Universidade Federal de Viçosa

Programa de Pós Graduação em Genética e Melhoramento

                               

 

MESA REDONDA EM GENÉTICA E MELHORAMENTO

 

DEBATEDORES:                                                          ORIENTADOR:

Claudineia Barbosa de Lima                                                        Lúcio Antônio de Oliveira Campos              

Cristina Soares de Souza                                                 Fernando Luiz Finger                               

Helder Canto Resende                                                     Tânia Maria Fernandes Salomão

Magali Gonçalves Garcia                                                 Luiz Orlando de Oliveira

MODERADOR: Jorge A. Dergam

 

TÍTULO: GENÉTICA MOLECULAR APLICADA À CONSERVAÇÃO

 

O Brasil é o país mais rico em diversidade macro e microbiológica. Acredita-se que possua cerca de 20% de toda a biodiversidade existente no planeta. (Barbosa, 2001). A perda de população local e a subseqüente perda de área de ocupação para cada espécie resultam em perda da diversidade genética e redução do potencial evolutivo, características estas que são importantes para a adaptação das espécies frente a mudanças ambientais. Nas últimas décadas, as principais ameaças às formas de vida são: perda e fragmentação de habitat; introdução de espécies e doenças exóticas; exploração excessiva de espécies de plantas e animais; expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats; expansão urbana e industrial; contaminação do solo, água e atmosfera por poluentes e mudanças climáticas (O`Brien, 1994).

Importantes áreas para conservação são freqüentemente identificadas pelo número de espécies que elas contém, isto é, mensurando a riqueza de espécie. Esta abordagem atemporal fornece uma medida de riqueza mas não os processos históricos que geraram a diversidade e ainda não distingue populações e regiões com diferentes histórias evolutivas. Por sua vez, técnicas de genética molecular fornecem uma estimativa do número de formas distintas numa área, bem como medidas de quão diferentes elas são. Entre essas técnicas, as mais amplamente utilizadas têm sido as de medidas de diversidade genética, filogenia e filogeografia.

Geralmente, a diversidade genética tem sido estudada dentro de espécies, medindo tanto as diferenças entre indivíduos, quanto as diferenças entre populações naturais, que hoje muitas vezes estão separadas entre si pela perda e fragmentação dos habitats naturais. O conhecimento da diversidade genética é essencial para a manutenção das populações e das espécies em períodos ecológicos e evolutivos. Além de fornecer uma medida pela qual se pode estimar o valor das regiões para conservação. A diversidade genética é cada vez mais avaliada por métodos moleculares em que se examinam diferenças na constituição do DNA, RNA ou de determinadas proteínas entre os organismos ou populações. Este estudo é essencial para conservação biológica. Vários estudos de genética de populações têm servido de suporte para o desenvolvimento dos critérios de conservação.

A Filogenia, que é o estudo das relações evolutivas entre um grupo de indivíduos com o objetivo de determinar as relações ancestrais entre as espécies, é uma ferramenta robusta na conservação das mesmas. Entendendo-se a origem das espécies, pode-se auxiliar na conservação da biodiversidade pela comparação dos padrões atuais versos os padrões históricos de variação e ainda, os processos que geraram esses padrões (Purvis et al., 2005).

A filogeografia pode ser definida como um campo de estudo interessado nos princípios e processos que governam a distribuição geográfica de linhagens genealógicas, especialmente aquelas dentro e entre espécies relacionadas, através da constituição da genealogia de população e genes, que revelam como o padrão da distribuição presente tem sido moldado por eventos geológicos ou outros fatores. A filogeografia permite a detecção de áreas que apresentam indivíduos com os mesmo ou diferentes padrões genéticos.  Considerada uma ciência multidisciplinar, a filogeografia integra a genética molecular, genética de populações, etologia, demografia, filogenia, paleontologia e geologia (Avise, 2000). Essa ciência oferece maneiras de examinar a história da mudança genética entre populações, distinguindo padrões biogeográficos de variação genética causadas por fluxo gênico, daquelas provocadas por ancestrais comuns (Schaal et al. 1998). Vários estudos filogeográficos têm fornecido suporte para decisões conservacionistas através da análise da estrutura genética de populações e sua possível estruturação geográfica, da detecção e quantificação de eventos históricos e recentes de fluxo gênico discernindo seu papel na estruturação de populações, da verificação do papel histórico de barreiras geográficas na diversificação de espécies e da inferência de possíveis rotas de colonização em espécies vegetais (Barrowclough et al., 1999; Collevatti et al., 2003; Balakrishnan et al., 2003; Liao et al., 2007).

            Nesse contexto, a conservação das espécies cultivadas assume uma importância econômica. Borém & Miranda (2005) declaram que a agricultura sustentável, baseada nos aspectos econômicos, sociais e agroecológicos, executa e prioriza os diversos aspectos da seleção de plantas associados com a preservação do ambiente e da variabilidade genética, da interação com o homem e suas condições sociais, culturais e econômicas, tudo isso para aumentar a distribuição de riqueza e conhecimento, de forma ecologicamente responsável. Dois métodos prevalecem nas ações para a conservação de espécies vegetais, a conservação “ex-situ” que é a preservação de recursos genéticos fora do seu habitat natural, e inclui bancos de germoplasma, bancos de sementes, jardins botânicos, etc. Apresenta vantagens de fácil acesso aos recursos e preservação de espécies que ocorrem em áreas degradas que não oferecem mais condições para a manutenção destes recursos genéticos, entre outras vantagens. No entanto, esse tipo de conservação é uma amostragem e, portanto, apresentará perdas da biodiversidade, além de ser uma representação temporal, não amostrando a diversidade que surge no processo evolutivo após a coleta (Dhillon et al. 2004). A conservação “in-situ é a preservação dos recursos em seu local de ocorrência natural e inclui duas vertentes, a conservação em reservas genéticas (Unidades de conservação) e a preservação “on-farm. Essa estratégia de conservação “on-farm prevê a preservação das espécies em sistemas de cultivo agrícolas, paralelamente a espécies melhoradas, nas áreas de ocorrências naturais das espécies de interesse para a conservação, e tem a vantagem de permitir o acesso dos pesquisadores aos recursos genéticos em sua área de ocorrência natural, além de ser um laboratório que permite a evolução das espécies e suas relações ecológicas (Brush, 1999).

