18a Aula

O QUE A GLOBALIZAÇÃO NÃO É

De um lado, é a difusão mundial das modernas tecnologias de produção industrial e de comunicação de todos os tipos de fronteiras - no comércio, capital, produção e informação. Mas não é uma condição singular, um processo linear ou um ponto final de mudança social. Uma situação universal de integração equitativa na atividade econômica em nível mundial é exatamente o que a globalização não é.

Por trás de todos os sentidos da globalização encontra-se uma única idéia, que pode ser denominada de des-localização: a desvinculação de atividades e relacionamentos das origens e culturas locais, ou seja, pode ser definida como a intensificação das relações sociais universais que ligam realidades distantes, de tal modo que os acontecimentos locais são moldados por eventos que estão ocorrendo a muitos kilômetros de distância e vice-versa.

Os preços internos são cada vez menos definidos pelas condições locais e nacionais, pois passam a flutuar juntamente com os preços do mercado global. A globalização é frequentemente considerada um caminho em direção à homogeneidade: novamente isso é exatamente o que a globalização não é. Os mercados globais nos quais capital e produção transitam livremente através das fronteiras funcionam precisamente devido às diferenças entre localidades, nações e regiões.

Nenhuma cultura econômica, em qualquer lugar do mundo, consegue resistir às mudanças que lhe são impostas pela existência de mercados globais, os quais impõem uma modernização forçada às economias em toda parte. Não são criadas réplicas das antigas culturas mercantis, mas sim novos capitalismos e a destruição dos antigos. A magnitude da globalização de hoje - velocidade, extensão, interconexão de movimentação de mercadorias e informações ao redor do mundo - é tremendamente maior do que qualquer outra que tenha existido em qualquer período anterior da história.

Uma escola de pensamento prevê que os mercados globais tornaram os Estados-nações sem poder e corporações sem domicílio. Enquanto as culturas nacionais tornam-se pouco mais do que preferências de consumidor, as empresas tornam-se cada vez mais cosmopolitas em suas culturas corporativas. Não se pode esquecer que em Estados frágeis, é mais difícil regulamentar a mobilidade da produção e do capital, mas é também mais difícil para os negócios costurar um relacionamento empresarial duradouro com os governos.

As corporações multinacionais gastam recursos consideráveis para influenciar as políticas governamentais e colaboram com a visão de que o Estado não é redundante. Na maior parte do mundo, as instituições estatais são um terreno estratégicamente decisivo no qual é travada a batalha de concorrência entre as corporações. A base econômica dos partidos políticos se enfraqueceu e ao mesmo tempo, a influência dos grupos de pressão em uma única finalidade se acentuou.

A flexibilidade e a mobilidade impostas pela desregulamentação dos mercados de trabalho exercem uma tensão especial sobre os costumes tradicionais da vida familiar e o crescimento dos contratos de trabalho sem vínculo empregatício tende a reduzir a força de trabalho permanente das modernas empresas a um quadro pequeno. As empresas estão reduzindo seus gastos sociais ao transferir a responsabilidade da contribuição para a aposentadoria para as pessoas físicas, sendo que algumas empresas não estão longe de serem totalmente virtuais.

Com a enorme mudança na produção e no fornecimento de serviços, a engenharia financeira, e não a produção, tornou-se a atividade mais rentável. Mas a covicção de que o capitalismo provocará em toda parte uma desordem similar é um erro básico, pois o impacto será diferente decorrente das raízes culturais de cada região. Na Europa, por exemplo, devido  a algumas restrições impostas por instituições sociais, a principal fonte de divisão social é o acesso desigual ao trabalho. Nos Estados Unidos, a fonte primordial seria as desigualdades de renda e riqueza, simultaneamente com as desigualdades na saúde, educação, segurança contra o crime, e os tipos de trabalho acessíveis aos diferentes setores da população. Na China e na Rússia a desordem se manifesta na falta de solidariedade entre diferentes setores da sociedade e em uma profunda degradação do meio ambiente.