Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

                              

 

MESA REDONDA: BIOFÁRMACOS

 

Prelecionistas: Demerson Arruda Sanglard

  Francielle Alline Martins e

 Gilmar Silverio da Rocha

 

Moderador: Professor Tania Toledo de Oliveira

 

Um biofármaco é um medicamento obtido por alguma fonte ou processo biológico. Pode ser derivado do cultivo de bactérias ou células, como elas são encontradas na natureza ou, mais comumente, modificadas geneticamente (transgênicas) para produzir o princípio ativo de interesse.

Em 2007, dos R$ 4,6 bilhões reservados para a política de medicamentos do SUS, cerca de R$ 400 milhões serão aplicados na aquisição de biofármacos. O alto custo da importação desses incentivou a criação de uma biofábrica nacional, assim R$ 35 milhões do governo federal estão sendo investidos na sua construção, com sede em Belo Horizonte junto a Fundação Ezequiel Dias (Funed), o projeto deve ser concluído em 2009.

Os biofármacos ou medicamentos biológicos existem há muito tempo, desde o século XVIII, quando iniciou-se os estudos para vacinação contra varíola. No entanto não deixa de ser um assunto atual. Sabe-se que a Amazônia é um bioma megadiverso, e existe uma expectativa grande de se encontrar fármacos entre as diferentes espécies nativas. Entretanto, a própria riqueza e variedade da biodiversidade pode significar um problema: como encontrar naquela grande quantidade de material genético aquele que pode gerar um produto inovador?

A utilização do conhecimento das comunidades tradicionais (povos indígenas, seringueiros, agricultores, ribeirinhos, etc) sobre recursos naturais como ponto de partida para pesquisas podem aumentar as chances de encontrar um novo fármaco. Dessa forma, muito se têm discutido no âmbito político e científico formas de proteção desse conhecimento tradicional associado.

A produção de biofármacos a partir de organismos geneticamente modificados vem sendo utilizada eficientemente na produção de algumas proteínas recombinantes, como a insulina e o hormônio do crescimento. Dentre as tecnologias existentes para a produção de proteínas recombinantes, podemos destacar:

  • Sistema de produção bacteriano, no qual Escherichia. coli têm sido a mais utilizada. Apresenta custos relativamente baixos e DNA facilmente manipulado. Sua grande limitação está no fato de permitir apenas a produção de proteínas aglicosiladas relativamente simples;
  • Leveduras e fungos filamentosos, em que Saccharomyces cevisiae é o modelo mais popular. Também apresenta baixos custos, as proteínas produzidas podem ser secretadas e possibilita a produção de proteínas recombinantes um pouco mais complexas, em relação ao sistema bacteriano;
  • Culturas de células de mamíferos, por sintetizarem as estruturas típicas das glicoproteínas são largamente utilizadas. No entanto apresentam manutenção dispendiosa e riscos de contaminação com patógenos humanos;
  • Mamíferos transgênicos, os quais possibilitam a produção das proteínas nos fluidos corporais, permitindo a retirada do produto sem matar o animal. Suas principais limitações são o alto custo de produção e manutenção do animal;
  • Ovos de galinha, que por possuírem um curto período de vida, estruturas das glicoproteínas relativamente próxima a de humanos e baixos custos, podem constituir um sistema de produção promissor;
  • Insetos, embora o custo de produção e manutenção seja reduzido, as glicoproteínas produzidas apresentam diferenças significantes em sua estrutura, quando comparadas às humanas;
  • Plantas, embora sempre tenham sido utilizadas como fontes de substâncias para produção de remédios, têm se destacado como um sistema promissor para a produção de biofármacos, uma vez que apresentam maior escala de produção que os microrganismos e menores custos de produção.

Entre as plantas cultivadas, os cereais têm se destacado por apresentarem atividade protéica por um tempo maior e por não oxidarem durante o processamento. Entretanto, verduras e frutas parecem ser promissoras para produção de vacinas orais.

A tecnologia de produção de proteínas recombinantes em plantas transgênicas é recente. Poucas proteínas estão em fase de teste clínico, mas já existem muitas em fase de desenvolvimento e ainda outras em fase de testes em laboratório. Essas proteínas podem ser vacinas (uso médico e veterinário) e anticorpos.

Alguns obstáculos para a obtenção de fármacos produzidos de organismos geneticamente modificados ainda necessitam ser contornados, principalmente quanto à legislação e as normas que regem essa prática.

O Brasil precisa considerar o valor de seus recursos naturais, da sua biodiversidade e da saúde de seus cidadãos, e adotar a necessidade de estudos sobre biossegurança balizando decisões sobre liberação de transgênicos no ambiente e para a produção comercial também de biofármacos, assim poderá garantir a segurança alimentar de sua população, o acesso a medicamentos de forma mais barata e também dar um exemplo de gestão democrática, de contemporaneidade e de respeito a seus cidadãos, que vem sendo cobrada das nações nas últimas décadas, para viabilizar o desenvolvimento neste setor.

 

Referências:

KOWALSKI, S. P.; EBORA, R. V.; KRYDER, R. D. e POTTER, R.H. Transgenic crops, biotechnology and ownership rights: what scientists need to know. The Plant Journal, n.4, v.31, p.407-421, 2002.

TWYAMAN, R.M., SCHILLBERG, S., FISCHER, R.; Transgenic Plants in Biopharmaceutical Market; Emerging Drugs. 2005; Review.

MELO, B. Minas terá primeira fábrica de biofármacos do país. Disponível em http://www.crmmg.org.br/Noticias/Jornal/27_03_2007-noticia_01/view, acessado em 23 de setembro de 2007.