de envelhecimento acelerado um com fungicida e outro sem fungicida. Os resultados da germinação, avaliados pelo TPG, mostraram que somente três cultivares foram inferiores aos demais e somente dois apresentaram valores abaixo de 85%, limite mínimo para um lote com qualidade comercial. O vigor das sementes, avaliado pelo teste de primeira contagem, mostrou que somente as populações B 20, B 19 e B 17 foram superiores às populações B 21, B 25 e B 10. Os valores médios de germinação variaram de 62 a 91% nas sementes não tratadas e de 76 a 99% nas sementes tratadas. Para as populações locais B 9, B 11, B 17, B 18 e B 21, o fungicida contribuiu para melhorar a qualidade fitossanitária das sementes. Portanto, conclui-se que as populações locais de milho apresentam alta qualidade fisiológica de sementes, não sendo causa dos baixos estandes das lavouras na região e que a presença de patógenos devido ao armazenamento inadequado afeta negativamente a qualidade fitossanitária das sementes.

INTRODUÇÃO

Vários são os fatores que afetam o cultivo do milho, entre eles a qualidade e vigor das sementes utilizadas. A qualidade das sementes pode influenciar a uniformidade, a velocidade e a porcentagem de emergência em campo, além de apresentar reflexos sobre a produção final (DURÃES et al., 1993).

DURÃES et al. (1995) mostrou que o vigor das sementes de milho afetou a emergência em campo, a capacidade das plântulas em acumular matéria seca nos estádios iniciais de crescimento e que o efeito do vigor das sementes no crescimento vegetativo é consistente.

É prática comum entre os pequenos produtores de milho da Zona da Mata de Minas Gerais a utilização de sementes próprias que são mantidas pôr eles ao longo dos anos. Porém, pouco se sabe a respeito da germinação e vigor dessas sementes e quanto isto pode afetar negativamente o estande e a produção de grãos.

Diante disso, este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica e fitossanitária das sementes de populações locais de milho coletadas em propriedades agrícolas da região de Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 2001.

O trabalho foi conduzido no Laboratório Pesquisa de Sementes do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, MG. Foram avaliadas doze populações locais de milho de polinização aberta que não possuíam denominações e para este trabalho foram chamadas B 9, B 10, B 16, B 11, B 17, B 18, B 19, B 20, B 21, B 22, B 23 e B 25. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado e as análises estatísticas após a transformação dos dados para arcoseno (raiz da porcentagem/ 100) foram realizadas no Programa SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001).

As espigas foram debulhadas manualmente, sendo que as sementes das pontas foram eliminadas e as amostras foram classificadas em peneira 22 para serem utilizadas nos testes de qualidade fisiológica.

Para cada população local foi realizados o teste padrão de germinação (TPG) e o teste de envelhecimento acelerado (TEA). O TPG foi conduzido no germinador regulado a 25 ° C com quatro repetições de 50 sementes utilizando papel germiteste, embebido em água na quantidade de 2,5 vezes o peso do substrato seco. As contagens foram feitas no quinto e sétimo dias após a semeadura (BRASIL, 1992). A primeira contagem das sementes germinadas foi utilizada como teste de vigor e denominado Teste de Primeira Contagem (TPC).

Foram realizados dois testes de envelhecimento acelerado um com fungicida CAPTAN 0,2% e outro sem fungicida. O teste de envelhecimento acelerado foi conduzido seguindo o método gerbox adaptado, utilizando caixas nas dimensões 11 x 11 x 3,5 com 50 mL de água destilada. As sementes foram colocadas sobre tela para evitar o contato com a água e mantidas a 45° C durante 72 horas (FESSEL et al., 2000). Após este período, as sementes foram colocadas em germinador regulado a 25° C com cada população representada por quatro repetições de 50 sementes utilizando papel germiteste, embebido em água em quantidade de 2,5 vezes o peso do substrato seco. A contagem das plântulas germinadas e normais foi feita no quinto dia após a semeadura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do TPG mostraram que somente três cultivares foram inferiores aos demais e somente dois apresentaram valores abaixo de 85%, limite mínimo para um lote com qualidade comercial. Isto indica que os baixos estandes encontrados em lavouras estabelecidas com milho de paiol não são devidos à baixa germinação, mas, provavelmente, porque os agricultores utilizam baixo número de sementes por metro. Esta alta qualidade da semente pode ser explicada pelo próprio processo seletivo ao qual são submetidas às populações, uma vez que as plantas são colhidas com pelo menos três meses após a maturação fisiológica e suas sementes, mantidas nas espigas empalhadas, são armazenadas em condições ambientes por pelo menos cinco meses no paiol para plantio na próxima safra.

