Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

Seminário Tema Livre

                              

 

PRELECIONISTAS: Carolina Silva Rocha                                                

ORIENTADORA:  Elizabeth B. P. Fonte                                                                            

 

 

GEMINIVÍRUS: um patógeno agronomicamente relevante e suas interações moleculares com o sistema modelo Arabidopsis.

 

RESUMO:

 

Os geminivírus constituem um grupo de vírus de plantas de grande importância econômica em todos os continentes, em diversas culturas (de cereais a leguminosas). As doenças causadas pelos vírus que vieram a constituir a família Geminiviridae foram reconhecidas no início da década de 60, por Costa (1965), no Brasil. O nome geminivírus é derivado da estrutura do capsídeo viral, formado por dois icosaedros incompletos geminados. Todos os geminivírus possuem genoma composto por DNA circular de fita simples (ssDNA), com 2500 a 3000 nucleotídeos (nt), que se replica por círculo rolante no núcleo de células infectadas, via um intermediário de DNA fita dupla (Hanley-Bowdoin et al., 1999). Essa família é dividida em quatro gêneros: Mastrevirus, Curtovirus, Topocovirus e Begomovirus (Rybicki et al., 2000). Essa classificação é baseada no tipo de inseto vetor, gama de hospedeiros e número de componentes do genoma viral (mono ou bissegmentado. A família Geminiviridae é a segunda mais numerosa entre os vírus de plantas, superada apenas pela família Potyviridae.

Além de sua importância econômica, os geminivírus são modelos ideais para o estudo de replicação e expressão gênica em plantas, devido ao fato de se replicarem no núcleo da célula hospedeira. Esses estudos geraram uma enorme quantidade de informações a respeito da biologia molecular dos geminivírus. Atualmente, a pesquisa básica em geminivírus busca principalmente a caracterização de fatores do hospedeiro que interagem com o vírus durante o processo de patogênese. Já a pesquisa aplicada busca principalmente fontes de resistência a geminivírus nas culturas afetadas por esses patógenos, de forma a reduzir as perdas por eles causadas.

Doenças causadas por geminivírus pertencentes ao gênero Begomovirus têm se tornado uma grande ameaça para agricultura brasileira, devido ao grande aumento populacional da mosca-branca (inseto-vetor), à introdução de um novo biótipo do inseto com grande capacidade de colonização de tomateiros e às propriedades de recombinação do vírus. Eventos de recombinação inter-espécie têm contribuído significativamente para a diversidade e emergência de begomovírus como fitopatógenos economicamente importantes (Galvão et al., 2003).

Os geminivírus, assim como todos os vírus, utilizam a maquinaria celular para promover sua replicação, transcrição e movimento célula-a-célula. A infecção depende de interações intermoleculares entre fatores do vírus e do hospedeiro, que são fundamentais para a compatibilidade entre eles e para a eficiência da infecção viral pela modulação das respostas de defesa da planta (Ach et al., 1997; Carvalho & Lazarowitz, 2004; Fontes et al., 2004).

            Membros bissegmentados do gênero Begomovirus possuem dois componentes genômicos, denominados DNA-A e DNA-B. O DNA-A apresenta o potencial para codificar proteínas envolvidas com a replicação e encapsidação da progênie viral. O DNA-B contém os genes requeridos para o movimento viral do núcleo para o citoplasma e célula-a-célula, codificando duas proteínas de movimento, NSP (Nuclear Shuttle Protein) e MP (Movement Protein).

        Por meio do sistema duplo híbrido e utilizando a proteína NSP como isca, cinco cDNAs de tomateiros foram indentificados pela capacidade de interagir com a proteína viral (Mariano et al., 2004). Análise de seqüências revelou que quatro cDNAs eram idênticos e codificam um putativo receptor transmembrana serina/treonina quinase, designado LeNIK (Lycopersicum esculetum NSP Interacting Kinase) (Mariano et al., 2004). A proteína viral NSP interage com o domínio quinase de NIK, que parece ser localizado no citosol. Um homólogo de NIK de soja, designando GmNIK (Glicine max NIK), e três genes homólogos de Arabidopsis, designados AtNIK1, AtNIK2 e AtNIK3, também foram isolados pela capacidade de interagir com NSP. A proteína NIK exibe propriedades bioquímicas consistentes com uma função de sinalização de defesa contra infecção por geminivírus (Fontes et al., 2004); entretanto, os componentes “downstream” dessa via de sinalização não foram identificados. A caracterização da via de NIK, de resposta à infecção viral, é de grande importância para o entendimento bioquímico e molecular dessa interação patógeno-hopedeiro, pois o conhecimento detalhado dessas interações em nível molecular torna-se imprescindível para a produção de plantas transgênicas que eficientemente venham a conferir resistência à geminivírus.

 

 

 

 

Referências Bibliográficas:

 

ACH, R. A., DURFEE, T., MILLER, A. B., TARANTO, P., HANLEY-BOWDOIN, L., ZAMBRYSKI, P. C., GRUISSEM, W. RRB1 and RRB2 encode maize retinoblastoma-related proteins that interact with a plant D-type cyclin and geminivirus replication protein. Molecular Cell Biology, v.17, p.5077–5086, 1997.

 

CARVALHO, M. F., LAZAROWITZ, S. G. Interaction of the movement protein NSP and the Arabidopsis acetyltransferase AtNSI is necessary for Cabbage leaf curl geminivirus infection and pathogenicity. Journal of Virology, v.78, p.11161–11171, 2004.

 

COSTA, A.S. Three whitefly-transmitted virus diseases of beans in São Paulo, Brazil. FAO Plant Protection Bulletin, V13, p2-12. 1965.

 

FONTES, E. P. B., SANTOS, A.A., LUZ, D. F., WACLAWOVSKY, A. J., CHORY, J. The geminivirus nuclear shuttle protein is a virulence factor that suppresses transmembrane receptor kinase activity. Genes & Development, v.18, p.2545–2556, 2004.

 

 

GALVÃO, R.M.; MARIANO, A.C.; LUA, D.L.; ALFENAS, P.F.; ANDRADE, E.C.; ZERBINI, M.F.; ALMEIDA, M.R. FONTES, E.P.B. A naturally occuring recombinant DNA-A of a typical bipartite begomovirus does not require the cognate DNA-B to infect Nicotiana benthamiana systemically, Journal of General Virology, 2003.

 

HANLEY-BOWDOIN, L., SETTLAGA, S.B., OROZCO, B.M., NAGAR S., ROBERTSON, D. Geminoviruses models for plant DNA replication trascription, and cell cycle regulation. Critical Reviews in Plant Sciences, v.1, p.71-106, 1999.

 

MARIANO, A.C., ANDRADE, M.O., SANTOS, A.A., CAROLINO, S.M.B., OLIVEIRA, M.L., BARACAT-PEREIRA, M.C., BROMMONSHENKEL, S.H., FONTES, E.P.B. Identification of a novel receptor-like protein kinase that interacts with a geminivirus nuclear shuttle protein. Virology, v. 318, p. 24-31, 2004.

 

RYBICKI, E.P.; BRIDDON, R.W.; BROWN, J.K.; FAUQUET, C.M.; MAXWELL, D.P.; STANLEY, J.; HARRISON, B.D.; MARKHAM, P.G; BISARO, D.M.; ROBINSON,D. Family Geminiviridae. In Virus Taxonomy Seventh Report of the International Committee on Taxonomy of Viruses. Editado por Van Regenmortel, M.H.V.; et al., New yaork: Academic Press, p.285-297, 2000.