Reação de Cultivares de Milho à Mancha de Phaeosphaeria em Condição de Estresse de Baixo Nitrogênio

G.V. MIRANDA, R.R. FIDELIS, A. VAZ DE MELO, L.V. SOUZA, M. O. SOARES, L.R. OLIVEIRA.

glauco@ufv.br Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia. CEP 36571-000. Viçosa, MG.

Palavras-chave: resistência, doença foliar, cultivar local, estresse abiótico, estresse baixo N.

RESUMO

    O objetivo foi avaliar a reação de cultivares de milho a Phaeosphaeria maydis em condição de baixo e alto nitrogênio. Os experimentos foram instalados, na safra 2001/2002, na Estação Experimental de Coimbra, MG, onde a infecção naturalmente, e receberam a mesma a adubação de plantio: 400 kg.ha-1 da formulação 8-28-16. Para simular o ambiente de baixo nitrogênio, este não foi aplicado em cobertura e para simular o ambiente com alto teor de N, este foi aplicado em cobertura, em dose equivalente a 90 kg.ha-1de N parcelados em duas aplicações (45 kg.ha-1no estádio de quatro folhas e 45 kg.ha-1 no estádio de oito folhas). Para os dois ensaios, o delineamento experimental utilizado foi o látice 5x5, com duas repetições. Foram avaliadas oito plantas por parcela, 90 e 100 dias após o plantio. Foi utilizada a escala de notas de 1 a 9, correspondendo às porcentagens de área foliar afetada de 0 e maior que 80%, respectivamente. Foi realizada a análise de variância para médias das notas em cada avaliação. Na segunda avaliação, os cultivares comportaram-se de forma diferenciada, sendo possível verificar a ampla variabilidade genética quanto ao nível de resistência entre os híbridos. Os híbridos que apresentaram o mesmo tipo de reação em ambos os ambientes foram UFV00 – 01 como mediamente resistente, UFV00 – 06, 07, 10, 12, 19, 24 e 25 como mediamente suscetível e UFV00 – 17 como suscetível. A análise permitiu identificar que no ambiente em que foi empregada a maior adubação, houve maior severidade da mancha de Phaeosphaeria em relação ao ambiente com menor adubação e que os cultivares apresentaram diferentes respostas à mancha de Phaeosphaeria e aos níveis de nitrogênio.

INTRODUÇÃO

O melhoramento de milho, na década de 80, priorizou produtividade de grãos e resistência ao acamamento. Nos últimos anos, tem havido alteração no porte e ciclo da planta de milho, predominando cultivares de porte baixo, ciclo precoce ou superprecoce e indicados para plantio em maior amplitude de ambientes. Por outro lado, vem agravando-se a ocorrência de doenças foliares, principalmente em decorrência do aumento nas épocas de plantio: setembro a novembro (safra) e fevereiro a março (safrinha). Desta forma, tornou-se necessária à avaliação de cultivares quanto à resistência a doenças (SAWAZAKI et al., 1997).

A mancha foliar de Phaeosphaeria maydis, também conhecida como "Pinta branca", é considerada importante doença do milho, devido a sua ampla distribuição e aos prejuízos que tem causado aos cultivares suscetíveis. A incidência e a severidade desta doença no Brasil aumentou significativamente a partir dos anos 90, podendo ser hoje encontrada em praticamente todas as regiões onde o milho é cultivado. Embora a utilização de cultivares resistentes seja o método mais eficiente para o seu controle, a maioria dos cultivares comerciais de milho tem se mostrado muito suscetível a esse patógeno, o qual poderá reduzir a produção de grãos em até 60% (DOURADO, 2000).

A manha de Phaeosphaeria tem ocorrido de maneira generalizada no Estado de Minas Gerais, havendo poucas referências na literatura acerca da doença, do patógeno e de fontes de resistência. Geralmente, aparece no final do ciclo da cultura, mas tem afetado plantas mais jovens, secando-as prematuramente (BALMER & PEREIRA, 1987).

Nas regiões produtoras de milho tem-se verificado maior predominância da mancha de Phaeosphaeria nos meses de dezembro a março. Os sintomas da doença são lesões que, na fase inicial, são verde-claras ou cloróticas, arredondadas, com 0,5 a 1,5 cm de diâmetro e, posteriormente, de cor palha-clara e com as bordas bem definidas de cor marrom-escura (VENTURA E RESENDE, 1996). Em cultivares comerciais suscetíveis, o patógeno se multiplica nas folhas inferiores e passa em seguida para as folhas acima da espiga. As grandes áreas das lesões se juntam e causam requeima das folhas que interrompem a fotossíntese na fase de enchimento dos grãos e secam prematuramente as espigas antes de atingir seu tamanho normal (COLORADO, s.d.).

Muitos autores (SILVA et al., 1991; VENTURA E RESENDE, 1996; SILVA, 1997; PEREIRA, 1997) têm afirmado que, para o controle da mancha de Phaeosphaeria, o uso de cultivares resistentes é o método mais eficiente nas regiões onde o patógeno encontra melhores condições de desenvolvimento.

