Aluno:
Gustavo César Santana
Orientador:
Aluízio Borém
A videira é a frutífera perene de maior importância
econômica a nível mundial. No Brasil a viticultura ocupa uma área de
aproximadamente 76.370 ha (AGRIANUAL, 2009). Apesar de não figurar entre os
maiores produtores mundiais, o Brasil vem apresentando um crescente
desenvolvimento no setor, sendo que a produção de uvas sofreu um acréscimo de
aproximadamente 48,4% nos últimos 10 anos. Uma questão crucial para a produção
de mudas de videira com qualidade genética é a identificação acurada das
variedades a serem produzidas. No estado de Minas Gerais, a Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) possui uma série de genótipos de videira
mantidos em coleções no campo, dentre os quais se encontram as principais
variedades copa de viníferas, americanas e de porta-enxertos utilizados comercialmente no Brasil.
A videira tem sido cultivada a cerca de 5.000
anos e a prática da propagação vegetativa favoreceu a dispersão de muitas
variedades para diversas regiões do mundo (Fregoni
1991). Como consequência, algumas variedades possuem
atualmente mais de 100 sinônimos (diferentes nomes para a mesma variedade), e
vários homônimos (diferentes variedades com o mesmo nome)
(http://www.genres.de/idb/vitis/). A presença de sinônimos, homônimos, e
variedades sem nomes são problemas significativos nas coleções de videira
existentes no mundo. Deste modo, a identificação acurada dos acessos é um
requisito básico para o correto manejo e uso racional do germoplasma
de videira (This et al., 2004). No caso específico do germoplasma brasileiro de videira, a falta de conhecimento
sobre a diversidade genética existente tem constituído um entrave à utilização
e integração de outras formas de conservação de germoplasma (por exemplo, in vitro),
além de dificultar a produção e o gerenciamento das informações demandadas
pelos usuários.
A
identificação de variedades de videira é tradicionalmente realizada através da ampelografia, que se baseia na análise e comparação de
caracteres morfológicos de folhas, caules, cachos e frutos (IPGRI UPOV OIV,
1997; Galet, 2000). Entretanto, o número de
especialistas em ampelografia é cada vez menor e
existe uma série de restrições em relação a este método de identificação. Uma
vez que principalmente características de folhas completamente expandidas são
levadas em consideração na identificação baseada em caracteres morfológicos,
esse método só pode ser aplicado durante o período vegetativo de plantas
completamente desenvolvidas. Entretanto, o material vegetal utilizado para a
propagação da videira é obtido na forma de estacas lenhosas sem folhas, o que
torna a identificação do material propagativo quase impossível. Para superar
essas limitações da ampelografia, diversos tipos de
marcadores moleculares foram desenvolvidos para analisar, caracterizar e
identificar variedades de videira (This et al., 2004). Recentemente os
marcadores microssatélites, também conhecidos como
SSR (“Simple Sequence Repeats” – Repetições de Sequências
Simples), têm se tornado o tipo de marcador molecular mais utilizado para a
identificação de variedades de videira em todo o mundo (Sefc
et al., 2001; Laiadi et al., 2009; Meneghetti et al., 2009),
e suas características positivas têm permitido seu uso também no mapeamento genômico, reconstrução de genealogias, filogenia e análises
de diversidade genética (Coelho et al., 2009). Os objetivos desse trabalho foram a identificação genética (“DNA fingerprinting”)
e estudo da diversidade genética de variedades copa e de porta-enxerto de
videira cultivados no estado de Minas Gerais, utilizando marcadores moleculares
do tipo SSR, para dar suporte ao programa de certificação genética de mudas de
videira da EPAMIG.
Os 7 marcadores microssatélites
utilizados (VVMD7, VVMD25, VVMD27, VVMD32, VVS2, VRZag62 e VRZag79) permitiram
a diferenciação de 26 genótipos entre as 27 variedades analisadas. Foram
identificados 101 alelos com uma média de 14,43 alelos por locus, confirmando a eficiência
dos marcadores para a detecção de polimorfismos genéticos. A heterozigosidade esperada variou de 0,832
a 0,9205, com média 0,8873, enquanto a heterozigosidade
observada variou de 0,7692 a 1,000, com média 0,8943. O excesso de heterozigotos se explica pelo fato da seleção de
indivíduos superiores para qualidade e produtividade em videira ter sido
realizada precocemente durante o processo de melhoramento da cultura e
perpetuado pela multiplicação vegetativa. Além disso, a videira é sensível à
depressão endogâmica sendo as melhores performances
obtidas por indivíduos heterozigotos. Os loci que apresentaram os maiores
valores de conteúdo de informação polimórfica (PIC) foram VVS2 (0,92), VVMD27 (0,918) e VrZAG62 (0,918). Já os que apresentaram os menores
valores foram VVMD25 (0,832) e VrZAG79 (0,845).
Considerando os 7 loci analisados, a probabilidade
de identidade atingiu um valor relativamente baixo (1,27 x 10-12),
demonstrando uma grande eficiência dos loci utilizados para a diferenciação das variedades. O dendrograma agrupou corretamente a maioria das variedades
de acordo com o grau de similaridade (pedigree). Na análise das coordenadas
principais, o grupo formado pelas quatro variedades copa
americanas apresentou o maior nível de estruturação. Apesar de não ter
ocorrido uma clara estruturação em relação aos grupos das viníferas
e dos porta-enxertos, foi
possível notar uma tendência de agrupamento das variedades pertencentes ao
mesmo grupo.
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__________________ Aluízio Borém (Orientador)