3a Aula

AS ÓTICAS DE KEYNES E SCHUMPETER

Rejeitando a ortodoxia e sua visão em relação ao desemprego, Keynes se contrapõe à Lei de Say através do princípio da demanda efetiva, uma vez que para ele a ideia que toda oferta gera sua própria demanda não se aplicava para as novas sociedades industriais. Ao separar a demanda agregada em investimento (I) e consumo (C) torna-se possível demonstrar que a oferta inicial pode ser diferente da demanda final, ou seja, ao contrário dos clássicos, é a demanda, ou melhor, as expectativas da demanda, que determinam a oferta.

Sabe-se que o consumo tende a crescer com uma elevação da renda e que o crescimento menos proporcional daquele permite a poupança de uma maior parcela da renda. Nos moldes primitivos essa poupança seria o próprio investimento, o que significa que a oferta, nesse caso gera sua própria demanda. Mas o contexto em uma economia monetária, a poupança se transforma, ex-ante, em ativos financeiros que podem ou não ser transformados em investimentos: o ponto de equilíbrio não decorre mais da poupança, mas do investimento realizado.

Logo, decorrente da função consumo, é a renda e, consequentemente , o consumo e a poupança ex-post que decorrem do investimento e não o inverso.

Sendo Y = renda ou produto; DA = demanda agregada; C = consumo; I = investimento; S = poupança:  c (>0 e <1) = propensão marginal a consumir; A = uma constante; para Y = DA = C + I, com C = A +cY, obtem-se:

Y = A + cY + I

Y -cY = Y(1-c) = A + I, onde, Y = (A+ I) 1/(1-c)

Como C + S = Y: Y - C = S = I

O multiplicador keynesiano, em negrito, multiplica o gasto autônomo mais o investimento, determinando a renda. O aumento do gasto autônomo através do investimento provoca tanto um aumento na demanda agregada como uma elevação da renda através da propensão a consumir.

Assim sendo sempre que I se eleva, ocorre um aumento multiplicado da renda até que, dado c, tem-se uma S equivalente ao I. Da mesma forma, mantido I constante, caso se busque aumentar S , reduzindo-se C, reduz-se o multiplicador, provocando queda na renda até que S se equilibre com I. A ideia é que  I determina DA e consequentemente o nível de renda e nível de emprego.

Com baixo I, renda e demanda são baixas e nível de emprego também, independente do nível salarial dos trabalhadores. Isso caracteriza desemprego involuntário, onde a tentativa de ampliar uma S baixa para ampliar o I, como se suponha a ortodoxia neoclássica, só piora a situação. Para Keynes, os empresários se envolvem em dois tipos de decisões: quanto produzir - quanto contratar de mão-de-obra para operar a capacidade produtiva existente - e quanto investir, ou seja, quanto gastar para ampliar essa mesma capacidade.

No curto prazo as decisões são tomadas pelas expectativas de demanda em termos imediatos: com crescimento das vendas e queda nos estoques, amplia-se a produção e vice-versa. No curto prazo, portanto, a lógica é baseado no princípio da demanda efetiva. No longo prazo a decisão não é imediata e nem confiável: ocorre comparação entre expectativa de rendimentos futuros e o custo do investimento.

As bolsas de valores se constituem numa espécie de grande sinalizador do capitalismo moderno: se as ações estão em baixa, os investimentos se reduzem pois se podem adquirir estruturas produtivas já existentes a preços menores; se estão em alta, crescem os investimentos devido a expectativas positivas em relação ao rendimento esperado.

A ESCOLA SCHUMPETERIANA

Ao contrário de Keynes, Schumpeter não se interessou pelo gráu de ocupação de uma dada capacidade produtiva, mas sim no entendimento de como essa capacidade cresce e se modifica. Sua preocupação não é estudar o investimento enquanto mecanismo de crescimento e acumulação de capital, mas sim enquanto veículo de inovação: para ele cresimento não é desenvolvimento e sim a mera acumulação de capital. De acordo com sua Teoria de Desenvolvimento Econômico (TDE), são cinco tipos básicos de inovações (desenvolvimento):

de um novo produto ou nova qualidade

novo processo produtivo ou nova logística comercial

novos mercados para bens já existentes

novas fontes de matérias primas

nova organização industrial, visando, P.e., o monopólio

O que caracteriza o empresário, mais do que seu capital, é o seu perfil inovador. Mesmo não sendo um capitalista, o empresário pode se transformar em um, quando bem sucedido. A teoria evolui ao perceber a crescente importância do capitalismo organizado ou trustificado, onde as grandes empresas possibilitam o desenvolvimento de laboratórios e centros de pesquisa e comandam o processo de inovação e progresso técnico.

Sua análise refuta a idéia de que o bem estar econômico só pode ser obtido através de pequenas empresas operando em concorrência perfeita, baseando-se no fato de que as grandes empresas - mesmo operando em caráter de oligopólio e não competindo expressivamente por preços - não cessam a concorrência. Assim sendo, o I não é autônomo, mas decorrente de inovações empreendidas na busca dos lucros de monopólio.

Schumpeter divide o ciclo em fases de prosperidade, recessão, depressão e retomada. Com o esgotamento do processo de inovação e difusão, inicia-se a recessão, onde não só o I se reduz, bem como novas indústrias prevalecem sobre as indústrias tecnologicamente defasadas. Inicia-se um processo de desinvestimento que culmina com a depressão. Com o fim do investimento privado, a depressão, alimentando-se apenas do próprio pânico, se desvanece e a racionalidade volta a imperar, promovendo a retomada da economia para um nível superior.

Para Schumpeter, as proposições para eliminação do ciclo significa eliminar o próprio desenvolvimento. Somente na fase de depressão seria justificada uma abordagem dessa natureza de forma a minimizar o pânico e criar condições para para retomada e surgimento de nova expansão.