UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO

 

MESA REDONDA

 

Prelecionistas: Carla Rosado, Marisângela R. Santos, Thiago Otávio, Wellington Gomes.

 

Moderador: Prof. Luiz Antônio dos Santos Dias

 

CADEIAS PRODUTIVAS DE AGROENERGIA

 

A demanda projetada de energia no mundo aumentará 1,7% ao ano, de 2000 a 2030, quando alcançará 15,3 bilhões tep (toneladas equivalentes de petróleo) por ano, de acordo com o cenário-base traçado pelo Instituto Internacional de Economia (MUSSA, 2003). Os combustíveis fósseis responderão por 90% do aumento projetado na demanda mundial, até 2030, se não ocorrerem alterações na matriz energética mundial. A importância da agroenergia para a matriz brasileira de combustíveis exige uma definição de objetivos estratégicos nacionais de médio e longo prazos, que levem a um pacto entre a sociedade e o Estado, para que juntos promovam os seguintes benefícios: a redução do uso de combustíveis fósseis; a ampliação da produção e do consumo de biocombustíveis; a proteção ao meio ambiente; o desfrute desse mercado internacional e, por fim, a contribuição para a inclusão social.

O Brasil é o país que mais avançou na tecnologia, na produção e no uso do etanol como combustível. A produção mundial de álcool aproxima-se dos 80 bilhões de litros, dos quais cerca de 65 bilhões de litros são utilizados para fins energéticos, sendo o Brasil responsável por 27,5 bilhões, quase 35% da produção mundial. Com o álcool combustível e a co-geração de eletricidade a partir do bagaço, a cana-de-açúcar é, hoje, a maior fonte de energia renovável do Brasil. Dos quase 7,5 milhões de hectares cultivados com cana no País, cerca de 85% estão na Região Centro-Sul, principalmente em São Paulo (60%), sendo os 15% restantes cultivados nas Regiões Norte e Nordeste. Na safra 2009, das cerca de 615 milhões de toneladas moídas, aproximadamente 55% foram destinadas à produção de álcool. O bagaço remanescente da moagem é queimado nas caldeiras das usinas, tornando-as auto-suficientes em energia. Apesar do enorme potencial para a co-geração a partir do aumento da eficiência energética das usinas, a geração de eletricidade é apenas uma das opções de uso do bagaço. Também estão em curso pesquisas para transformá-lo em álcool, via hidrólise lignocelulósica, em biodiesel, ou mesmo para o seu melhor aproveitamento pela indústria moveleira e a produção de ração animal. O investimento em pesquisa é a base para o desenvolvimento de tecnologias de produção agrícola, permitindo a identificação de plantas mais aptas, sistemas de produção mais eficientes e regiões com elevado potencial de produção. Novas tecnologias industriais representam a essência da transformação de produtos agrícolas em biocombustíveis.

Nas últimas duas décadas, houve avanço respeitável nas pesquisas relativas ao biodiesel. O produto pode ser obtido de óleos vegetais novos e residuais, de gorduras animais e de ácidos graxos oriundos do refino dos óleos vegetais, mediante processos tecnológicos. O Brasil dispõe de várias opções para a produção de óleos vegetais. O desafio é aproveitar ao máximo as potencialidades regionais e obter o maior benefício social da produção do biodiesel, aplicando a tecnologia tanto às culturas tradicionais – soja, amendoim, girassol, mamona e dendê –, quanto às novas – como pinhão-manso, nabo-forrageiro, pequi, buriti, macaúba e grande variedade de oleaginosas a serem exploradas. A longo prazo, para produzir a matéria-prima mais adequada em cada região e suficiente para atender à indústria de biodiesel de forma economicamente viável, impõe-se grande investimento em pesquisa, que deve buscar maior adensamento energético das espécies oleaginosas, passando o rendimento em óleo do nível atual de 600 kg/ha para 5.000 kg/ha. Paralelamente, a médio e longo prazos, a pesquisa deve buscar aumentar o teor de elementos energéticos (celulose, açúcar, amido, óleos, etc.) nas plantas oleaginosas atuais, e incorporar novas. A biotecnologia e o melhoramento genético tradicional terão papel relevante para atingir esses objetivos, mediante a pesquisa de novas variedades ou de organismos geneticamente modificados e a adaptação dos cultivos energéticos a diferentes condições agroecológicas.

No Brasil de acordo com dados do IBGE, a área total absoluta é de aproximadamente 851,4 milhões de hectares. Deste total, 477,7 milhões ha correspondem a florestas naturais e 5,98 milhões ha a florestas plantadas, sendo 3,75 milhões com eucalipto; 1,80 milhão com pinus e 425,2 mil de outras espécies, ocupando apenas 0,7% do território nacional. O volume de madeira atualmente consumido para energia é da ordem de 220 milhões de metros cúbicos anuais. O seu consumo anual como matéria-prima industrial atinge 142,7 milhões de metros cúbicos, compreendendo a produção de celulose e papel, serraria, chapas e painéis. Desse modo, 69% da madeira usada no Brasil tem destinação energética, o que representa o maior volume de madeira vinculada a um determinado uso no país. Plantios florestais contribuem há décadas com a matriz energética brasileira e o aprimoramento tecnológico possibilita a conversão da biomassa em energia e melhora a qualidade dos produtos florestais. Além disso, possibilita a geração de empregos, formação de mão-de-obra qualificada, aumento de renda, diminuição do efeito estufa, o seqüestro de carbono e a melhoria da qualidade do ar, da água e dos solos.

Diversos tipos de subprodutos de atividades agrícolas, agropecuárias, florestais, agroindustriais e urbanas, tais como cascas e outros resíduos lignocelulósicos, podem ser utilizados como combustíveis. O potencial nestes resíduos não é sempre bem conhecido, porém seguramente corresponde a volumes significativos de energia subaproveitada. Por outro lado, muitas vezes os resíduos constituem um problema de caráter ambiental e sua disposição final é de difícil solução, sendo o uso energético uma saída oportuna e viável, já que reduz seu volume e seu potencial contaminante.

Nas últimas décadas, a indústria dos agrocombustíveis vem se desenvolvendo a partir da combinação de diversos fatores que têm levado ao aumento da demanda por produtos agrícolas, gerando, assim, impactos significativos no sistema global de oferta de alimentos, em especial na segurança e soberania alimentar. Nesse ambiente, a discussão sobre os agrocombustíveis, segurança e soberania alimentar vem à tona em âmbito nacional e internacional.

 

 

 

 

 

 

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                              Carla Rosado                                           Marisângela R. Santos

                              (prelecionista)                                              (prelecionista)

 

 

 

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                              Thiago Otávio                                           Wellington Gomes

                              (prelecionista)                                              (prelecionista)

 

 

                                                       

                                      

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                                                   Prof. Luiz Antônio dos Santos Dias

                                                               (moderador)