Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

                              

 

SEMIÁRIO TEMA LIVRE

 

Prelecionista: Carla Cristina Gonçalves Rosado

Orientador: Prof. Acelino Couto Alfenas DFP/UFV

Data: 26/06/2008

Hibridação e clonagem como ferramentas no melhoramento genético do eucalipto

O eucalipto é uma árvore nativa da Austrália, Papua Nova Guiné e algumas espécies ocorrem somente na parte oeste do arquipélago da Indonésia como Timor, Sonda, Flores e Wetar e somente uma espécie ocorre nas Filipinas. Os primeiros registros da presença de espécies do gênero Eucalyptus no Brasil ocorreram em 1825. A citação mais antiga menciona que Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro de 1824-1829 realizou o plantio de dois exemplares de Eucalyptus gigantea (DEAN,1991). Apenas em 1904, Edmundo Navarro de Andrade deu início às pesquisas com o eucalipto para a Companhia Paulista de Estrada de Ferro no estado de São Paulo.

Atualmente as espécies do gênero Eucalyptus são as essências florestais mais plantadas no mundo, com aproximadamente 18 milhões de hectares (FAO, 2007), sendo que o Brasil ocupa lugar de destaque como um dos países de maior área plantada e melhor tecnologia silvicultura com eucalipto, havendo cerca de 3,75 milhões de hectares e uma produtividade média de 38 m3/ha/ano. O setor florestal contribui com 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e gera 4,6 milhões de empregos diretos e indiretos (ABRAF, 2008).

O desenvolvimento de híbridos inter e intraespecíficos de Eucalyptus têm assumido destacada importância nos programas de melhoramento genético deste gênero, uma vez que as características de interesse encontram-se em diferentes espécies, as quais são particularmente adaptadas a condições climáticas peculiares. O melhoramento baseado em cruzamento interespecífico implica em melhorar, simultaneamente, a média do valor genético aditivo interpopulacional das duas populações bem como a heterose (vigor híbrido) do cruzamento entra as mesmas (ASSIS, 1996). O desenvolvimento da técnica de One Stop Pollination (OSP) em E. globulus, no Chile no ano 2000, e da Protoginia Artificialmente Induzida (PAI) trouxeram importantes melhorias operacionais para a realização dos cruzamentos, especialmente a PAI, que diminui o número inspeções nas flores, elimina a necessidade de emasculação e de proteção dos botões florais fecundados e viabiliza a obtenção de maior quantidade de sementes (ASSIS & MAFIA, 2007). Além disso, o emprego de plantas enxertadas e o uso de substâncias indutoras do florescimento precoce, como o Paclobutrazol (ASSIS, 1996), tornou a combinação de espécies e indivíduos e a integração de suas características um processo rápido.

Se por um lado a produção de híbridos interespecíficos representa um meio rápido e de grande alcance na produção de indivíduos com características desejáveis, a sua utilização na transformação desses ganhos em benefícios industriais, ou seja, na sua integração ao processo produtivo, dificilmente pode ser obtida por intermédio do uso direto das sementes híbridas


produzidas. Isto ocorre pelo fato de que os híbridos de Eucalyptus são geralmente heterogêneos, por serem o resultado do cruzamento de espécies altamente heterozigotas. Desse modo, para se obter o máximo de benefício do uso da hibridação interespecífica, tornou-se necessário a disponibilidade de um método de propagação vegetativa funcional e de baixo custo, para que plantas superiores possam ser identificadas, perpetuadas e multiplicadas em larga escala. A clonagem por estaquia, além de ser útil para a obtenção dos ganhos advindos do melhoramento genético e especialmente com a hibridação interespecífica, promove a homogeneização das propriedades tecnológicas da madeira, fator de grande importância na melhoria do seu desempenho industrial e a maximização da intensidade de seleção. O desenvolvimento de métodos de propagação vegetativa iniciou-se, no Brasil, na década de 1970 a partir da multiplicação de estacas de brotações de cepas de eucaliptos, sendo a primeira plantação clonal estabelecida em 1979 no Estado do Espírito Santo. Atualmente, a clonagem é realizada com sucesso através das técnicas de miniestaquia.

Os cruzamentos intra e interespecíficos e a clonagem de árvores “superiores”, provenientes desses cruzamentos, foram dois dos principais fatores que levaram o Brasil a alcançar reputação mundial na produção de madeira de eucalipto de alta qualidade e de baixo custo. Ademais, é possível que, sem o desenvolvimento das técnicas de hibridação e clonagem, a eucaliptocultura nacional não lograsse êxito em regiões mais quentes e úmidas, favoráveis à incidência de doenças (ALFENAS et al.,2004).

 

Referências:

 

Alfenas, A.C., Zauza, E.A.V., Mafia, R.G., Assis, T.F. Clonagem e doenças do eucalipto.Viçosa: Editora UFV, 2004. 442p.

Anuário estatístico da ABRAF: ano base 2007 /ABRAF. Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.abraflor.org.br/estatisticas/ABRAF08-BR.pdf> Acesso junho 2008.

Assis, T. F. Melhoramento genético do eucalipto. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.18, n. 185, 1996.

Assis, T.F. & Mafia, R.G. Hibridação e Clonagem. In: Borém, A. Biotecnologia Florestal. Viçosa MG, Editora UFV. 2007. pp: 93-121.

Dean, W. A BOTÂNICA E A POLITICA IMPERIAL:a introdução e a domesticação de plantas no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, p. 216-228, 1991.

FAO (Food and Agriculture Organization) of the United Nations: essential documents, statistics, maps and multimedia resources. Disponível em: <http://faostat.fao.org/site/381/default.aspx> (2007).

 

 

 

 

 

 

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               Carla Cristina G. Rosado                               Prof. Acelino Couto Alfenas