Universidade Federal de Viçosa

Pós-Graduação em Genética e Melhoramento

FIT 798 – Seminário em Genética e Melhoramento

 

Seminário de Tese

 

Ferrugem Asiática da Soja: Identificação e Caracterização de Fontes de Resistência no Feijoeiro Comum (Phaseolus vulgaris L.)

 

Aluna: Suelen Nogueira Dessaune

Orientador: Prof. Everaldo Gonçalves de Barros

 

            Desde a sua constatação no Brasil, em 2001, a ferrugem asiática da soja (FAS), incitada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, tem ocasionado sérios prejuízos aos sojicultores. As perdas na safra 2007/2008 alcançaram 418,5 mil toneladas e o custo total para o controle da ferrugem foi de US$ 2,18 bilhões (Embrapa Soja, 2009). O controle químico com fungicidas é, até o momento, o principal método de controle da FAS. Entretanto, o uso de cultivares resistentes é mais indicado para esse fim, pois é mais efetivo, seguro e menos oneroso quando comparado ao controle químico. Um fator que tem dificultado bastante a identificação dessas cultivares é a alta severidade e variabilidade apresentada por P. pachyrhizi

O fungo P. pachyrhizi possui uma ampla gama de hospedeiros, o que pode representar um risco na produtividade de diversas outras culturas, além da soja. Um hospedeiro alternativo de P. pachyrhizi que merece destaque é o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.), que representa um alimento básico para a população mundial, sendo o Brasil, o maior produtor e consumidor desta leguminosa. Diversos trabalhos relataram a observação da FAS em genótipos de feijoeiro sob condições naturais de cultivo no Brasil, na África do Sul, nos Estados Unidos e na Argentina (DUPREEZ et al., 2005; PASTOR-CORRALES et al., 2007; LYNCH et al., 2006; IVANCOVICH et al., 2007). No futuro, esta doença poderá se tornar um problema também para a cultura do feijoeiro. Por isso, os objetivos deste trabalho foram caracterizar genótipos de feijão-comum, mantidos no BAGF/UFV, quanto à reação à FAS e determinar a herança da resistência no acesso PI 181996, que foi identificado neste e em outros trabalhos como uma potencial fonte de resistência. Além disso, outra meta foi analisar a ligação entre marcadores microssatélites (SSR) e o gene de resistência presente no acesso PI 181996.

Foram testados doze genótipos de feijoeiro quanto à reação a P. pachyrhizi. Dentre eles estão fontes de resistência a diversas doenças do feijoeiro; cultivares comerciais dos grupos carioca, preto e vermelho; e linhagens elites. Além disso, foram testados os acessos de soja PI 200492, PI 547878, PI 462312 e PI 459025, os quais apresentam os genes de resistência à FAS Rpp1, Rpp2, Rpp3 e Rpp4, respectivamente. Este experimento foi conduzido em delineamento inteiramente ao acaso (DIC) sendo que cada vaso representou uma repetição. Para a determinação da herança, foi obtida uma população F2 derivada do cruzamento entre o acesso PI 181996 e a cultivar US Pinto 111 (suscetível à FAS). Sementes de cada um dos genótipos e da população, bem como da cultivar de soja Conquista (testemunha suscetível), foram plantadas em casa de vegetação. Aproximadamente 15 dias após a semeadura, as plantas foram inoculadas com um isolado monopostular do patógeno, na concentração de 3,0 x 105 uredosporos/mL. As avaliações foram realizadas 13, 16 e 19 dias após a inoculação e os graus de reação ao patógeno foram determinados com base em uma escala desenvolvida por SOUZA et al. (2008). As análises estatísticas foram feitas com o auxílio do Programa Genes (CRUZ, 2006). Para o estudo com marcadores microssatélites, foi extraído o DNA dos indivíduos da população F2 e de seus genitores. A partir de indivíduos F2 foram montados dois bulks contrastantes, um resistente (R) e outro suscetível (S), que foram utilizados nas análises. No total, foram testados 173 primers SSR. Os produtos da amplificação foram separados em gel de poliacrilamida e visualizados após a coloração com nitrato de prata.

