Comportamento de Cultivares de Polinização Aberta de Milho na Zona da Mata de Minas Gerais

L. V. de SOUZA, G. V. MIRANDA, A. VAZ de MELO, L. J. M. GUIMARÃES, M.J.R. CALAIS, F. R. ECKERT e J. S. LIMA.

Glauco@ufv.br  Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Fitotecnia. CEP 36571-000. Viçosa, MG.

Palavras-chave: Interação genótipos x ambientes, estresse abiótico, estresse mineral, variedade local, agricultura familiar.

O objetivo foi avaliar e identificar cultivares de polinização aberta na Zona da Mata de Minas Gerais, buscando a otimização do potencial dos cultivares na região.  Para isso, o Programa Milho® UFV organizou e conduziu o Ensaio Regional de Cultivares de Polinização Aberta em Viçosa e Jequeri, MG. Os cultivares utilizados foram UFV M11, AL 30, UFV M4, Eldorado, AL Bandeirantes, BR 201, Pedra Dourada, AL 34, Saracura, BR 106, UFV M7, UFV M 6, BR 473, Sol da Manhã, UFV M13 e AL 25. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com duas repetições. Cada parcela foi constituída de duas fileiras de cinco metros de comprimento, com espaçamento de 0,90 m entre fileiras, com densidade de cinco plantas por metro linear. A adubação de plantio para o ensaio instalado em Viçosa foi realizada com 300 kg.ha-1 da formulação 8-28-16 com fonte N-P-K e a adubação de cobertura com 60 kg.ha-1 de nitrogênio. Em Jequeri, na propriedade de agricultor, a adubação de plantio foi realizada com 170 kg.ha-1 da formulação 4-30-10 com fonte N-P-K e a adubação de cobertura com 50 kg.ha-1 de nitrogênio. Os cultivares apresentaram comportamento contrastante nos ambientes, caracterizando a interação genótipos x ambientes. O maior peso médio de espigas foi alcançado pelo cultivar experimental UFV M11 em Jequeri e pelo cultivar experimental UFV M4 em Viçosa. Considerando a média dos dois ambientes, UFV M11 apresentou o maior peso de espigas. Os resultados obtidos comprovam o potencial produtivo e a viabilidade técnica da utilização dos cultivares de polinização aberta, sendo que para otimizar este potencial deve-se sempre utilizar o cultivar mais adaptado para cada ambiente.

INTRODUÇÃO

ambiente.O milho é de fundamental importância para diversas atividades como a avicultura, suinocultura e indústria. Em 1991, no Brasil, 60% do milho produzido foi utilizado na criação animal e nas indústrias de transformação e o restante foi consumido nas propriedades rurais. A produção de milho tem oscilado anualmente devido às forças econômicas que afetam a área plantada e a produtividade. Apesar do Brasil ser o terceiro maior produtor de milho o volume produzido anualmente não é suficiente para atender a demanda nacional. A produção tem sido obtida por diversos sistemas, desde os que empregam o mais alto nível tecnológico até os de subsistência, caracterizando as diferentes necessidades dos agricultores (EMBRAPA, 1992). Porém, em qualquer sistema de produção, a utilização de cultivares avaliados na região, otimiza a produção.

Diversos cultivares de milho são recomendados para plantio no Estado de Minas Gerais. Para a recomendação de cultivares para grandes regiões geográficas é utilizado o desempenho médio obtido pelos cultivares nos diferentes locais de avaliações, buscando otimizar o potencial do cultivar. A utilização de ensaios regionais de avaliação de cultivares fornece dados que possibilitam inferir sobre o verdadeiro potencial genético do cultivar, buscando a otimização do mesmo para o desenvolvimento regional. É de mesma importância, que o ambiente de avaliação de cultivares seja semelhante às condições da agricultura da região, fazendo com que os resultados obtidos das avaliações sejam válidos para a indicação correta de cultivares.

O cultivo de milho na Zona da Mata de Minas Gerais é praticado principalmente por pequenos agricultores, quase sempre em condições de estresse mineral e de seca. O valor das sementes híbridas limita sua utilização por grande parte dos agricultores desta região. Por isso, na região, a seleção de cultivares de polinização aberta tolerantes ao estresse de seca e mineral, e com baixo custo de sementes, seria importante para o fomento da produção de milho nesta região.

O objetivo deste trabalho foi avaliar e identificar cultivares de polinização aberta para a Zona da Mata de Minas Gerais, buscando a otimização do potencial dos cultivares na região.

MATERIAL E  MÉTODOS

Programa Milho® UFV organizou e conduziu o Ensaio Regional de Avaliação de Cultivares de Polinização Aberta em Viçosa e Jequeri, MG, no ano agrícola 2001/2. O ensaio em Viçosa foi conduzido na Estação Experimental do Aeroporto e em Jequeri em propriedade de um agricultor.

Os cultivares utilizados foram UFV M11, AL 30, UFV M4, Eldorado, AL Bandeirantes, BR 201, Pedra Dourada, AL 34, Saracura, BR 106, UFV M7, UFV M 6, BR 473, Sol da Manhã, UFV M13 e AL 25. Nos dois ensaios foi utilizado como testemunha o híbrido duplo BR 201, que é um dos mais vendidos na região.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com duas repetições. Cada parcela foi constituída de duas fileiras de cinco metros de comprimento, com espaçamento de 0,90 metro entre fileiras, totalizando a área útil de 9m2, com densidade de cinco plantas por metro linear, perfazendo o estande final estimado em 55.000 plantas.ha-1.

