2a Aula

INTRODUÇÃO

A partir da Segunda Guerra Mundial, as economias capitalistas viveram um período de grande prosperidade, com elevadas taxas de crescimento/produtividade associadas a baixas taxas de desemprego - em alguns casos com pleno emprego - e inflação sob controle. Em síntese, uma verdadeira idade de ouro do capitalismo.

Ao final dos anos 60 a inflação se acelera e com o desaquecimento da economia, descobre-se que o trade-off proposto por Phillips não ocorria e como a inflação não reduzia conforme previsto, o fenômeno da estagflação se manifesta. O fracasso empírico da teoria Keynesiana, reforçada pelos dois choques de petróleo nos anos 70, permite o crescimento de linhas teóricas mais conservadoras tais como o monetarismo e as expectativas racionais, como estratégias de combate sistemático á inflação.

Embora o problema da inflação tenha sido superado, o que se deve a um retorno do preço do petróleo a patamares inferiores, o desemprego gerado pela recessão dos anos 70 se expande nos anos 80, mesmo com a retomada do crescimento. Rompe-se com a teoria Keynesiana, uma vez que o novo fenômeno - crescimento sem emprego - é algo impensável dentro desta teoria.

Segundo FREEMAN e SOETE: "...a prevenção do persistente desemprego em massa não é, consequentemente, apenas um problema de crescimento econômico. É uma questão de sobrevivência da sociedade civilizada".

Para os economistas neoclássicos o problema do desemprego não chega a preocupar, pois a hipótese é que dada a racionalidade dos agentes macroeconômicos, a economia tenderá sempre para o pleno emprego. Assim sendo, salvo problemas expectacionais temporários, todo desemprego é voluntário ou decorrente de indevidas intervenções governamentais. Significa dizer que o diagnóstico sobre causas do desemprego para os anos 80/90 são os mesmos da década de 30.

O resultado é que se de um lado houve reduções nas taxas de desemprego, por outro lado, caíram os salários e as condições de trabalho, onde "a maior parte daqueles que procuram trabalho continua a encontrá-lo, mas uma fração crescente dos assalariados recebe remunerações que todos, inclusive eles próprios, consideram inferiores á linha de pobreza". No atual contexto de crise, nada mais natural do que o surgimento de visões alternativas, embora a visão que mais tenha se destacado não é nova: trata-se da visão de Ned Lud, tecelão da primeira revolução industrial que, para preservar o emprego, comandou a destruição de vários teares mecânicos.

Para os neoludistas de hoje o desemprego decorre diretamente do progresso técnico, ou seja, a tecnologia informacional - fundada na microeletrônica e na tecnologia de informação - substitui o capital humano com tal intensidade que hoje é impossível gerar empregos para todos. Conforme RIFKIN " Após anos de previsões otimistas e de alarmes falsos, as novas tecnologias de informática e de comunicações estão finalmente causando seu impacto, lançando a comunidade mundial nas garras de uma terceira revolução industrial. Milhões de trabalhadores já foram definitivamente eliminados do processo econômico; funções e categorias inteiras de trabalho já foram reduzidas, reestruturadas ou desapareceram. Será o fim da sociedade do trabalho, o que equivale, no limite, ao fim do próprio capitalismo".

De qualquer forma é bom destacar que essa corrente não explica o processo de eliminação dos postos de trabalho, apenas o constatam e o descrevem. Não se caracterizou que a nova onda tecnológica venha a gerar uma ainda mais ampla gama de postos de trabalho. A ideia é que nessa revolução, ao contrário das passadas, todos os três setores seriam objeto de intenso progresso técnico.

Na primeira revolução industrial o setor que mais gerou emprego foi justamente o de maior progresso técnico (industrial), o que significa que o progresso técnico não é apenas um poupador de trabalho, mas também o criador de novos produtos e mercados. Em que pese a fragilidade teórica, a perspectiva neoludita foi clara e objetiva ao vincular desemprego e progresso técnico - que foi uma questão central dos economistas clássicos - e praticamente esquecida por seus sucessores neoclássicos-marginalistas. Preocupados com a questão estática através do equilíbrio geral, os marginalistas deixaram de lado as questões centrais de acumulação, crescimento e progresso técnico.

A grande questão é o não entendimento da razão do crescimento do desemprego mesmo com o crescimento econômico, devido a taxas de crescimentos superiores da produtividade. Nos moldes neoclássicos de crescimento a evolução da produtividade é quase sempre tomada como um dado, buscando-se daí as condições de equilíbrio para o crescimento da economia. Dado essa relação causal, os modelos não só não explicam o crescimento da produtividade, como também não admitem o crescimento desequilibrado da economia: não admitem o crescimento sem emprego.

Os marginalistas fizeram a opção pelo princípio da utilidade marginal que desenvolve uma teoria pura e estática das trocas, para bens escassos, ou seja, o contrário dos economistas clássicos que se preocupavam com bens produzidos -  não escassos. Partindo de premissas claras e, através do uso de elegante ferramental analítico, chegam a conclusões lógicamente consistentes.

Para se entender o crescimento sem emprego, deve-se com o mesmo referencial, compreender também as razões do surgimento e esgotamento do crescimento com pleno emprego, além das crises clássicas de desemprego por queda de crescimento. Retomando o espírito clássico, deve-se entender a própria dinâmica do crescimento e desenvolvimento.