Universidade Federal de Viçosa

Pós Graduação em Genética e Melhoramento

FIT 798 – Seminário em Genética e Melhoramento

 

 

Mesa Redonda: Da Genômica à Biologia de Sistemas: Panorama atual e Perspectivas

 

Prelecionistas: Camilla Valente Pires

Fernanda Abreu Santana

Janaína P. Marques Tanure

Lorêta Buuda da Matta

Suelen Nogueira Dessaune

 

Moderadora: Profª. Juliana Lopes Rangel Fietto

 

 

Os estudos de sequenciamento de genoma, iniciados nos anos 90, desenvolveram-se rapidamente e atualmente encontram-se disponíveis as seqüências de genes de organismos inteiros, como plantas, animais e até mesmo o genoma humano. A Genômica é a ciência que estuda os genomas, ou seja, o conjunto de todo o DNA de um organismo. Esta ciência divide-se em genômica estrutural e genômica funcional. A genômica estrutural estuda a estrutura dos genomas, enquanto a genômica funcional estuda o funcionamento dos mesmos. Um dos enfoques da pesquisa genômica é a construção de mapas detalhados de cromossomos. Os mapas genéticos e físicos facilitam o isolamento e o estudo de um gene de interesse. Em algumas espécies, os genes e clones podem ser posicionados em mapas citológicos dos cromossomos por hibridização in situ (Snustad; Simons, 2001).

Diversas técnicas e programas computacionais são utilizados para o estudo da estrutura dos genomas. Após a determinação da seqüência de bases do DNA, a próxima etapa inclui a utilização de programas de bioinformática para organização do genoma, identificação de regiões codificantes usualmente chamadas de “quadros abertos de leitura” ou “ORFs” (sigla de Open reading Frames) e de outras regiões não codificantes, como regiões repetitivas, elementos transponíveis etc. A comparação dos genes presentes no genoma através de pesquisas por similaridade usando as ferramentas BLAST podem indicar as possíveis funções gênicas relacionadas. Para determinar a função de um gene predito no genoma, ou seja, qual fenótipo ele especifica, podem ser utilizadas várias abordagens, como técnicas que provocam a perda de função por deleção gênica (knockout) ou inibição da tradução por RNA de interferência (KIM, 2001).

Para o entendimento de diversos processos biológicos, organismos modelos são extensivamente estudados por apresentarem grande simplicidade quando comparados com organismos complexos. Determinadas características podem torná-los altamente atraentes para estes estudos devido às vantagens que eles proporcionam, tais como a pequena duração do ciclo celular, tamanho reduzido, facilidade de manipulação e baixo custo (BOLKER, 1995).

Os principais organismos modelos são Escherichia coli, Saccharomyces cerevisiae, Arabidopsis thaliana, Caenorhabditis elegans e Drosophila melanogaster. Estes organismos possuem o genoma totalmente seqüenciado e muitos genes conhecidos. Com isso, diversos trabalhos têm auxiliado nos estudos do comportamento, envelhecimento, desenvolvimento embriológico e corporal de organismos complexos, busca de novos medicamentos, e o entendimento de várias doenças humanas graças à grande quantidade de mutantes disponíveis e ao acúmulo de informação destes organismos modelos (Fields; Johnston, 2005).

A grande importância de estudos envolvendo organismos modelos se aplica à genômica comparativa. Esta permite que, a partir de uma seqüência de um gene recém descoberta, seja possível realizar busca em bancos de dados e fazer inferências da função desse novo gene a partir da similaridade de seqüências gênicas conhecidas (Miller et al., 2004). Contudo, existe um crescente reconhecimento e entendimento de que tais metodologias baseadas apenas na seqüência necessitam ser complementadas pela análise direta dos produtos codificados pelos genes, ou seja por ferramentas de genômica funcional.

De posse de uma gama enorme de sequências depositadas em bancos de dados, os geneticistas se depararam com um desafio tão grande quanto aquele que impulsionou a “Era Genômica”: correlacionar a estrutura com a função, caracterizando a Genômica Funcional, e dando início à “Era Pós-Genômica”.

A Genômica Funcional abrange estudos do Transcriptoma, Proteoma, Metaboloma e Biologia de sistemas. Estes estudos utilizam ferramentas para tentar compreender as mudanças no funcionamento do genoma em diferentes estágios do desenvolvimento e sob diferentes condições ambientais.

O Transcriptoma corresponde ao conjunto de RNAs mensageiros que uma célula está expressando num determinado momento, sob certas condições. Por meio deste é possível conhecer quais genes são diferencialmente expressos em resposta a diferentes estímulos, tais como estresses abióticos ou infecção por patógenos; ou em tipos celulares específicos, como em estudos de diferenciação celular. Para tal, várias técnicas podem ser empregadas, sendo divididas em métodos globais e limitados de análise. Dentre os primeiros, pode-se citar o seqüenciamento de ESTs (Expressed Sequence Tags), o SAGE (Serial analysis of gene expression), Differential display, e o SSH (Supression subtrative hybridization). Dentre os limitados, destacam-se os microarranjos de DNA e nothern blot (ZACHARIAH, G.G.; DHANASEKARAN, N., 2004).