O resultado da ANOVA mostrou que existe diferença significativa entre os genótipos testados, com uma probabilidade de 0,0037%. O teste de Dunnett, que comparou a testemunha suscetível com os outros genótipos, mostrou que do total de 16 genótipos, 12 tiveram estatisticamente a mesma nota média de reação à FAS que a testemunha suscetível, sendo, por isso, considerados suscetíveis. Entre estes genótipos, estão os quatro acessos de soja possuidores dos genes Rpp1, Rpp2, Rpp3 e Rpp4. Esses dados confirmam resultados já reportados na literatura que a resistência anteriormente conferida por estes genes foi suplantada. Também foi considerada suscetível a cultivar US Pinto 111, que foi um dos genitores da população F2, usada no estudo de herança. Os outros 4 genótipos, com nota média estatisticamente diferente da testemunha, foram considerados resistentes. Dentre eles, está o acesso PI 181996.

De um total de 186 plantas F2 avaliadas, 136 foram consideradas resistentes e 50, suscetíveis. O teste do Qui-quadrado mostrou que o caráter “resistência à FAS no acesso de feijoeiro comum PI 181996” segue uma frequência de 3 plantas resistentes para 1 planta suscetível (3R:1S), com 55,34% de probabilidade. Este resultado indica que a herança deste caráter é monogênica dominante.

Dos 173 primers SSR testados, 43 foram polimórficos entre os genitores. Destes, 8 mantiveram o polimorfismo nos bulks R e S, mas quando testados em cada indivíduo R e S separadamente, nenhum deles segregou como o esperado, ou seja, não foi detectado nenhum marcador potencialmente ligado ao gene de resistência à FAS no acesso PI 181996. Serão necessários mais testes com diferentes primers SSR para encontrar potenciais marcas associadas a este gene. Estas informações são de grande importância para os programas de melhoramento, pois podem permitir, em trabalhos futuros, a rápida mobilização desse gene de resistência para cultivares comerciais de feijão-comum, minimizando danos futuros que a ferrugem da soja possa causar à cultura do feijoeiro.    

 

Referências:

 

CRUZ, C.D. (2006). GENES Vol I- Estatística Experimental e Matrizes. Viçosa: Editora UFV. 285p.

EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO. Disponível em: http://www.cnpso.embrapa.br/. Acesso em Setembro/2009

DUPREEZ, E.D., VAN-RIJ, N.C., LAWRANCE, K.F. (2005). First report of soybean rust caused by Phakopsora pachyrhizi on dry beans in South Africa.  Plant Disease, 89: 206.

PASTOR-CORRALES, M.A., SARTORATO, A., LIEBENBERG, M.M., DEL PELOSO, M.J., ARRAES PEREIRA, P.A., NUNES JUNIOR, J., DINIZ CAMPOS, H. (2007). Evaluation of common bean cultivars from The United States for their reaction to soybean rust under field conditions in Brazil and South Africa. Annual Report of Bean Improvement Cooperative, 50: 123-124.

IVANCOVICH, A.J., BOTTA, G., RIVADANEIRA, M., SAEIG, E., ERAZZÚ, L., GUILLIN, E. (2007). First report of soybean rust caused by Phakopsora pachyrhizi on Phaseolus spp. in Argentina. Plant Disease, 91: 111 (Abstract).

LYNCH, T.N., MAROIS, J.J., WRIGHT, D.L., HARMON, P.F., HARMON, C. L., MILES, M.R., HARTMAN, G.L. (2006). First report of soybean rust caused by Phakopsora pachyrhizi on Phaseolus species in the United States. Plant Disease, 90: 970 (Abstract).

SOUZA, T.L.P.O., DESSAUNE, S.N., MOREIRA, M.A., BARROS, E.G. (2008). Reaction of common bean lines to Phakopsora pachyrhizi in Brazil. Annual Report of Bean Improvement Cooperative, 51: 208-209.

 

 

                                                                                         Ciente,

 

 

     ______________________________                 _______________________________     

           Suelen Nogueira Dessaune                         Prof. Everaldo Gonçalves de Barros