Fatores de ambiente, como o manejo da adubação, podem ser responsáveis pela predisposição de plantas ao ataque de patógenos (BEDENDO, 1995).

Considerando a importância da mancha de Phaeosphaeria, a falta de informações de resistência de cultivares na região e a relação desta doença com a presença de nitrogênio no solo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a resistência de cultivares de milho a Phaeosphaeria maydis em condição de estresse de baixo nitrogênio e sem estresse de nitrogênio.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na safra 2001/2 na Estação Experimental de Coimbra pertencente à Universidade Federal de Viçosa, localizada no município de Coimbra, MG. O plantio foi realizado no dia 30 de novembro de 2001. Foram avaliados vinte e cinco cultivares de milho, entre híbridos intervarietais e cultivares comerciais, em dois ambientes que receberam a mesma adubação de plantio (400 kg/ha da formulação 8-28-16). Para simular o ambiente de baixo nitrogênio, este não foi aplicado em cobertura e para simular o ambiente com alto teor de N, este foi aplicado em cobertura, em dose equivalente a 90 kg.ha-1de N parcelados em duas aplicações (45 kg.ha-1 no estádio de quatro folhas e 45 kg.ha-1 no estádio de oito folhas).

O delineamento experimental utilizado foi o látice 5 x 5 com duas repetições. Cada parcela foi constituída de duas fileiras de 5 m com 20 plantas/fileira espaçadas de 0,90 m.

A avaliação visual dos híbridos quanto à severidade de Phaeosphaeria maydis foi realizada considerando oito plantas por parcela, com o auxílio da escala de notas de 1 a nove, respectivamente, para 0%, 1%, 10%, 20%, 30%, 40%, 60%, 80% e maior que 80% de tecido foliar afetado, segundo o procedimento do Guia Agroceres de Sanidade (1996) para esta doença. Foram realizadas duas avaliações, em intervalos de 10 dias, a partir de 30 dias após o florescimento. É importante destacar que os postulados de Kock ainda não foram obtidos para a mancha por Phaeosphaeria (SAWAZAKI et al., 1997); assim sendo, a avaliação foi feita com base na infecção natural do fungo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise permitiu identificar que os ambientes de alto e baixo N foram diferentes quanto ao ataque do fungo P. maydis (Tabela 1). Assim, no ambiente em que foi empregada a maior adubação (120 kg/ha de N) houve maior severidade da mancha de Phaeosphaeria, em relação ao ambiente em que foi empregada a menor adubação (30 kg/ha de N). Estes resultados corroboram com BEDENDO (1995) que relata que fatores de ambiente, como o manejo da adubação, podem ser responsáveis pela predisposição de plantas ao ataque de patógenos. Para a segunda avaliação, não foi constatada diferença entre ambiente devido à grande quantidade de inóculo.

Os diferentes genótipos apresentaram comportamento similar em relação à severidade de Phaeosphaeria na primeira avaliação, não diferindo estatisticamente (Tabela 1).

A significância da interação na segunda avaliação (Tabela 1) mostrou que os genótipos foram dependentes do ambiente, sendo a razão para isto o nitrogênio aplicado em cobertura.

Na segunda avaliação, os cultivares comportaram-se de forma diferenciada, onde foi possível verificar a ampla variabilidade genética quanto ao nível de resistência entre os híbridos. Os híbridos que apresentaram o mesmo tipo de reação em ambos os ambientes foram UFV00 – 01 como MR/MS apresentando entre 34-36% de área foliar afetada; UFV00 – 06, 07, 10, 12, 19, 24 e 25 como MS apresentando entre 40-46% de área foliar afetada; UFV00 – 17 como S apresentando aproximadamente 64,5% de área foliar afetada (Tabela 2). Resultados semelhantes foram obtidos em outros experimentos com diferentes genótipos de milho (MENTEN, et al., 1996; SAWAZAKI et al., 1997; FANTIN, 1994), sugerindo que a espécie apresenta genes para resistência a esta doença.

CONCLUSÕES

Com os resultados obtidos, é possível concluir que nitrogênio foi fator determinante para que ocorresse maior infestação de mancha Phaeosphaeria no ambiente com alto teor deste elemento. No presente estudo o híbrido UFV00 - 01 foi o único a apresentar menor severidade e da doença em ambos ambientes.

TABELA 1 - Resumos das análises de variância dasmédias de severidade de Phaeosphaeria maydis, em  duas épocas de avaliação

Avaliação 1

F.V.

GL

SQ

QM

F

Bloco / Ambiente

2

3,539898

1,539898

1,939323

Genótipos

24

21,34241

0,889267

1,119928

Ambiente

1

46,33525

46,33525

58,353872*

Genótipo x Ambiente

24

16,26123

0,677551

0,853297

Resíduo

48

38,1139

0,794039

 

Total

99

125,592688

   
 

Avaliação 2

F.V.

GL

SQ

QM

F

Bloco / Ambiente

2

5,63525

2,817625

5,498159*

Genótipos

24

26,10341

1,087642

2,122365*

Ambiente

1

0,0361

0,0361

0,070443

Genótipo x Ambiente

24

18,36

0,765

1,492779**

Resíduo

48

24,5984

0,512467

 

Total

99

74,73316

   

* e ** Significativo a 5% e 1% de probabilidade pelo teste F, respectivamente.

