Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

MESA REDONDA

 

 

TEMA: Panorama do melhoramento genético animal no Brasil

MODERADOR: Robledo de Almeida Torres

 

            O melhoramento genético animal é uma ciência inerente ao próprio homem, pois a luta pela sobrevivência mostrou ao homem a necessidade de selecionar e domesticar alguns animais para mais facilmente obter deles o seu sustento. Com o evoluir dos tempos e com a evolução da genética, soluções têm auxiliado o homem a selecionar e promover melhoramento genético nas diferentes espécies, principalmente aves, suínos, bovinos, caprinos e ovinos; visando contribuir com animais mais produtivos e consequentemente mais alimentos à mesa do homem.

A avicultura é o exemplo mais marcante do sucesso obtido pelo progresso genético ao longo do processo de melhoramento sofrido pela espécie. Na década de 20 um frango demorava 120 dias para ser abatido com 1 kg de peso vivo, hoje atinge 2,3 kg em 42 dias. Da mesma forma, uma poedeira produzia 160 ovos em 80 semanas, hoje produz 330 no mesmo período. Uma comprovação da contribuição do melhoramento genético para o frango de corte é descrita por Havenstein et al (1994) em um estudo comparativo de linhagens da década de 50 com linhagens da década de 90 submetidas à mesmas condições de criação.

            Em suínos, as mudanças de exigência do mercado e a tecnologia disponível têm sido fatores preponderantes para o direcionamento histórico do melhoramento genético de suínos, indicando qual(is) característica(s) devem ser selecionadas. As grandes empresas de melhoramento de suínos possuem quase uma dezena de linhas, cada uma delas com distinta ênfase de seleção permitindo o desenvolvimento de produtos comerciais mais apropriados para cada segmento de mercado. O desenvolvimento acelerado de conhecimento da genética molecular e tecnologias de reprodução está dando origem a uma nova geração de tecnologias aplicadas ao melhoramento genético de suínos.

            No melhoramento de gado de leite no Brasil os programas de testes de progênie nas raças Gir, Guzerá, Girolando e Holandesa, são executados nos mesmos moldes do programa dos Estados Unidos. Na raça Gir o programa começou em 1985. São publicados anualmente resultados de avaliação genética para produção de leite, produção de gordura, proteína, lactose, extrato seco total e contagem de células somáticas do leite e as características do sistema de avaliação linear. Uma perspectiva é a descoberta e uso de marcadores moleculares para resistência a endo e ectoparasitas, principalmente o carrapato.

Os programas de melhoramento genético de bovinos de corte no Brasil passaram por várias fases, desde uma seleção estritamente baseada em características qualitativas, principalmente relacionadas à caracterização racial, até a aplicação de seleção para características de produção. A partir da década de oitenta, com a criação de diversos grupos de melhoramento, passou-se a utilizar critérios técnicos mais objetivos para seleção. O ganho genético obtido nos últimos anos é, predominantemente, devido à seleção de machos. No entanto, somente 5% das fêmeas de corte são inseminadas. Com a necessidade de se ajustar o binômio genótipo-ambiente, a produção de carne será fundamentada em mestiços e/ou em raças compostas formadas por animais resultantes do cruzamento Europeu-Zebu.

            Na ovinocultura, até recentemente, pouco tinha sido feito no sentido melhorar geneticamente as raças para produção de carne no Brasil. Dentre os fatores limitantes, destaca-se a supervalorização das avaliações subjetivas, a baixa adesão dos criadores, a falta de escrituração zootécnica e indefinição dos objetivos e critérios de seleção. Por outro lado, apesar das dificuldades, alguns trabalhos vêm sendo desenvolvidos visando melhoramento das raças produtoras de carne nas condições brasileiras. Dentre estes, pode-se citar a Associação de Criadores da Bahia que realizaram várias provas de ganho em peso de ovinos Santa Inês; a EMEPA-PB (Empresa de Pesquisa Agropecuária da Paraíba) criou o Programa de Avaliação de Desempenho de Ovinos Santa Inês; e a EMBRAPA Caprinos que criou o GENECOC (Programa de Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte), que está em andamento, apesar da baixa participação dos criadores.  

            A espécie caprina sofre de grande carência de iniciativas que promovam o melhoramento genético desses animais para produção de leite, carne e pele. As propostas de melhoramento de caprinos no Brasil tem-se baseado em avaliações subjetivas e na realização de cruzamentos entre raças naturalizadas (rústicas e menos produtivas) e exóticas (pouco adaptadas e muito produtivas), os quais são na maioria das vezes conduzidos de forma indiscriminada, o que tem levado ao risco de extinção de ecótipos naturalizados. Os fatores que contribuem para a escassez de programas consistentes de seleção são semelhantes aos encontrados para ovinos, conforme citado anteriormente, todavia existem alguns projetos em desenvolvimento. Para produção de carne, desta-se o GENECOC da EMBRAPA Caprinos e o desenvolvido pela EMEPA-PB; para produção de leite, tem-se o teste de progênie que é coordenado pela EMBRAPA Caprinos.         

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

FRIES, L. A.; FERRAZ, J. B. S. Beef cattle genetic programmes in Brazil. 8th World Congress on Genetic Applied to Livestock Production, August 13-18, 2006, Belo Horizonte, MG, Brasil.

HAVENSTEIN, G.B. et al. Carcass composition and yield of 1991 vs 1957 broilers when fed “typical” 1957 and 1991 broiler diets. Poultry Science, Savoy, v.73, p.1795-1804, 1994.

LOPES. P.S.; FREITAS, R.T.F.; FERREIRA, A.S. Melhoramento de suínos. UFV. 39 p. (Caderno Didático, 37). 1998.

MORAIS, O.R.O. Melhoramento genético dos ovinos no Brasil: Situação atual e perspectivas para o futuro. In: Simpósio da Sociedade Brasileira de melhoramento Animal. 3, 2000, Uberaba. Simpósio... Uberaba: Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal, 2000. p.266-272.

PEREIRA, J.C.C. Melhoramento Genético Aplicado à Produção Animal. 3. ed. - Belo Horizonte: FEPMVZ Editora, 2001, 555 p.

 

VALENTE, J.; DURÃES, M. C.; MARTINEZ, M. L.; TEIXEIRA, N. M.. Melhoramento genético de bovinos de leite. 1. ed. Brasília: Embrapa, 2001. v. 1. 300 p.

 

 

 

 

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Marcos Yamaki                     Leandro Barbosa                          Gustavo H. Souza

 

 

 

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Rachel Santos Bueno                  José Lindenberg R. Sarmento          Gilberto R. de O. Menezes

 

 

 

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Robledo de Almeida Torres

Moderador

 

Viçosa, 17 de maio de 2007