23a Aula

O CAPITALISMO NA RÚSSIA

O capitalismo anárquico que substituiu o planejamento central soviético é, certamente, uma fase de desenvolvimento, não a meta final do desenvolvimento econômico russo. Contudo, ele não está evoluindo na direção de qualquer economia ocidental, mas sim na direção híbrida na qual a intervenção estatal extensiva coexiste com amplas áreas de atividade empresarial desregulamentada.

O comunismo de guerra, entendido como uma tentativa de modernização segundo um modelo ocidental, foi abandonado em 1921 através da busca de ajuda internacional e, como consequência, numa primeira etapa, a Administraão Americana de Socorro e outras organizações de ajuda externa alimentaram mais de 10 milhões de bocas. O preço de se aceitar uma modernização modelada no desenvolvimento industrial europeu do século 19 foi prejudicar de modo permanete sua capacidade de alimentar a si mesma.

Os modelos em que o tratamento de choque da Rússia se baseava - o controle bem sucedido da inflação na América Latina e a imitação desse sucesso na Polônia pós comunista - tiveram pouca utilidade na Rússia, pois a longevidade do regime comunista na Rússia e o seu gigantesco complexo industrial-militar, em torno de um terço do seu PIB, eram peculiares. Em termos mais gerais, a falta de tradição de negócios privados legítimos mostraram que não havia as precondições para uma terapia de choque bem sucedida.

A partir de 1992 os preços foram liberados, com controle de preços sendo suspensos por 90 dias: no dia seguinte as filas desapareceram das lojas, os preços subiram 250%, os salários 50%, o que durante algum tempo garantiu a lucratividade das empresas. Com a liberação dos preços, boa parte da economia era dominada pelos monopólios. O segundo ponto do tratamento de choque foram as privatizações, que aconteceram num cenário de corrupção elevado, enquanto o terceiro elemento da terapia de choque foi a estabilização das finanças do Estado, sob a égide do FMI, onde devido a meta do orçamento equilibrado, o dinheiro não seria emitido para financiar as atividades governamentais.

Com o severo aperto monetário, a taxa de inflação havia caído substancialmente, demonstrando o sucesso de tal política em termos de política antiinflacionária. Os custos sociais provocaram uma imensa queda no padrão de vida das pessoas e lançaram a maioria na mais absoluta miséria. Com o aumento do desemprego segui-se um colapso histórico da atividade econômica.

Conforme relato da época, "... a Rússia não esteve em transição, e sim num colapso permanente de tudo o que é essencial para uma existência decente - de salários reais, recursos para a seguridade social e assistência médica até taxas  de nascimentos e expectativa de vida; de produção industrial e agrícola até educação, ciência e cultura tradicional; de segurança nas ruas até processos contra o crime organizado e os burocratas ladrões; das ainda gigantescas forças militares à segurança dos materiais e dispositivos nucleares."