O teste de primeira contagem (TPC) mostrou que somente as populações B 20, B 19 e B 17 foram superiores às populações B 21, B 25 e B 10. Isto indica que apesar da semelhante germinação das populações, o estabelecimento dos estandes em campo pode ser diferenciado caso ocorra algum estresse climático.

Os valores médios de germinação variaram de 62 a 91% nas sementes não tratadas e de 76 a 99% nas sementes tratadas. Comparando-se os valores médios do TEA obtidos com sementes tratadas e não tratadas com fungicida (Tabela 2), observa-se que as populações locais B 10, B 16, B 19, B 20, B 22 e B 23 não apresentaram comportamento diferenciado quando tratadas com fungicida. Isto indica que os patógenos que prejudicam a qualidade da semente não são os causadores da diminuição da porcentagem do vigor em relação à porcentagem de germinação. Para as populações locais B 9, B 11, B 17, B 18 e B 21, o fungicida contribuiu para melhorar a qualidade fitossanitária das sementes. Na região, devido à alta umidade relativa do ar e precipitações na época de colheita das espigas, os agricultores costumam armazenar o milho com umidade alta, prejudicando sua qualidade.

CONCLUSÕES

Portanto, conclui-se que as populações locais de milho apresentam alta qualidade fisiológica de sementes, não sendo causa dos baixos estandes das lavouras na região e que a presença de patógenos devido ao armazenamento inadequado afeta negativamente a qualidade fitossanitária das sementes.

 

TABELA 1 – Porcentagem de germinação observada do teste padrão de germinação (TPG) e do teste de primeira contagem (TPC) para as 12 populações locais coletadas na região de Viçosa, MG, 2001

Tratamentos

TPG

TPC

(%)

(%)

B 20

97

A

96

A

B 19

99

A

95

A

B 17

95

A

93

A

B 22

95

A

92

AB

B 11

94

A

91

ABC

B 23

94

A

91

ABC

B 16

96

A

89

ABCD

B 18

93

A

88

ABCD

B 9

94

A

87

ABCD

B 21

89

AB

79

BCD

B 25

80

B

78

CD

B 10

80

B

76

D

Média

92

88

CV%

2,85

3,21

Médias seguidas por pelo menos uma letra distinta, na coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5%.

 

TABELA 2 – Resultado observado do teste de envelhecimento acelerado com fungicida e sem fungicida para as 12 populações locais de milho coletadas na região de Viçosa, MG, 2001

Tratamentos

Sem fungicida

Com fungicida

 

( %)

( %)

B 9

82

B

90

A

B 10

98

A

94

A

B 16

94

A

96

A

B 11

87

B

98

A

B 17

87

B

95

A

B 18

62

B

97

A

B 19

93

A

99

A

B 20

88

A

94

A

B 21

63

B

89

A

B 22

88

A

91

A

B 23

91

A

94

A

B 25

91

A

76

B

Média

85

 

93

 

CV (%)

2,60

Médias seguidas por letras distintas, na linha, diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5%.

LITERATURA CITADA

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. BRASÍLIA: SNDA/DNDV/CLAV, 1992.365p.

DURÃES, F. M.; CHAMMA, H. M. C. P.; COSTA, J. D.; MAGALHÃES, D.C.; BORBA, C. S. Índices de vigor de sementes de milho ( Zea mays L.) associados com emergência no campo e rendimento de grãos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FISIOLOGIA VEGETAL, 4, Fortaleza, 1993. Resumos. Fortaleza, SBFV; UFCE, 1993. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 5, n. 1, p. 90, 1993.

DURÃES, F. M.; CHAMMA, H. M. C. P.; COSTA, J. D.; MAGALHÃES,D.C.; BORBA, C. S. Índices de vigor de sementes de milho (Zea mays L.): associação com emergência em campo, crescimento e rendimento de grãos. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.17, n.1, p.13-18,1995.

FESSEL, S. A.; RODRIGUES, T. J. D. ; FAGIOLI, M.; VIEIRA, R. D. Temperatura e tempo de exposição no teste de envelhecimento acelerado em sementes de milho. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.22, n.2, p.163-170, 2000.

RIBEIRO JÚNIOR, J.I. Análises estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, 2001. 301 p.