Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

                              

 

 

SEMINÁRIO TEMA LIVRE

 

EPIGENÉTICA E O CÂNCER

 

 

Prelecionista: Andreia Arantes Borges

Orientadora: Profª  Mara Garcia Tavares

Data: 03/04/2008

 

RESUMO

 

 

               Anualmente, cerca de 7,6 milhões de pessoas com câncer morrem no mundo, contra 2,8 milhões de vítimas da AIDS, segundo a Organização Mundial da Saúde. Mas há um maior numero de pessoas vivas com AIDS, do que com câncer. Há cerca de 40 milhões de pessoas diagnosticadas como soropositivas, enquanto 24,6 milhões de pessoas lutam contra algum tipo de câncer. O câncer é a maior causa de mortes no mundo, respondendo por 13% dos óbitos (http://mundoestranho.abril.com.br/materia).

               Sabe-se que o câncer é uma doença eminentemente genômica e emerge da expansão territorial de um clone que, através de mutações somáticas cumulativas (herdadas ou adquiridas ao longo da vida), adquire vantagens adaptativas crescentes e progressivas (Weinberg, 1996). Durante a tumorigênese, uma célula normal adquire a habilidade de esquivar-se dos mecanismos reguladores que controlam o crescimento celular, a morte celular programada (apoptose), a angiogênese e a invasão do tecido adjacente e à distância, dando origem às metástases (Hanahan e Weinberg, 2000).

               Duas classes de genes têm papel chave no desenvolvimento do câncer: os proto-oncogenes que estimulam e os anti-oncogenes, que inibem os processos de divisão celular. Coletivamente, essas duas classes de genes são responsáveis pela proliferação descontrolada, encontrada nos cânceres quando ocorrem alterações nos seus níveis de expressão. Quando ocorrem mutações, proto-oncogenes tornam-se oncogenes, que são carcinogênicos e causam multiplicação celular excessiva. Essas mutações levam o proto-oncogene a expressar em excesso sua proteína estimuladora do crescimento ou a produzir uma forma mais ativa. Os genes supressores de tumores ou anti-oncogenes, em contraste, contribuem para o desenvolvimento de câncer quando são inativados por mutações. O resultado é a perda da ação de genes supressores funcionais, o que priva a célula de controles cruciais para a inibição de crescimento inapropriado (Rivoire et al., 2006).

Inicialmente, fatores genéticos foram considerados as causas da carcinogênese. É indiscutível que a presença de alterações genéticas (mutações em genes, rearranjos, deleções, duplicações, inserções, erro de pareamento de bases e recombinação) que acometem o DNA das células é evento marcante para o início, desenvolvimento e manutenção do câncer (Feinberg, 2004).

Porém, em decorrência das evidências de que algumas alterações são reversíveis, sendo estas características singulares dos fenômenos epigenéticos, os estudos voltados para o modelo epigenético ajudaram a compreender o paradigma da biologia do câncer, complementando o modelo genético (Feinberg, 2004).

Alterações epigenéticas são modificações do genoma transmitidas durante as divisões celulares, que não envolvem mudança na seqüência de DNA, apresentam um caráter hereditário e são capazes de modificar a expressão gênica. Existem três mecanismos principais de alterações epigenéticas: metilação do DNA, modificações de histonas e imprinting genômico.

               A metilação de DNA tem sido reconhecida como uma das principais modificações presentes em neoplasias. A hipometilação do genoma e a hipermetilação (restrita às áreas localizadas dentro da região promotora de genes: as ilhas CpG) são cruciais para a manutenção da integridade celular. Os eventos de hipometilação ou hipermetilação de genes podem ocorrer simultaneamente, sem necessariamente estabelecer uma relação de causa e efeito. Além disso, esses fenômenos podem promover o crescimento celular desordenado em determinado tecido e, em outro, diminuir o risco de câncer, não existindo uma regra rígida.

Alterações nos padrões de histonas (acetilação, metilação, fosforilação e ubiquitinação) têm sido relacionadas à expressão desregulada de muitos genes que apresentam importantes funções no desenvolvimento e progressão do câncer (Kurdistani, 2007).

Alterações que resultam na perda do imprinting (LOI = loss of imprinting), no caso de um oncogene que sofre imprinting, de maneira que apenas um dos alelos se expresse enquanto o outro que sofre imprinting, normalmente não se expresse, pode resultar na expressão anormal desse gene, resultando na produção excessiva de seu produto gênico, podendo causar um crescimento anormal.

               O estudo epigenético está relacionado com o diagnóstico precoce de câncer e previsão do risco diferencial de desenvolvimento da doença e pode também, servir como parâmetro prognóstico para pacientes com tumor estabelecido e previsão da resposta à ação terapêutica. Novos agentes terapêuticos estão sendo desenvolvidos a fim de impedir a metilação e/ou provocar a desmetilação de regiões indevidamente metiladas.

 

 

Referências bibliográficas:

 

 

FEINBERG, A.P. (2004). The epigenetics of cancer etiology. Seminars in Cancer Biology 14: 427-432.

 

Hanahan, D., Weinberg, R.A. (2000).The Hallmarks of Cancer. Cell, 100:57–70.

 

Kurdistani, S.K. (2007). Histone modifications as markers of cancer prognosis: a cellular view. British Journal of Cancer 97: 1– 5.

 

Rivoire, W.A., Corleta, H.V.E., Brum, I.S., Capp, E. (2006). Biologia molecular do câncer cervical. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. 6: 447-451.

 

Weinberg, R.A. (1996). The molecular basis of carcinogenesis: understanding the cell cycle clock. Cytokines Mol. Ther. 2:105-10.

 

Site:    http://mundoestranho.abril.com.br/materia.   Acessado em 25/11/2007

 

 

 

 

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    Andreia Arantes Borges                                                                    Profª. Mara Garcia Tavares

                  Estudante                                                                                                  Orientadora