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Vejamos agora as conseqüências de tudo quanto acabamos de dizer. Primeiramente concluímos que os esperantistas não são fantasistas, como parecem a muita gente que se intitula "sensata" e "prática", e que tudo julga superficialmente, sem reflexão lógica, tudo medindo pelo calibre da moda. Os esperantistas lutam por uma causa que não somente tem grandíssima importância para a humanidade, como nada tem de fantástica, e que mais cedo ou mais tarde tem de se efetuar e infalivelmente se efetuará, por maiores os ataques dos inertes, por mais zombarias dos "ajuizados". Tão indubitavelmente quanto a chegada da manhã após a noite é a introdução do Esperanto no uso comum para as comunicações internacionais, mais cedo ou mais tarde, depois de mais ou menos longo trabalho. Afirmamos isso corajosamente, não por assim querer, não por ter nisso esperança, mas porque as conclusões da simples lógica nos dizem que deve ser assim e que não poderá ser de outro modo. Talvez ainda por muito tempo os esperantistas tenham de batalhar, talvez por muito tempo qualquer bobo lhes atire pedras, lama e gracejos estúpidos, mas o que tem de vir mais cedo ou mais tarde virá. Os iniciadores do movimento esperantista quiçá não vivam até que sazonem os frutos de seu trabalho; irão talvez para o túmulo com o epíteto infamante de homens que se ocuparam de infantilidades; mas em troca do cálice amargo que hoje tragam da mão de seus contemporâneos, a posteridade lhes levantará monumentos e pronunciará seu nome com a mais sincera gratidão. Talvez ainda por muito tempo eles pareçam fracos aos olhos do mundo, e ainda muitas vezes sua causa pareça morta e para sempre sepultada: mas essa causa nunca morrerá, porque já chegou a um ponto em que nunca poderá morrer. A causa viverá e constantemente se fará lembrada; depois de cada período de silêncio, mesmo que ele dure dezenas de anos, virá nova animação; quando uns lutadores se cansarem, aparecerão mais cedo ou mais tarde novos combatentes cheios de energia, e assim irá o movimento até alcançar a meta final. Não vos entristeçais, pois, esperantistas, se homens insensatos ironicamente vos disserem que ainda sois muito poucos; não desanimeis se vossa causa andar lentamente. A questão não é de rapidez, mas de certeza. Muitas causas sem finalidade fulguraram rapidamente diante do mundo, mas também depressa caíram; uma causa boa e certa progride em geral muito devagar e com grandes obstáculos.

Para as cinco conclusões acima pedimos especial atenção de alguns esperantistas que trabalham pela idéia inconscientemente e por isso à mínima objeção dos adversários ficam indefesos e não sabem que responder, ou perdem a coragem. Todas essas conclusões apresentam o produto da lógica simples e severa. Por isso, se vos disserem: "O mundo não quer a vossa língua", respondei corajosamente: "Quer queira quer não, mais cedo ou mais tarde o mundo terá de aceitá-la, porque não pode ser de outro modo". Quando ouvirdes: "Dizem que apareceu uma nova língua; dizem que esta ou aquela sociedade científica ou congresso deseja escolher tal ou qual língua, ou criar uma nova", respondei com desassombro: "Todos esses boatos ou empreendimentos se fundam na mais absoluta incompreensão da essência e da história da idéia de uma língua internacional; tais tentativas não somente de indivíduos como também de associações inteiras, repetiram-se já muitas vezes, e todas as vezes terminaram e tinham de terminar no mais completo fiasco; língua internacional só pode ser o Esperanto, porque pelas leis da lógica e pela essência da questão não pode ser de outro modo."

Se vos disserem: "Este ou aquele esperantista ou sociedade esperantista, com um fervor demasiado grande, mas imprudente, deu um passo em falso e ridicularizou ou desacreditou com isso vossa causa", respondei: "A causa do Esperanto não depende de nenhuma pessoa ou sociedade, e nenhum homem com seus erros pessoais pode ter influência sobre a sorte dessa causa; o próprio autor do Esperanto não tem mais influência absolutamente nenhuma sobre a língua; porque o Esperanto já há muito se tornou uma cousa puramente pública."

Outra conseqüência de tudo o que dissemos acima é a seguinte: Se a escolha de uma língua internacional dependesse de algum congresso de representantes de diversos países, muito, muitíssimo tempo ainda teríamos provavelmente que esperar, e nenhum de nós poderia nada fazer nesse sentido. Mas se, como vimos acima, desde já podemos prever com plena certeza e precisão qual a língua que a sorte destinou para se tornar internacional, então a questão se transforma. Já não precisamos de esperar congressos; a meta está muito clara e cada um de nós pode encaminhar-se por si mesmo. Sem necessidade de olhar o que dizem ou fazem os outros, cada um de nós pode trazer uma pedra para a construção que cresce. Nenhuma pedra se perderá. Nenhum trabalhador aqui depende de outrem; cada um pode agir aparte em sua própria esfera, conforme suas forças, e quanto mais trabalhadores houver, tanto mais rapidamente será concluída a grande construção. Dirigimo-nos precisamente às diversas sociedades e congressos científicos. Sem olhar o que outros estejam fazendo, sem esperar que outros tomem a iniciativa, cada sociedade ou congresso tome decisões no sentido de adiantar pelo menos um passo à grande meta da humanidade.

 

 

Revisado: 19 de Abril de 1998.
Eduardo Andrade Coelho
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