            O Programa de pós-graduação em genética e melhoramento da UFV tem contribuído significativamente à conservação da biodiversidade. Entre 1978 e 2007, 341 teses de mestrado foram defendidas no programa. Deste total, pelo menos 12% estão relacionadas à conservação. No período entre 1984 e 2007, 174 teses de doutorado foram defendidas, sendo que 11% relacionadas à conservação. A título de exemplo citamos o Banco de Germoplasma de Hortaliças, coordenado pelo Prof. Derly José Henrique Silva (Silva, 2001) e os trabalhos do Prof. Vicente Wagner Dias Casali, ambos atuando na área vegetal, principalmente com hortaliças. Citamos ainda as equipes dos professores Jorge Abdala Dergam que atua na preservação de peixes, aplicando principalmente a citogenética e a filogenia; Luiz Orlando de Oliveira aplicando a filogeografia para a preservação de plantas e a equipe dos professores Lucio A. de O. Campos, Tânia M. Fernandes Salomão e Mara Garcia Tavares aplicando as ferramentas da genética molecular na preservação de insetos sociais. Outros professores do programa também atuam no contexto da genética aplicada à conservação.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Avise, J.C. (2000). Phylogeography: the history and formation of species. Harvard Univ. Press, Cambridge.

BALAKRISHNAN, C.N.; MONFORT, S.L.; GAUR, A.; SINGH, L.; SORENSON, M.D. (2003). Phylogeography and conservation genetics of Eld’s deer (Cervus eldi). Molecular Ecology. v. 12, p 1-10.

BARBOSA, F. B. C. (2001). A biotecnologia e a conservação da biodiversidade Amazônica, sua inserção na política ambiental. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.18, n.2, p.69-94.

BARROWCLOUGH, G.F.; GUTIÉRREZ, R.J.; GROTH, J.G. (1999). Phylogeography of spotted owl (Strix occidentalis) populations based on mitochondrial DNA sequences: gene flow, genetic structure, and a novel biogeographic pattern. Evolution, v.53, n. 3, p. 919-931.

1         Brush, S. B. ed. (2000). Genes in the Field: on-farm conservation of crop diversity. International Plant Genetic Resources Institute, Rome, Italy. 238p.

COLLEVATTI, R.G.; GRATTAPAGLIA, D.; HAY, J.D. (2003). Evidences for multiple maternal lineages of Caryocar brasiliense populations in the Brazilian Cerrado based on the analysis of chloroplast DNA sequences and microsatellite haplotype variation. Mol. Ecol., v.12, n. 1, p. 105-115.

Dhillon B. S., Dua R. P., Brahmi P and Bisht I. S. (2004) On-farm conservation of plant genetic resources for food and agriculture. Current Science, v.87, n.5.

KNAPEN, D.; KNAEPKENS, G.; BERVOETS, L.; TAYLOR, M.I.; EENS, M.; VERHEYEN, E. (2003). Conservation units based on mitochondrial and nuclear DNA variation among European bullhead populations (Cottus gobio L., 1758) from Flanders, Belgium. Conservation Genetics.v. 4. p. 129–140.

LIAO, P.; HAVANOND, S.; HUANG, S. (2007). Phylogeography of Ceriops tagal (Rhizophoraceae) in Southeast Asia: the land barrier of the Malay Peninsula has caused population diferentiation between the Indian Ocean and South China Sea. Conservation Genetics. v. 8, p. 89-98.

MORITZ, C. (1994). Defining “evolutionarily significant units” for conservation. Trends in Ecology and Evolution. v.9, p.373-375.

O'BRIEN, SJ. (1994). A role for molecular genetics in biological conservation. Proc. Nati. Acad. Sci. USA, v. 91, p. 5748-5755.

PURVIS, A.; GILTTLEMAN, J.; BROOKS, T. (2005). Phylogeny and conservation. Cambridge University Press. New York. 431p.

SCHAAL, B.A.; HAYWORTH, D.A.; OLSEN, K.M.; RAUSCHER, J.T.; SMITH, W.A. (1998) Phylogeographic studies in plants: problems and prospects. Mol. Ecol., v.7, n. 4, p. 465-474.

SILVA, D.J.H.; MOURA, M.C.C.L.; CASALI, V.W.D. (2001) Recursos genéticos do banco de germoplasma de hortaliças da UFV: Histórico e expedições de coleta. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 19, n. 2, p. 108-114.

SMITH, T. B.; WAYNE, R. K. (1996). Molecular Genetic aprroaches in conservation. Oxford University Press. New York. 483p.

 

 

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    Claudineia Barbosa de Lima                                                  Lúcio A. O. Campos

               (Estudante)                                                                         (Orientador)

 

 

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      Cristina Soares de Souza                                                     Fernando Luiz Finger                               

                (Estudante)                                                           (Orientador)

           

 

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        Helder Canto Resende                                               Tânia Maria Fernandes Salomão

                (Estudante)                                                           (Orientador)

 

 

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         Magali Gonçalves Garcia                                                 Luiz Orlando de Oliveira

                 (Estudante)                                                                      (Orientador)

 

 

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                                                                 Jorge Abdala Dergam

                                                                       (Moderador)