A adubação de plantio para o ensaio instalado em Viçosa foi realizada com base na análise química e física do solo, sendo utilizado 300 kg.ha-1 da formulação 8-28-16 com fonte N-P-K e a adubação de cobertura com sulfato de amônia na quantidade de 60 kg.ha-1 de nitrogênio. Em Jequeri a adubação de plantio foi realizada com 170 kg.ha-1 da formulação 4-30-10 com fonte N-P-K e a adubação de cobertura com sulfato de amônia na quantidade de 50 kg.ha-1 de nitrogênio Os tratos culturais foram realizados sempre que necessários, de acordo com as recomendações para a cultura do milho (EMBRAPA, 1993).

O peso de espigas foi corrigido para 13% de umidade e pela análise de covariância para o estande inicial (VENCOVSKY e BARRIGA, 1992). As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SAS (SAS Institute, 1996). 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A significância dos ambientes mostrou que estes foram altamente contrastantes, proporcionando condições distintas aos cultivares. Por sua vez, houve diferenças significativas para a produção de espigas entre os cultivares na média dos dois ambientes. A interação ambiente x cultivar significativa mostrou que os cultivares tiveram comportamento distinto em cada ambiente e que é possível indicar cultivares para cada ambiente de forma que estes possam expressar todo o seu potencial produtivo (TABELA 1).

Como não há condições técnicas e econômicas de realizar um experimento em cada município/ ecossistema da região, o resultado médio dos cultivares para os ambientes é a maneira mais viável de encontrar o cultivar mais adequado para a região.

Assim, como não há condições técnicas e econômicas de subdividir ainda mais a região, o resultado médio dos cultivares para os ambientes é a melhor maneira de encontrar o cultivar mais adequado para a região. Considerando o resultado médio dos ambientes de avaliação foi observado que o cultivar experimental UFV M11 obteve a maior média, superando o cultivar comercial de melhor desempenho, AL 30. No entanto, observa-se que o ótimo desempenho do cultivar UFV M11 na média dos ambientes deveu-se à melhor adaptação ao ambiente de Jequeri, onde a interação com o ambiente proporcionou a otimização do seu potencial produtivo.  Em Viçosa, o cultivar de melhor comportamento foi o cultivar experimental UFV M4, superando o melhor cultivar comercial AL 30 (TABELA 2). Portanto, observa-se que apesar do Programa Milho® UFV desenvolver e selecionar milho para região específica ainda existe interação genótipos x ambientes.

 Os resultados obtidos comprovam o potencial produtivo e a viabilidade técnica da utilização dos cultivares de polinização aberta, sendo que para otimizar este potencial deve-se sempre utilizar o cultivar mais adaptado para cada ambiente.

TABELA 1 - Análise de variância para peso de espigas nos ensaios conduzidos em Viçosa e Jequeri, MG. No ano agrícola 2001/2

FV

GL

  SQ

         QM

  F

Blocos

1

4.291.610

4.291.610

 

Ambientes

1

29.762.900

29.762.900

18,14**

Cultivares

15

53.535.860

3.569.057

2,18 *

Ambientes x cultivares 

15

58.128.390

3.875.226

2,36 *

Resíduo

31

50.849.870

1.640.318

 

Total

63

196.568.600 

 

 

*, ** significativo a 5 e 1 % de significância, respectivamente.

TABELA 2 - Produtividades médias de peso de espigas (kg.ha-1) dos cultivares nos ensaios em Jequeri e Viçosa, MG, no ano agrícola 2001/2 

Cultivares

Jequeri

Viçosa

Médias

UFV M11

9.944

5.790

7.867

AL 30

7.388

8.080

7.734

UFV M4

6.777

8.352

7.565

Eldorado

8.444

6.522

7.483

AL Bandeirantes

7.666 

6.747

7.206

BR 201

8.444 

5.476

6.960

Pedra Dourada

7.611 

6.275

6.943

AL 34

7.222 

6.437

6.829

Saracura

6.972 

6.624

6.798

BR 106

6.444 

6.686

6.565

UFV M7

7.277 

5.435

6.356

UFV M6

6.021 

6.173

6.097

BR 473

5.333 

5.936

5.634

Sol da Manhã

6.055 

4.722

5.389

UFV M13

6.999 

3.055

5.027

AL 25

7.666 

2.132

4.899

Média

7.266 

5.903

6.585

DMS (5%)

-

-

1.312

CV (%)

-

-

19,0

 LITERATURA CITADA

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Relatório Técnico Anual do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo 1988-1991. Sete Lagoas: EMBRAPA, CNPMS, 1992. 247 p. 

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Recomendações técnicas para o cultivo do milho. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993. 204 p. 

SAS Institute. SAS/STAT user’s guide. SAS Inst., Cary, NC, USA, 1996. 

VENCOVSKY, R; BARRIGA, P. Genética Biométrica no Fitomelhoramento. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, SP. 487 p. 1992.