Universidade Federal de Viçosa Programa de Pós Graduação em Genética
e Melhoramento SEMINÁRIO DE TESE Seminário de
Dissertação de Mestrado Título – Distribuição
geográfica, filogeografia e história evolutiva da
abelha sem ferrão Melipona quadrifasciata
(Hymenoptera, Apidae) Estudos
filogeográficos têm proporcionado inúmeras
possibilidades para o entendimento dos padrões evolutivos e da história
demográfica da diversificação das linhagens de espécies. A abelha Melipona quadrifasciata,
conhecida popularmente como mandaçaia, apresenta
duas subespécies: M. q. anthidioides e M.
q. quadrifasciata. A principal diferença entre as subespécies são as faixas
tergais amarelas, que são contínuas em M.
q. quadrifasciata e descontínuas em M. q. anthidioides. A existência de colônias com padrão de faixas abdominais contínuas,
semelhantes a M. q. quadrifasciata,
em regiões fora da área de ocorrência desta subespécie do sul do Brasil tem
sido relatadas no Sergipe e na região de Januária,
no norte do Estado de Minas Gerais, em regiões com clima semi-árido. Inicialmente foi investigada a
diferenciação e a distribuição geográfica dos padrões de faixas tergais. Para
a inferência sobre distribuição geográfica de M. quadrifasciata foram examinados
exemplares provenientes de um total de 198 localidades no Brasil, e com base
na variação observada os exemplares foram distribuidos
em quatro classes. A distribuição geográfica de M. quadrifasciata observada mostra M.
q. quadrifasciata, uma forma com faixas tergais
contínuas, ocupando a porção sul da distribuição, do Rio Grande do Sul até a
metade sul de São Paulo, indo a oeste até a província de Misiones,
na Argentina e porção sudeste do Paraguai. A forma com faixas interrompidas, M.
q. anthidioides, distribui-se da metade
nordeste de São Paulo até o extremo norte da região da Chapada Diamantina, na
Bahia, estendendo-se a oeste pelo Triângulo Mineiro e região central do
estado de Goiás. Observou-se, também, a distribuição de populações exibindo
padrão de faixas contínuas e ocupando áreas amplamente disjuntas das
populações do sul do Brasil, sendo uma no norte de Minas Gerais, e outra no
Sergipe e nordeste da Bahia. Foram caracterizados também os padrões de RFLP
do DNA mitocondrial de cada uma das formas de M. quadrifasciata,
identificados pelo padrão de faixas tergais. Para análise de RFLP foram
utilizadas 9 operárias representado as formas
determinadas pelo padrão de faixas tergais. O gene mitocondrial
COI foi amplificado e digerido com 8 enzimas de restrição.
Das enzimas utilizadas somente DraI, HinfI e MboI digeriram o
fragmento amplificado, sendo as duas últimas polimórficas.
Os dados de RFLP mostraram dois padrões: um presente em M. q. quadrifasciata, e o outro
presente em M. q. anthidioides
e nas populações com padrão de faixas tergais continuo do norte de Minas
Gerais e Sergipe e nordeste da Bahia. A diferenciação geográfica de M. quadrifasciata, com formas exibindo distintos padrões
de faixas tergais em regiões separadas, sugere uma complexa história
evolutiva. A complexidade de padrões observados pode ser reultado
da ocorrência de repetidos eventos de isolação geográfica, seguido de
expansões, que ocorreram provavelmente durante os ciclos de mudanças
climáticas no Pleistoceno. Avaliou-se também o padrão filogeográfico
das populações de M. quadrifasciata ao longo de sua área de distribuição.
Para análise filogeográfica foram utilizados 852 pb referentes a parte do gene
COI do mtDNA de 145 indivíduos de M. quadrifasciata
provenientes de 56 localidades dos estados RS, SC, PR, SP, RJ, MG, ES, BA e
SE. As seqüências foram alinhadas pelo método ClustalW. Foram construídas uma árvore filogenética
por meio da inferência Bayesiana e uma rede de haplótipos por meio de median-joining network.
Também foram implementados SAMOVA e mismatch distribution.
A
estimativa da coalescência foi realizada pelo
programa MDIV. Dos 852 pb obtidos, 55 (6,45%) foram
variáveis. Foram identificados 50 haplótipos, com
uma diversidade nucleotídica (p) de 0,0055 e uma
diversidade haplotípica (Hd)
de 0,957. Foi evidenciado, na inferência
filogenética e na rede de haplótipos, a presença de
dois clados: o clado sul
compreendendo à subespécie M. q. quadrifasciata, e o clado
norte formado pela subespécie M. q. anthidioides e as populações de faixa tergal contínua
do norte de Minas Gerais e do Sergipe e nordeste da Bahia. A SAMOVA mostrou
um percentual de variação entre os clados de 68,56%,
um ΦST de 0.905 e a barreira de fluxo gênico estimada foi
localizada próxima ao Vale do Ribeira do Iguape no sul do estado de São
Paulo, concordando também com a separação dos clados.
A mismatch distribution evidenciou gargalos populacionais em ambos clados por meio de distribuição unimodal.
O tempo de divergência estimado pela análise de coalescência
foi
entre 490.000 e 390.000 anos A.P., no Pleistoceno
médio, provavelmente durante intensos ciclos de glaciações. Padrões filogeográficos com vicariância
semelhante foram reportados para pássaros (Xiphorhynchus fuscus) e serpentes (Bothrops jararaca). Outras espécies de abelhas, M. bicolor e M. marginata, exibem diferenciação morfológica que
recebe o status de subespécies, apresentando zona de separação entre as
subespécies concordante com M. quadrifasciata. Mais estudos se fazem necessários para confirmar se o efeito
vicariante aqui observado se repete em outras espécies de abelhas ou outros
grupos animais. __________________________
_______________________________ Henrique Batalha
Filho Tânia
Maria Fernandes Salomão (Estudante)
(Orientadora) |