TABELA 2 - Notas de severidade de Phaeosphaeria  maydis na avaliação 1 (AV1), avaliação 2 (AV2), área foliar afetada (%), tipo de reação (TR) dos cultivares de milho em condições de alto e baixo teor de nitrogênio

   

Alto N

     

Baixo N

   

Cultivares

AV1

AV2

AF

TR*

AV1

AV2

AF

TR*

UFV00-01

4,63

5,88

35,28

MR/MS

3,07

5,69

34,14

MR/MS

UFV00-02

3,69

5,07

30,42

MR/MS

3,19

6,19

41,27

MS

UFV00-03

5,19

6,32

42,13

MS

3,13

5,94

35,64

MR/MS

UFV00-04

5,13

6,94

46,27

MS

3,26

7,51

64,37

S

UFV00-05

5,57

6,88

45,87

MS

4,50

7,32

62,74

S

UFV00-06

3,75

6,22

41,47

MS

3,38

6,13

40,87

MS

UFV00-07

3,76

6,25

41,67

MS

4,32

6,88

45,87

MS

UFV00-08

4,94

6,44

42,93

MS

3,38

7,32

62,74

S

UFV00-09

5,32

5,82

34,92

MR/MS

3,13

7,38

63,26

S

UFV00-10

4,94

6,12

40,80

MS

3,38

6,82

45,47

MS

UFV00-11

4,32

5,82

34,92

MR/MS

3,94

7,13

61,11

S

UFV00-12

4,32

6,38

42,53

MS

3,56

6,26

41,73

MS

UFV00-13

5,82

7,51

64,37

S

3,28

6,31

42,07

MS

UFV00-14

5,44

7,25

62,14

S

4,13

5,94

35,64

MR/MS

UFV00-15

6,32

8,13

81,30

S

4,38

6,88

45,87

MS

UFV00-16

5,00

7,50

64,29

S

3,32

6,69

44,60

MS

UFV00-17

5,13

7,57

64,89

S

4,13

7,50

64,29

S

UFV00-18

6,19

7,39

63,34

S

3,98

6,51

43,40

MS

UFV00-19

5,76

6,82

45,47

MS

3,25

6,19

41,27

MS

UFV00-20

5,38

6,07

40,47

MS

3,50

5,88

35,28

MR/MS

UFV00-21

5,65

5,98

35,88

MR/MS

3,19

7,40

63,43

S

UFV00-22

5,32

7,32

62,74

S

3,82

6,94

46,27

MS

UFV00-23

5,13

6,38

42,53

MS

3,26

5,13

30,78

MR/MS

UFV00-24

4,44

6,07

40,47

MS

3,13

6,38

42,53

MS

UFV00-25

6,63

6,88

45,87

MS

3,76

6,51

43,40

MS

* MR - moderadamente resistente; MS – moderadamente suscetível; S – suscetível;

LITERATURA CITADA

AGROCERES. Guia agroceres de sanidade. São Paulo: Sementes Agroceres, 1996. 72p.

BALMER, E; PEREIRA, O.A.P. Doenças no milho. In: Paterniani, E. e Viégas, G.P. (Ed.). Melhoramento e produção de milho. 2nd ed. Campinas, Fundação Cargill. 1987. p. 597-634.

BEDENDO, I.P. Ambiente e doença. In: Bergamin Filho, A.; Kiati, H.; Amorim, L. (Ed.) Manual de Fitopatologia. São Paulo, Agronômica Ceres. 1995. p. 331- 341.

            COLORADO. Guia de híbridos colorado. Orlândia: Sementes Colorado, s.d.

 

DOURADO NETO, D; FANCELLI, A. L. Produção de milho. Guaíba: Agropecuária, 2000. 360p.

FANTIN, G.M. Mancha de Phaeosphaeria, doença do milho que vem aumentando a sua importância. Biológico, v. 56, n. ½, p. 39, 1994.

MENTEN, J.O.M., PARADELA, A.L., MARINS, L.D.M. e ARANTES, S.R.A. Reação de genótipos de milho à Phaeoshpaeria maydis e efeito na produtividade. Revista Ecossistema, v. 21, p. 72-74, 1996.

PEREIRA, O.A.P. Doenças de milho. In: KIMATI, H.; AMORIN, L.; BERGAMIN FILHO, A. et al.(Ed.) Manual de Fitopatologia, 3 ed., São Paulo: Ceres, 1997, p. 538-555.

SAWAZAKI, E., DUDIENAS, C., PATERNIANI, M.E.A.G.Z., GALVÃO, J.C.C., CASTRO, J.L., PEREIRA, J. Reação de cultivares de milho à mancha de Phaeosphaeria no Estado de São Paulo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.32, n.6, p. 585-589. 1997.

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VENTURA, J. A; RESENDE, I.C. Doenças do milho. In: ___. Manual Técnico para a cultura do milho no Estado do Espírito Santo. Vitória: EMCAPA, 1996, p. 151-167.