Universidade Federal de Viçosa

FIT 798 - Seminário em Genética e Melhoramento

 

Data: 04/12/2008

 

Organogênese in vitro de guandu (Cajanus cajan (L.) Millsp).

 

Mestranda: Ana Paula de Souza Andrade

Orientador: Sérgio H. Brommonschenkel

 

 

Resumo

 

O guandu (Cajanus cajan L.) Millspaugh (2n=22), é uma das principais leguminosas cultivada nos trópicos e subtrópicos, sendo frequentemente citada como uma espécie de múltiplo uso. Pode ser utilizada na alimentação animal, na alimentação humana, consistindo em importante fonte de proteína em muitos países da África, Ásia e América Latina. Outro destaque dado à cultura é sua capacidade de tolerar estresse hídrico, e por ser "melhoradora de solos" uma vez que contribui para o aumento da matéria orgânica no solo, com elevados teores de nitrogênio e extração de fósforo (Godoy et al., 1997; Rao et al., 2002; Souza et al., 2007).

Com relação às pragas e doenças que atacam a cultura, podem-se citar algumas espécies de lagartas do gênero Helicoverpa, que atacam flores, vagens e sementes, e alguns insetos da família Bruchidae que perfuram as sementes maduras. Há ainda relatos de doenças causadas por fungos como Fusarium spp. e Macrophomina phaseolina. Recentemente, foi relatada a suscetibilidade do guandu a Phakopsora pachyrhizi, agente causal da ferrugem asiática da soja (Nogueira, 2007). Porém, diferentemente do que é verificado na soja foram identificados genótipos de guandu resistentes ao isolado deste fungo.

Desta forma, o guandu pode servir como "planta-modelo" em estudos que envolvam a identificação e isolamento de genes candidatos que possam conferir resistência à ferrugem asiática da soja. Sabe-se que a transformação genética de plantas tem como potenciais de aplicação, o melhoramento genético e o estudo da função e regulação da expressão gênica, sendo o estabelecimento de um protocolo de regeneração in vitro um pré-requisito para trabalhos dessa natureza.

Neste contexto, este trabalho objetivou o estabelecimento de um protocolo de regeneração in vitro dos genótipos de guandu, Anão e Fava Larga, suscetíveis ao fungo causador da ferrugem da soja via organogênese. O estabelecimento deste protocolo possibilitará a realização de estudos funcionais dos genes candidatos que conferem resistência à Phakopsora pachyrhizi, e posteriormente, esses genes poderão ser introgredidos na soja por meio de transformação genética.

No processo de indução da organogênese avaliou-se: i) o efeito das citocininas BAP e TDZ na indução de brotações adventícias a partir de embriões zigóticos maduros de guandu; ii) o efeito das citocininas BAP e TDZ sozinhas e em combinação com AgNO3 na indução de brotações adventícias a partir de segmentos de epicótilo de plântulas de guandu germinadas in vitro.

Ao utilizar o eixo embrionário como explante, houve a formação de raiz apenas no tratamento controle (MSØ) e na extremidade proximal. A formação de brotações foi observada em todos os tratamentos contendo citocinina (apenas na extremidade distal) e a resposta foi significativa apenas entre os tratamentos de acordo com a ANOVA, sendo o tratamento T4 (1,0 mg L-1 BAP + 0,5 mg L-1 TDZ) o que possibilitou maior número de brotações formadas em ambos os genótipos, mas estas apresentaram tamanho muito reduzido, o que não foi desejável para as etapas seguintes do processo de organogênese.

No experimento utilizando-se segmentos de epicótilo de plântulas germinadas in vitro, a formação de raiz também ocorreu apenas no tratamento controle (MSØ) em ambos os genótipos, e na presença de AgNO3 (2mg L-1) houve maior formação das mesmas, sendo o cultivar Fava Larga superior ao Anão para este tratamento. O tratamento T2 (0,5 mg L-1 BAP + 0,5 mg L-1 TDZ) promoveu a formação de calo (extremidade proximal e distal) de maior tamanho tanto na presença quanto na ausência de AgNO3, sendo que para todos os tratamentos na presença de AgNO3 o tamanho dos calos foi menor. O tratamento T2 mostrou-se superior também aos demais com relação ao tamanho dos calos formados em ambas as extremidades independente do genótipo, mas o genótipo Anão calejou menos quando comparado ao Fava Larga independente do tratamento. O calejamento na extremidade proximal foi menor para os dois genótipos na presença de AgNO3, mas mesmo nessa condição o genótipo Anão apresentou menor calejamento também. Houve resposta significativa entre os genótipos e entre os tratamentos na formação de brotação (a interação não foi significativa). O tratamento T2 foi o que possibilitou a formação de um maior número de brotação, e o genótipo Fava Larga mostrou-se superior ao Anão.

Com base nos resultados podemos concluir que a utilização do eixo embrionário na regeneração in vitro de guandu é promissora, visto que houve formação de brotações em todos os tratamentos testados em ambos os genótipos.  E que, a utilização de outras concentrações de AgNO3 ou de outros inibidores de etileno se faz necessário para a indução de brotações a partir de segmentos de epicótilo. Dessa forma, mais estudos devem ser realizados com intuito de se aperfeiçoar a eficiência de regeneração in vitro de guandu, principalmente nas fases de alongamento e aclimatização ex vitro.

 

Referências Bibliográficas:

 

GODOY, R., BATISTA, L. A. R., NEGREIROS, G. F., CARVALHO, J. R. P. Avaliação agronômica e seleção de germoplasma de guandu forrageiro (Cajanus cajan (L.) Millsp.) proveniente da Índia. Revista Brasileira de Zootecnia, 26: 447-453, 1997.

 

NOGUEIRA, S. R. Resistência de plantas hospedeiras e identificação de genes diferencialmente expressos na interação Soja - Phakopsora pachyrhizi. Viçosa, MG: UFV, 2007, 110 f.: il. (Tese Doutorado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2007

 

 

RAO, S. C.; COLEMAN, S. W.; MAYEUX, H. S. Forage production and nutritive value of selected pigeon pea ecotypes in the southern Great Plains. Crop Science, 42:1259-1263, 2002.

 

SOUZA, F. H. D.; FRIGERI, F.; MOREIRA, A.; GODOY, R. Produção de sementes de guandu. Documentos 69. 1ª Edição. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2007. Disponível em: < http://www.cppse.embrapa.br/servicos/publicacaogratuita/documentos/Documentos69pdf/view>. Acesso em: 18 jan. 2008.

 

 

 

 

 

 

            Ana Paula de Souza Andrade                                 Sérgio H. Brommonschenkel