Proteoma é o estudo do conjunto de proteínas produzidas por parte de um genoma. Em contraste com estudos de uma única proteína, o estudo proteômico visa a identificação do conjunto de proteínas sintetizadas por uma determinada célula, tecido ou organismo durante um evento fisiológico específico como diferenciação, resposta a drogas ou transformação em células cancerosas. Tal estudo permite também informações sobre a concentração protéica, modificações pós-traducionais e eventos de splicing. Dentre as técnicas comumente usadas para separação e identificação de proteínas destacam-se a eletroforese unidimensional e western blot; e a eletroforese bidimensional associada à análise por espectrometria de massas (MANN et al., 2000).

Metaboloma é o conjunto de metabólicos (aminoácidos, nucleotídeos, carboidratos, proteínas, etc) de um organismo. As maiores dificuldades nesta área são: participação de um mesmo metabólito em várias vias; relação contexto fisiológico/nível metabólico; dificuldade em relacionar gene e metaboloma diretamente e em identificar compostos químicos de baixa massa molecular. Dentro da metabolômica pode-se fazer análise alvo, que refere-se à determinação de um grupo de metabólitos pré-definidos, e análise de perfil metabólico, que analisa o conjunto de todos os metabólitos ou conjuntos derivados (FIEHN, 2002).

A Biologia de Sistemas é o estudo das interações entre os componentes de um sistema biológico, e como essas interações fazem emergir função e comportamento no sistema (por exemplo, genes, enzimas e metabólitos numa via metabólica). Para pesquisas nesta área são necessários dados de Genômica, Transcriptômica, Proteômica, Metabolômica; formulação de hipóteses; e integração de dados para a geração de redes que permitam visualização como um todo do sistema o qual se pretende estudar. No futuro, a informação biológica sinalizará para redes, células, órgãos, organismos, espécies no seu ambiente e irá promover insights para inovações na experimentação, na tecnologia, na computação e na sociedade (GE, 2003).

Com o advento de novas tecnologias no que tange a genômica estrutural, como por exemplo, o pirosequenciamento, o número de organismos seqüenciados tende a aumentar. Entretanto, para acompanhar essa demanda, a genômica funcional necessita aumentar a sua capacidade analítica, através, por exemplo, do desenvolvimento de novas técnicas e o estabelecimento de novos conceitos.

A bioinformática será cada vez mais importante em termos de integração da informação, buscando impulsionar a aquisição de conhecimento sobre os sistemas biológicos para a geração de novas saídas para problemas na agricultura, medicina, produção de energia e conservação do meio ambiente. Não sendo mais possível avançar em biotecnologia sem a integração da tecnologia da informação com a tecnologia experimental.

De modo geral, a genômica trará a produção de genótipos superiores que venham a incrementar a produção mundial de alimentos, com o uso de seleção assistida por marcadores, transgenia e a mutação induzida. Isso possibilitará o desenvolvimento de plantas resistentes a doenças e pragas, tolerantes a seca, mais adaptadas às necessidades nutricionais e ambientais. Permitirá a produção de animais com carnes melhores, com menos gordura, clones de animais com padrões excepcionalmente bons, seja na produção de carnes ou leite e até mesmo animais que funcionem como biofábricas de fármacos ou outros produtos. Além de ser imprescindível para desenvolver instrumentos baseados no genoma que beneficiem a saúde humana, como o uso de terapia gênica, testes genéticos e a farmacogenômica.

 

 

Referências:

BOLKER, J. A. Model systems in developmental biology. Bio Essays, v. 17, p. 451-455. (1995).

FIEHN, O. Metabolomics – the link between genotypes and phenotypes. Plant Molecular Biology, v. 48, p.155-171. 2002.

FIELDS, S.; JOHNSTON, M. Whither Model Organism Research? Science, v. 307, p. 1885-1886. 2005.

GE H., WALHOUT A.J.M., VIDAL M.. Integrating ‘omic’ information: a bridge between genomics and systems biology. Trends in Genetics  v. 19, p.551-560. 2003.

KIM, S. K. C. elegans: Mining the functional genomic landscape. Nature Rewies, v. 2, p. 681-689. 2001.

MILLER, W.; MAKOVA, K. D., NEKRUTENKO, A,. HARDISON R. C. Comparative Genomics, Annu. Rev. Genomics Human Genetic, v.5, p.15–56. 2004.

PANDEY, A.; MANN, M. Proteomics to study  genes and genomes. Nature, v.405, p.837-846. 2000.

SNUSTAD, P.; SIMMONS, M. J. Fundamentos de Genética. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ, 2001. 756p.

ZACHARIAH, G.G.; DHANASEKARAN, N. The Microrevolution: Applications and Impacts of Microarray Technology on Molecular Biology and Medicine. International Journal of Molecular Medicine, v.13, p. 483-495. 2004.

 

 

 

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       Camilla Valente Pires         Fernanda Abreu Santana      Janaína P. M. Tanure

 

 

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                     Lorêta Buuda da Matta               Suelen Nogueira Dessaune

 

 

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Profª. Juliana Lopes Rangel Fietto