Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

                               

 

 

 

MESA REDONDA:

 

Debatedores:

                        Marcos de Oliveira Pinto           

                        Mariana Santos Cardoso

                        Priscila Vendramini Silva

                        Rafael Simões Tomaz

 

Moderadora:

                        Profa. Simone Eliza Facioni Guimarães

 

Gene Network: muito além da expressão gênica

 

A partir da década de 1990, com a automação das técnicas de seqüenciamento de DNA e a formação de consórcios multinacionais de pesquisa, iniciou-se a “Era Genômica”. Em poucos anos, seqüências de DNA de diferentes organismos tornaram-se disponíveis em diversos bancos de dados na internet. Entretanto, sabe-se que apenas conhecer a seqüência dos genomas não garante o imediato conhecimento da expressão gênica de uma célula ou de um organismo; para isso, é necessário decifrar as relações funcionais entre os genes, as proteínas e as vias metabólicas. A partir de dados experimentais, juntamente com os recursos disponibilizados pela Bioinformática, redes de interação podem ser construídas permitindo maior entendimento sobre a função dos genes e de seus produtos. Neste contexto, surgiu o conceito de “Gene Network”, definido como um agregado de genes regulando coordenadamente  as funções vitais, os processos fisiológicos e as respostas aos estímulos externos, permitindo a análise da interação entre os genes, levando à visão geral do estado fisiológico de um organismo a partir de seus níveis de transcritos.

Diversos métodos computacionais têm sido utilizados para construir modelos de rede, a partir dos níveis de expressão de cada gene. Esta inferência é realizada por meio de perturbação direta à rede, verificando comportamento de cada gene em relação ao seu estado anterior a perturbação. Estas perturbações podem ser genéticas, nas quais os níveis de expressão de um ou mais genes são fixados por deleção ou superexpressão, ou biológicas em que um ou mais fatores não genéticos são alterados, tais como a mudança do meio de crescimento ou do aumento da temperatura. Uma vez que os dados da expressão de uma série experimentos de perturbação são obtidos, métodos analíticos são necessários para inferir às alterações de genoma, transcriptoma, proteoma e metaboloma.

Na análise de transcriptoma a principal metodologia empregada é a de microarray, porém outras técnicas suplementares como PCR quantitativo e SAGE podem ser utilizadas para a obtenção dos dados de expressão gênica. A análise do proteoma é feita, principalmente, pela combinação das técnicas de eletroforese bidimensional e espectometria de massa que permitem a separação e a identificação de proteínas e peptídeos expressos em determinada condição experimental. Outras técnicas, como cromatografia líquida multidimensional (HPLC multiD) e Mass fingerprinting, podem auxiliar na avaliação das alterações do trancriptoma. A avaliação do metaboloma é mais complexa, uma vez que compreende desde espécies iônicas a carboidratos hidrofílicos, álcoois e cetonas voláteis, aminoácidos, ácidos orgânicos e produtos naturais complexos. Essa variedade de compostos químicos, adicionada à enorme variação de concentração, torna a análise simultânea do metaboloma celular tarefa praticamente impossível por apenas uma única técnica.

Um grande desafio encontrado de modelar uma rede gênica está no número normalmente limitado de dados e na falta de adequação dos modelos estatísticos computacionais. O processo de modelagem da rede promove a simplificação dos dados biológicos o que normalmente causa distorções consideráveis no modelo final. Os modelos contínuos utilizam equações diferenciais para estudar os níveis de transcritos, assumindo que um pequeno conjunto de moléculas de RNA (expressão de determinados genes) é necessário para regular um transcrito em particular (regulação de um gene em particular). Estes modelos, apesar de precisos, são muito exigentes em termos computacionais. Redes Booleanas tentam simplificar o problema transformando os dados de expressão em variáveis discretas. Tal simplificação requer, para uma boa modelagem, um enorme conjunto de dados experimentais. As redes Bayseanas, são baseadas em distribuições de probabilidades entre os elementos que compõem a rede, propondo um meio eficiente de lidar com as limitações experimentais. Esta estratégia permite lidar com conjuntos limitados de dados por meio da incorporação de informações “a priori” obtidas a partir de diferentes técnicas experimentais. Alguns algoritmos que permitem utilizar informações de dados de expressão e ligação gênica têm sido utilizados e se mostrado de grande valor.

Dessa forma, a integração dos dados de expressão gênica e de genótipos é de grande importância na identificação de genes e de vias bioquímicas que contribuem para características complexas, auxiliando as pesquisas farmacêuticas na priorização de alvos e adaptando terapia com drogas às necessidades individuais de cada paciente. Além disso, a combinação desses dados pode auxiliar na identificação de genes candidatos posicionais.

 Modelos matemáticos de correlação entre os níveis de transcrito e os dados clínicos podem auxiliar na predição de interações causais, identificação de genes “principais” e na construção de redes para explicar mecanismos de doença. Entretanto, há necessidade de desenvolver ferramentas estatísticas e de bioinfomática mais sofisticadas para interpretar o grande conjunto de dados gerados pelas recentes tecnologias genômicas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

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